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Meio Ambiente

Incêndios e estiagem não devem afetar atividade econômica, mas já impactam preços de alimentos

Eventos climáticos já afetam produção e preços de produtos como açúcar, feijão, laranja, carne, entre outros.
10/09/2024 | 12h08

Ao menos por enquanto, os incêndios que assolam algumas áreas do Brasil e a forte estiagem não devem afetar a atividade econômica de forma ampla e, consequentemente, o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), segundo avaliação do Ministério da Fazenda. Por outro lado, a maior seca dos últimos 44 anos e os milhares de focos de incêndios espalhados pelo país já estão impactando os preços dos alimentos e a situação deve piorar nos próximos meses.

A seca também já afeta o escoamento de produtos da Zona Franca de Manaus (ZFM) devido ao nível dos rios, que está baixo e dificulta a navegação.

Técnicos do governo têm monitorado os efeitos da seca “há um tempo”, mas, até agora, não indicaram “nada de alarmante”, segundo uma fonte da equipe econômica disse à reportagem do Valor Econômico. De acordo com a fonte, possíveis efeitos dependerão, por exemplo, da “extensão” da seca ou “se ela impactará a produção de energia”.

No caso dos alimentos, já há impactos nos preços do açúcar, suco de laranja, carnes, leites e derivados, entre outros.

Somente no estado de São Paulo, os incêndios dos últimos dias em áreas da agricultura já causaram prejuízos da ordem de R$ 800 milhões a cerca de 100 mil hectares de canaviais, segundo o último balanço da Orplana (Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil).

Incêndios e estiagem já afetam preços de produtos. Saiba quais

Açúcar cristal e refinado: Dados da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios da Universidade Federal de São Paulo (Eppen/Unifesp) mostram que o produto, na forma bruta, teve alta de 2,36% em média na semana passada. O mercado interno equivale a 25% do consumo e o restante (75%) vai para a exportação. O Brasil é maior produtor de cana-de-açúcar do mundo e lidera as exportações globais no segmento sucroalcooleiro. Somente neste ano, as exportações de açúcar de cana bruto registram mais de U$ 8,69 bilhões.

Etanol: A expectativa também é de alta de 10%. Projeção do Goldman Sachs vê riscos de que o volume de cana-de-açúcar processada para álcool também seja menor nos próximos anos, devido à seca no período entressafra e queimadas. Os preços de etanol devem subir 10% até o fim da safra de 2024/2025, que termina em março.

Feijão: Estimativa da Eppen/Unifesp prevê que a alta da leguminosa chegará a 40% até o final do ano no atacado e, consequentemente, no varejo. Porém, a instituição acredita que não haverá falta do produto nas prateleiras.

Laranja: Análise feita pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), divulgada em reportagem do UOL, afirma que é preciso considerar o panorama internacional para o suco, uma vez que o Brasil é o maior produtor do mundo da fruta e de suco e os estoques estão baixos. A tendência é de demanda forte, mas a safra prevista será baixa, o que tende a diminuir a oferta e, consequentemente, o preço do produto.

Melancia: A produção de melancia também pode ser bastante afetada em São Paulo e em Goiás. Embora seja uma fruta que bem o calor, os extremos climáticos fazem com que a fruta perca a qualidade.

Banana: A fruta já está mais cara por causa da baixa quantidade produzida, comportamento normal para o período do ano, em entressafra em diversos locais. No entanto, a alta foi acentuada e continua sendo afetada pela irregularidade da chuva, que provocou estresse hídrico e prejudicou os bananais e o desenvolvimento dos cachos.

Hortaliças: Costumam ter preços em queda no período de seca. Mas, conforme a Conab, a prolongada ausência de chuvas pode prejudicar as lavouras que não possuem sistema de irrigação. Especial atenção à cenoura e ao tomate, produtos mais suscetíveis ao clima e que já têm ciclos de alta e quedas constantes.

Carne: O preço da arroba do boi gordo no atacado deve subir 2,47%. No varejo, ainda não há previsão, segundo a Eppen/Unifesp. O pasto seco está obrigando os pecuaristas a complementarem a alimentação do gado com mais ração. Outros produtos de origem animal também devem ser impactados, como leite e seus derivados.

Recuperação do solo pode levar até 3 anos

A recuperação do solo pode levar cerca de três anos, com custos elevados para os produtores. “Porém, o manejo adequado do solo, aplicando boas técnicas, pode trazer benefícios no combate às mudanças climáticas nos próximos anos”, disse o pesquisador Alberto Bernardi, da Embrapa Pecuária Sudeste e especialista em solos.

Conforme dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o Brasil registrou 68.635 focos de queimadas em agosto de 2024, o que corresponde a uma alta de 144% em relação ao mesmo período de 2023, quando o país registrou 28.056 focos de incêndio.

As regiões Centro-Oeste e Norte do país lideram os focos de queimadas em agosto deste ano. O resultado está entre os cinco piores da história. Os municípios mais afetados são Corumbá (Mato Grosso do Sul), São Félix do Xingu (Pará), Apuí (Amazonas), Novo Progresso (Pará) e Altamira (Pará).

Entre os biomas, a região amazônica representa 55,8% dos registros. Ela é seguida do cerrado com 27,1%, mata atlântica com 8,8%, pantanal com 6,4%, caatinga com 1,8% e Pampa com 0,1% dos focos.

Parte do problema é efeito da passagem do El Niño e da La Niña. No primeiro semestre deste ano o El Niño mostrou toda a sua força com o aumento das chuvas no Sul, mais precisamente no Rio Grande do Sul. Agora é a vez da La Niña se pronunciar nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte. Mas também há reflexos de eventos extremos cada vez mais frequentes.

A ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança Climática) também alertou para o fato de que incêndios podem ser promovidos por ação organizada de criminosos.

Ar em São Paulo

Ontem (9), a região metropolitana de São Paulo registrou a pior qualidade do ar entre as maiores metrópoles do mundo, segundo o site suíço IQAir.

A capital paulista registrou 160 no índice usado pelo site, a pior marca entre as cidades monitoradas. Ho Chi Minh (Vietnã), Lahore (Paquistão), Jerusalém (Israel) e Doha (Catar) completam a lista das cinco metrópoles com a pior qualidade do ar ontem.

Segundo a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), a maioria das estações de medição na capital paulista registrava qualidade do ar entre ruim e muito ruim ontem de manhã.

Redação ICL Economia
Com informações do Valor Econômico e UOL

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