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Em entrevista, Paulo Guedes afirma: “a direita também é danada, gosta de um orçamentozinho”

Ao podcast Flow, ministro fala de teto de gastos, volta a repetir que a economia vai bem e dispara críticas a Henrique Meirelles, Maílson da Nóbrega e Celso Pastore e sugere privatizar praias
28/09/2022 | 12h34

O ministro da Economia, Paulo Guedes, que tem atuado como cabo eleitoral do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, cometeu uma espécie de ato falho durante entrevista a um podcast, ao afirmar que a “direita também é danada”, pois  gosta de privilégios dentro do Orçamento. O reconhecimento aconteceu durante uma crítica às políticas da esquerda.

A frase completa de Guedes ao podcast Flow, veiculada ontem (27), foi a seguinte: “A direita também é danada, gosta de um orçamentozinho para encostar lá e puxar favores e privilégios para eles mesmos”, afirmou o ministro, sem especificar de quais favores e privilégios estava falando.

Foi no governo Bolsonaro que se instituiu uma aberração chamada orçamento secreto ou emendas de relator, uma espécie de barganha pela qual o presidente destina verbas a parlamentares da base aliada em troca de apoio político, sem respeitar os princípios da transparência e da distribuição igualitária. Só no Orçamento de 2023, estão previstos R$ 19 bilhões ao orçamento secreto, mecanismo que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pretende acabar se for eleito.

Para beneficiar o orçamento secreto, o governo retirou recursos de áreas importantes, como os programas Farmácia Popular e Mais Médicos, além do Alimenta Brasil, iniciativa essencial neste momento em que o país tem 33 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar grave.

A declaração de Paulo Guedes ocorreu no momento em que ele fazia críticas às políticas de esquerda, ao dizer que a esquerda atrai o eleitor brasileiro “porque promete o céu, mas entrega o inferno”. Há cerca de duas semanas, ele já havia usado figura de linguagem similar ao associar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao “capeta”.

Cabo eleitoral de Bolsonaro, Paulo Guedes imitou o chefe ao dizer que não existe gente passando fome no país

O ministro tem sido usado como cabo eleitoral de Bolsonaro. Em participações em eventos e entrevistas, Guedes chegou a afirmar algumas vezes que “economia está bombando” e que também não há gente passando fome no país.

Em entrevista recente à Voz do Brasil, Guedes disse que o país está crescendo, gerando empregos e atraindo investimentos. Sem citar o PT, ele também usou o espaço para criticar governos anteriores. “Antigamente era só o governo que investia. E o governo foi quebrado por administrações anteriores, as estatais estavam quebradas, fundos de pensão quebrados, bancos públicos com recursos [apenas] para grandes empresas, ao invés de cuidar do pequeno e médio [empreendedor]”, disse.

Dias depois, em evento do setor automotivo em São Paulo, ele negou que existam famintos no país. “Isso são fatos econômicos, não adianta. A tática política é de barulho: 33 milhões de pessoas passando fome. É mentira, é falso. Não são esses os números.” Porém, Guedes não disse quais seriam os números corretos, na avaliação dele.

Ao podcast Flow, o ministro fez uma declaração esdrúxula a respeito de ser de esquerda e direita: “Eu até dizia o seguinte para um jovem que eu estava ajudando na política antes de ajudar o presidente Bolsonaro. Se perguntarem se você é direita ou esquerda, fala assim: minha geração caminha com as duas pernas, vou ter a generosidade, a fraternidade que a esquerda finge que tem — porque, na verdade, quando estão no poder, [pratica] desvio de recursos, corrupção, acaba o crescimento econômico — e, ao mesmo tempo, vamos usar economia de mercado”, disse.

Depois, o ministro elencou o que “também são os defeitos da direita”, mencionando os favores e privilégios para os políticos desse espectro ideológico.

No entanto, o principal alvo do ministro foi a esquerda. “Um país que teve 30 anos seguidos de esquerda no comando, pelo amor de Deus, dá para ser tolerante? Ter um pouco de paciência com um governo que em quatro anos teve que enfrentar dois anos e meio de Covid. Dá pelo menos para ser justo com a gente?”, questionou.

Na entrevista, ele voltou a dizer o que sempre diz: que o teto de gastos, regra fiscal que limita o crescimento das despesas à variação da inflação, foi “mal construído”. “Imagina uma casa com teto sem parede. Ou seja, o teto vai cair na sua cabeça. Parece o Vinicius de Moraes, ‘era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada'”, comparou.

Também aproveitou o momento para atacar colegas que o criticaram, como o ex-ministro Maílson da Nóbrega (1987 a 1990). Na entrevista, Guedes falou que a inflação do ex-ministro chegou a 5.000% e, por isso, ele teria que sumir do debate público e se esconder “debaixo do tapete”.

Sobre Affonso Celso Pastore (presidente do Banco Central no regime militar), Guedes disse para não tentar “limpar seu passado” e que “envelheça com dignidade”. “Você trabalhou para um ditador. Não encha meu saco, estou trabalhando para um presidente eleito com 60 milhões de votos”, criticou.

Outro criticado por ele foi  Henrique Meirelles, que presidiu o Banco Central no governo Lula e foi ministro da Fazenda de Michel Temer. Guedes disse que Meirelles trabalha para qualquer um e que “nem economista é, fez um teto [de gastos] sem paredes”.

A coleção de pérolas ditas por Guedes ao Flow ainda inclui a sugestão de privatizar as praias brasileiras

Guedes, durante a entrevista ao Flow, ainda sugeriu a venda de praias brasileiras por US$ 1 bilhão. Segundo o ministro, a impossibilidade de vender as praias é um exemplo de “má gestão” brasileira.

“O caso do Brasil é um caso clássico de má gestão. Tem trilhões de artigos mal usadas. Por exemplo, tem um grupo de fora que quer comprar uma praia numa região importante do Brasil e quer pagar US$ 1 bilhão. Aí você chega lá e pergunta: vem cá, vamos fazer um leilão dessa praia? Não, não pode, isso é da Marinha. E quanto a gente recebe por isso? Não, a gente pinta lá o quartel deles uma vez por ano. É muito mal gerido o troço. Não é de ninguém,, quando é do governo não é de ninguém”, disse o ministro.

Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S.Paulo

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