O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participou de audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, na manhã desta terça-feira (25), ocasião em que insistiu no argumento de que manter a taxa básica de juros (Selic) no patamar atual é necessário para controlar a inflação. Aos senadores, Campos Neto disse que o Brasil teria “inflação de 10% [ao ano] e Selic de 18,75% se não tivesse elevado juros em ano eleitoral”.
Atualmente em 13,75% ao ano, a taxa básica de juros está em seu maior nível em seis anos. A ferramenta tem sido criticada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), membros de seu governo, empresários e economistas gabaritados, como o Nobel de Economia, Joseph Stiglitz. Para ele, a estratégia usada por bancos centrais ao redor do mundo, de aumentar os juros para frear a escalada da inflação, faz mais mal do que bem. No caso brasileiro, Stiglitz disse que a taxa no atual patamar coloca o Brasil em desvantagem competitiva e estrangula as empresas.
Nem assim Campos Neto cede. Ele adotou o mantra porque no fundo sabe que a autoridade monetária criou uma armadilha da qual não consegue sair. Em março, por exemplo, a inflação registrou queda. Em evento da XP Investimentos em Washington, ele comparou a Selic a uma dosagem de antibiótico e disse que ainda não é hora de reduzir os juros no Brasil.
Hoje, no Senado, ele justificou o percentual da Selic dizendo que a autoridade monetária age de forma técnica. “Nunca na história desse país, nem na história do mundo, foi feito um movimento de alta dos juros em um período eleitoral. O que mostra que o BC entendeu que a inflação ia subir, antes de grande parte dos outros países. O BC do país foi um dos primeiros a subir os juros”, declarou.
A elevação da taxa de juros foi interrompida em setembro do ano passado. Segundo ele, se o Banco Central tivesse parado de subir os juros no ano passado, durante as eleições, a inflação teria sido de 10% em 2022, e não 5,8%, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
“E hoje, para controlar a inflação e a expectativa do ano que vem, teríamos que ter juros de 18,75% [ao ano]. Se não tivéssemos [elevado a Selic], a inflação ia contaminar e subir bastante. O BC atuou de forma autônoma”, insistiu.
A senadores, Roberto Campos Neto volta a citar o alto volume do chamado crédito direcionado
O presidente do BC voltou a citar, na audiência de hoje, o alto volume do chamado crédito direcionado, a maior parte com juros subsidiados, para explicar por que os juros são altos no Brasil. E exemplificou, novamente, citando a teoria da “meia-entrada no cinema”.
Em uma fala recente em um evento, ele fez a mesma comparação. “No crédito direcionado, a gente pode fazer a análise do cinema que vende a meia-entrada. Se eu vendo muita meia-entrada e quero ter o mesmo lucro, a entrada inteira eu tenho que subir o preço. O crédito funciona um pouco assim”, afirmou Campos Neto na ocasião.
Para definir o nível dos juros, o Banco Central se baseia no sistema de metas de inflação, mecanismo que também foi criticado pelo presidente Lula. Em entrevista ontem (24), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, acenou com a possibilidade de mudanças no sistema de metas, com base em estudo feito pelo próprio BC.
Neste momento, o BC já está ajustando a taxa Selic para tentar atingir a meta de inflação do próximo ano, uma vez que as decisões sobre juros demoram de seis a 18 meses para terem impacto pleno na economia.
A meta de inflação para este ano é de 3,25% e a do próximo, de 3%, e será considerada cumprida se oscilar entre 1,5% e 4,5%.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias e do G1
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