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Artigo: Aparecem os primeiros desafios de Haddad

Brasil precisa dinamizar a economia, melhorar o resultado da indústria nacional, além de gerar aumento do consumo no varejo e no setor de serviços
02/05/2023 | 17h15

Artigo de Deborah Magagna e André Campedelli *

A estrutura econômica do terceiro governo Lula está montada. As políticas fiscal e monetária estão dadas, mesmo com a disputa para Roberto Campos Neto baixar a taxa de juros, e temos já as principais diretrizes que devem nortear a condução fiscal, dos bancos públicos e da Petrobras pelos próximos anos. E nesse cenário agora aparecem os primeiros desafios de verdade para Haddad, que deve com tal cenário melhorar os índices econômicos do país.

Os primeiros meses do governo Lula mostraram uma indústria com graves problemas de crescimento, um setor comercial e um setor de serviços com variação bastante inconstante e somente com a agropecuária mostrando resultados positivos. Além disso, o desemprego só se elevou. As boas notícias é que as primeiras medidas do governo Lula, o aumento do pagamento de programas sociais e do salário mínimo, já surtiram alguns efeitos, com alta da renda e melhora nas negociações salariais. E temos também a inflação que vem caindo consideravelmente nos últimos meses, com o preço dos alimentos quase não influenciando no peso final do IPCA.

Então fica evidente que é preciso dinamizar a economia brasileira, melhorar o resultado da indústria nacional, além de gerar um aumento do consumo no varejo e no setor de serviços. Mas como fazer isso? Essa é a situação que Haddad precisa enfrentar a partir de agora com as ferramentas que o mesmo construiu para si mesmo. A taxa de juros deve demorar para baixar, mesmo com a pressão sofrida por Campos NetoF, então sobra para o governo se utilizar da política fiscal para alcançar seus objetivos.

O grande problema é que parece que o governo decidiu que o protagonismo para tal mudança deve vir do setor privado. Novamente temos uma aposta de melhorar os ambientes de negócio, com uma política fiscal consolidada e equilibrada, e pouco gasto estatal de fato. Nessa visão, é o setor privado que vai ser a ignição do motor econômico brasileiro, e este vai gerar as condições de crescimento constante, na ausência de um estado que pouco pode gastar devido a própria natureza do arcabouço fiscal.

O grande problema é que sempre que se apostou somente no setor privado para gerar dinamismo para a economia, os resultados foram aquém do esperado. Durante o primeiro governo Dilma tivemos um corte da taxa Selic e dos custos de produção, com redução do preço da energia elétrica e dos demais preços monitorados. Além disso, o governo manteve uma taxa de câmbio competitiva, acima dos R$ 2,50, valor que era considerado para a época. Porém, o resultado foi uma economia crescendo aos solavancos, com resultados bons seguidos por crescimentos decepcionantes, num claro movimento conhecido como “voo de galinha”. No segundo governo Dilma, a aposta foi ainda maior, arrumando a casa, com forte austeridade. E isso gerou uma das maiores quedas já registradas da economia brasileira na história.

Aliás, a década de 2010 foi marcada por uma série de políticas tentando agradar o mercado, e até agora essa tendência persiste. Porém, os resultados foram no mínimo decepcionantes. Depois de uma década de 2000 com forte crescimento econômico, vimos uma economia que pouco cresceu e bastante irregular, marcado pela alta do desemprego e queda da renda média real do trabalho. E tudo isso com medidas que buscam melhorar o “ambiente de negócios”. E na realidade, nada melhorou, somente piorou a situação do trabalhador brasileiro.

E parece que esta é a aposta novamente do governo, que na figura de Haddad, propõe novamente melhorar o ambiente de negócios com uma política fiscal que tem tudo para agradar o mercado. E talvez isso seja insuficiente para resolver os desafios que estão propostos ao governo neste terceiro governo Lula. Cabe agora a Haddad mostrar que seu planejamento será suficiente para dinamizar a economia, fator essencial para melhorar a vida do brasileiro, e talvez o fator mais importante, expulsar de ver a ameaça fascista que ainda ronda a política nacional.

*Deborah Magagna é economista do ICL, graduada pela PUC-SP, com pós-graduação em Finanças Avançadas pelo INSPER. Especialista em investimentos e mercados de capitais

*André Campedelli é economista do ICL e professor de Economia. Doutorando pela Unicamp, mestre e graduado em Ciências Econômicas pela PUC-SP, com trabalhos focados em conjuntura macroeconômica brasileira

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