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Lula encerra Cúpula da Amazônia cobrando do ‘mundo rico’ que cuide do povo que mora na floresta

Declaração aconteceu após uma reunião com autoridades presentes na Cúpula da Amazônia. Entre elas, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, República Democrática do Congo, do Congo e da Indonésia, que também têm grande parte do seu território coberto por matas úmidas
10/08/2023 | 12h24

No encerramento da Cúpula da Amazônia na quarta-feira (9), em Belém, durante pronunciamento à imprensa, o presidente Lula avisou que o Brasil vai para a COP28 com o objetivo de dizer ao mundo rico que, se quiser preservar efetivamente o que existe de floresta, é preciso colocar dinheiro não apenas para cuidar da copa da floresta, mas para cuidar do povo que mora lá embaixo, informou a reportagem do jornal Folha de S Paulo.

A declaração aconteceu após uma reunião com autoridades dos países amazônicos (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela), da República Democrática do Congo, do Congo e da Indonésia, que também têm grande parte do seu território coberto por matas úmidas, e de São Vicente e Granadinas, que preside a Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos).

Na lista de compromissos firmada pelos países, durante a Cúpula da Amazônia, está a criação da Aliança Amazônica de Combate ao Desmatamento, mas sem definir as metas em comum. Outro ponto controverso na cúpula foi a questão da exploração de petróleo na Amazônia. O tema vem gerando polêmica dentro do governo Lula especialmente pelo projeto de exploração do combustível fóssil que a Petrobras quer implementar na região da Foz do Amazonas.

A reportagem da Folha de S Paulo informa que Lula vai defender que os compromissos de financiamento climático assumidos pelos países ricos sejam cumpridos. Segundo o presidente da República, “não é o Brasil que precisa de dinheiro, não é a Colômbia que precisa de dinheiro, não é a Bolívia ou a Venezuela. É a natureza, que o desenvolvimento industrial, ao longo de 200 anos, poluiu e está precisando que [as nações desenvolvidas] paguem a sua parte agora para recompor parte daquilo que foi estragado”, disse.

Paralelamente à declaração do presidente, o governo federal publicou no início da tarde um comunicado conjunto que dá direção ao posicionamento de países florestais em negociações do clima e da biodiversidade da ONU.

Divulgado na Cúpula da Amazônia, texto cobra responsabilidade e compromissos dos países desenvolvidos

Fundo Amazônia, Cúpula da Amazônia, carbono, árvore

Cédito: Agência Brasil/ Marcelo Camargo

Intitulado “Unidos por nossas florestas”, o texto tem dez parágrafos. Quatro deles cobram responsabilidades dos países desenvolvidos, principalmente de cumprimento de promessas de financiamento e também de mitigação das mudanças climáticas.

Reafirmando uma posição compartilhada pelo bloco dos países em desenvolvimento, o texto menciona  “a necessidade dos países desenvolvidos de liderar e acelerar a descarbonização de suas economias”.

O texto reforça a cobrança dos US$ 100 bilhões anuais para o clima, que os países desenvolvidos haviam prometido desembolsar entre 2020 e 2025, mas ainda estão prestes a anunciar a concretização apenas da primeira remessa.

No mesmo parágrafo, o documento cita um compromisso anterior, com doações para o desenvolvimento, que deveriam corresponder a compromisso de financiamento para o desenvolvimento equivalente a 0,7% do rendimento nacional bruto.

A diferenciação entre o financiamento do desenvolvimento e da agenda climática é um pedido frequente dos países africanos nas negociações, com vistas a garantir, como o documento menciona, que os recursos para o clima sejam novos e adicionais, e não apenas uma nova etiqueta para o mesmo dinheiro.

O texto ainda cobra um compromisso conquistado no último ano, quando os países assinaram o novo Marco Global da Biodiversidade, que prevê US$ 200 bilhões anuais para a conservação da biodiversidade até 2030.

Outro recado ao bloco desenvolvido mira a União Europeia e repete a mensagem dada na Declaração de Belém, assinado na terça-feira (8) pelos países amazônicos: “condenamos a adoção de medidas para combater as mudanças climáticas e proteger o meio ambiente, incluindo as medidas unilaterais, que constituam um meio de discriminação arbitrária ou injustificável ou uma restrição disfarçada ao comércio internacional”, diz o texto do comunicado, em crítica às novas exigências feitas pelo bloco europeu para um acordo comercial com o Mercosul.

Em seu discurso, Lula reforçou este ponto, ao dizer que “medidas protecionistas mal disfarçadas de preocupação ambiental” por parte dos países ricos não são o caminho a seguir.

O texto também menciona que a cooperação internacional é uma via eficaz para apoiar o “compromisso soberano de redução das causas do desmatamento e da degradação florestal”.

Ao anunciar o compromisso dos países signatários com a conservação de suas florestas e o combate ao desmatamento, o texto cita a busca de uma “transição ecológica justa”, emplacando uma visão de conservação aliada ao desenvolvimento econômico –um dos alvos de disparidade entre o posicionamento dos blocos desenvolvidos e aqueles em desenvolvimento nas negociações de clima e biodiversidade. Países ricos veem com desconfiança propostas de desenvolvimento sustentável e bioeconomia em áreas protegidas.

O comunicado afirma que os países signatários estão “convencidos de que nossas florestas podem ser centros de desenvolvimento sustentável e produtoras de soluções para os desafios de sustentabilidade nacionais e globais, conciliando prosperidade econômica com proteção ambiental e bem-estar social”.

O texto é assinado pelos oito países-membros da OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica), pelo país caribenho São Vicente e Granadinas, pela República do Congo e ainda pelos dois países com os quais o Brasil já tinha uma formado, no último ano, uma aliança pelas florestas: Indonésia e República Democrática do Congo.

Com a ideia de testar a formação de um bloco de negociação de países florestais, vencendo diferenças históricas na abordagem dos países sobre o tema, o documento convida outras nações ao diálogo e toma nota de outras iniciativas, como o plano da República do Congo de sediar uma Cúpula das Três Bacias dos Ecossistemas da Biodiversidade e Florestais.

Redação ICL Economia
Com informações do jornal Folha de S Paulo 

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