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Em julho, 47,3% dos reajustes salariais ficaram abaixo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), segundo boletim divulgado pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). No levantamento, o órgão comparou as alterações nas folhas de pagamento à média de 12 meses do índice de inflação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Dos reajustes registrados no Mediador do Dieese até 10 de agosto, 31,8% resultaram em ganhos acima da inflação de 12 meses do INPC. Já os reajustes iguais a esse índice foram observados em 20,8% dos casos. 

Segundo o economista do ICL André Campedelli, o resultado das negociações salariais continua mostrando a fragilidade dos trabalhadores após a reforma trabalhista. “Boa parte das pessoas consegue somente recompor as perdas salariais, sendo que quase metade dos trabalhadores tem perda real de seu salário após o reajuste, ou seja, não conseguem recompor sua renda nem pelo nível de inflação passada. Com empregos de pior qualidade e cada vez menos organizados em sindicatos e organizações trabalhistas, fica difícil uma negociação justa com os empregadores, o que resulta nessa situação continua de perda de poder de compra do salário”, afirma Campedelli.

A alta inflação do país acaba também prejudicando o poder de barganha dos trabalhadores, sendo difícil conseguir um reajuste do salário mais elevado. Esse quadro piora o cenário já prejudicado com a reforma trabalhista do governo de Michel Temer, que desfinanciou os sindicatos, fragilizando a representatividade e proteção aos trabalhadores nas negociações dos reajustes salariais. 

Ao analisar a diferença dos reajustes salariais por regiões e por setores econômicos, o Dieese concluiu que os trabalhadores cujos salários tiveram os menores reajustes no acumulado do ano até julho foram os do setor de serviços, com 52,6% ficando abaixo do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor). Reajustes iguais ou acima do índice inflacionário foram mais frequentes no comércio (69,6%). Na indústria, o percentual chegou a 65%.

De norte a sul do Brasil, diferenças acentuadas foram observadas nas variações dos reajustes salariais. No centro-oeste, só 32% tiveram reajuste igual ou acima do INPC. Já no sul, este número foi de 74,6%. O sudeste também seguiu com melhores resultados em relação às demais regiões, com 55,1% dos salários reajustados com porcentagens iguais ou superiores à inflação do mesmo período (entre janeiro e julho de 2022).

A deflação de 0,6% registrada para o INPC do mês de julho impactou na porcentagem do reajuste necessário para “zerar” a inflação, ou seja, quanto os pagamentos devem aumentar para que fiquem equiparados com a alta de preços. Em julho, o índice estava em 11,92%; em agosto, caiu para 10,12%, após chegar a 12,47% em maio deste ano.

No acumulado de 2022, análise dos resultados dos reajustes salarias do INPC, 35,4% tiveram valores iguais a esse índice e 43,9% não repuseram nem a inflação. Em maio, a fatia de 54,4% dos trabalhadores no Brasil  teve reajuste do salário abaixo da inflação.

A variação real média de todos os reajustes no ano é de menos 0,84%. Considerando apenas as negociações com aumento real (reajustes acima do INPC), a variação real média foi de 0,59%. Já analisando somente as negociações com reajustes abaixo da inflação, a variação real média foi de menos 2,19%.

A variação real média dos reajustes salariais de julho (média simples das variações reais de cada reajuste na data-base) foi negativa: menos 1,10%. Considerando apenas os reajustes com ganhos acima do INPC, a variação real em julho foi de 0,39%. Levando-se em conta só resultados abaixo desse índice, a variação real foi de menos 2,57%.

No setor industrial, pode-se observar maior percentual de reajustes salariais com aumentos reais (26,9%), ou seja, acima da inflação

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Crédito: Envato

Na indústria, o percentual de resultados iguais e acima da inflação (65%) é um pouco inferior ao observado no comércio (69,6%), mas é no setor industrial em que se nota o maior percentual de reajustes com aumentos reais (26,9%). 

As negociações realizadas pelas categorias do sul e sudeste seguem com resultados melhores do que os observados nas demais regiões, em 2022. No sul, em especial, 74,6% dos reajustes foram em valores iguais ou superiores à inflação. No polo oposto, o centro-oeste apresenta, até o momento, reajustes iguais e acima do INPC em apenas 32% dos casos.

As convenções coletivas (negociações por categoria) registram, no conjunto, resultados melhores do que os acordos coletivos (negociações por empresas). Cerca de 63% das convenções, diante de 52% dos acordos, conseguiram reajustes em valores iguais ou superiores ao INPC.

No acumulado até julho de 2022, o valor médio dos pisos de entrada é de R$ 1.513,27; e o valor mediano, de R$ 1.415,17. O maior valor médio pertence ao segmento de serviços (R$ 1.527,23); e o menor, ao setor rural (R$ 1.471,97). Em relação aos valores medianos, o maior é observado na indústria (R$ 1.455,34); e o menor, no de serviços (R$ 1.399,83).

No recorte geográfico, os maiores pisos salariais médios e medianos seguem na região sul (respectivamente R$ 1.578,41 e R$ 1.547,07); e os menores, no nordeste (respectivamente R$ 1.371,34 e R$ 1.265,12).

Redação ICL Economia
Com informações do Dieese e das agências de notícias



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