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Aumento da pobreza no Brasil tem forçado mais pessoas das classes C, D e E a recorrerem a empréstimos para comer e pagar contas

Entre 45 e 50% da população nos estratos sociais mais pobres disseram que solicitaram ou solicitariam créditos bancários para comprar comida e pagar dívidas. Percentual cai para 30% nas classes A e B
28/11/2022 | 12h24

O aumento da pobreza no Brasil nos últimos quatro anos levou a maioria dos brasileiros das classes C, D e E a recorrer a empréstimos para conseguirem comer e pagar as contas básicas. É o que mostra pesquisa do instituto Plano CDE. Nos últimos meses, entre 45 e 50% da população nesses estratos sociais disseram que solicitaram ou solicitariam créditos a familiares, amigos e bancos digitais, principalmente, para essas finalidades, o que denota a dificuldade que essas faixas populacionais estão encontrando, apesar do Auxílio Brasil, para viverem com o mínimo de dignidade.

De acordo com o estudo divulgado pela Folha de S.Paulo,  nas classes A e B, o percentual cai para 30% entre os que disseram que recorreram ou recorreriam a empréstimos para comer e pagar contas. Ainda segundo a pesquisa, em todas as classes sociais, 42% afirmaram ter alguma dívida em atraso.

O diretor do Plano CDE, Maurício Prado, afirmou ao jornal que “salta aos olhos essa questão da necessidade dos empréstimos para comprar comida, indicando a situação grave que uma série de famílias enfrenta atualmente”. Ou seja, essa situação impõe uma série de desafios ao governo eleito, que tem buscado meios de encontrar brechas no Orçamento de 2023, para manter o Auxílio Brasil, que vai voltar a se chamar Bolsa Família, em R$ 600. Mas somente isso pode não bastar.

Segundo o Mapa da Nova Pobreza, elaborado pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), de 2019, primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro (PL) até 2021, a pobreza aumentou no país. O total de pessoas com renda domiciliar per capita até R$ 497 mensais atingiu 62,9 milhões de brasileiros em 2021, cerca de 29,6% da população total do país. Em 2021, este número correspondia a 9,6 milhões de pessoas a mais que em 2019.

Devido ao cenário atual, o diretor do Plano CDE enfatizou que o empréstimo consignado do Auxílio Brasil, uma excrescência implementada por Bolsonaro e muito criticada por especialistas, requer ainda mais atenção, para não ajudar a tornar ainda mais a bola de neve dos endividados brasileiros, aumentando a pobreza no país. “O consignado do Auxílio Brasil só vai fazer com que as famílias se enrolem ainda mais”, frisou ele à reportagem da Folha.

O instituto considerou para definir as classes D e E domicílios com renda familiar de até R$ 2.000. Na C2, o intervalo vai de R$ 2.000 até R$ 3.000, e de R$ 3.000 até R$ 6.000 na C1. A AB é formada por lares com renda familiar acima de R$ 6.000.

A pesquisa ouviu 2.370 pessoas maiores de 18 anos de todas as classes sociais, entre 26 de julho e 9 de agosto de 2022, em todo o território nacional.

Baixo crescimento econômico, inflação alta e mercado de trabalho precarizado contribuíram para o aumento da pobreza no país

A pesquisa mostrou que, no ano passado, cerca de 50% das famílias tomaram algum tipo de empréstimo. Familiares e amigos foram a principal fonte para a busca dos recursos entre os mais pobres, seguidas pelos bancos digitais e tradicionais.

Á Folha de S.Paulo, o coordenador do Centro de Estudos em Microfinanças e Inclusão Financeira da FGV, Lauro Gonzalez, disse que a combinação do crescimento econômico baixo, desde meados de 2014, com inflação alta e mercado de trabalho precarizado faz com que o crédito seja cada vez mais utilizado como um complemento à renda da população mais pobre. “E o crédito como complemento de renda é um caminho quase certo para o superendividamento e aumento da pobreza”, afirmou o especialista.

A propósito, o levantamento do Plano CDE mostra ainda que 50% dos participantes das classes D e E já tiveram de reduzir a compra de comida para pagar uma dívida.

Outras opções encontradas para pagar dívidas foi aumentar a carga de trabalho, com horas extras, bicos e trabalhos temporários, além da venda de bens, como carro, móveis e eletrodomésticos.

A pesquisa também trouxe outras informações sobre o perfil econômico dessas faixas populacionais, como a recente bancarização. Cerca de 20% dos entrevistados fazem “alto uso” das contas bancárias (mais de uma vez por mês) há menos de dois anos, sendo cerca de 80% deles da população C, D e E.

A maior parte da população recém bancarizada é formada por mulheres (62%), 50% são negros e quase a metade desse público (49%) se vale das novas instituições financeiras digitais como o principal banco para acessar os serviços financeiros, entre os quais se destaca o Nubank.

A instituição digital aparece à frente até mesmo dos grandes bancos, como a Caixa, que sempre teve mais apelo nesses estratos sociais.

Redação ICL Economia
Com informações da Folha de S. Paulo

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