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Por Giovana Girardi, da Agência Pública

DUBAI – No dia em que se encerrou a 28ª Conferência do Clima da ONU, em Dubai, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, foi escolhida pela prestigiosa revista científica Nature como uma das dez pessoas que mais ajudaram a moldar a ciência em 2023.

Chamada de “Protetora da Amazônia” pela publicação, Marina foi homenageada por seus esforços em derrubar o desmatamento na maior floresta tropical do mundo desde que assumiu o cargo. Foi uma mensagem de esperança, de acordo com a revista, “em um ano que trouxe implacáveis más notícias ambientais, com aquecimento global recorde, ondas de calor escaldantes e incêndios”.

O texto que trata de Marina na Nature aponta como momento marcante dessa “esperança” uma coletiva de imprensa concedida em 3 de agosto, em que ela anunciou que os alertas de desmatamento nos primeiros sete meses do ano tinham caído 43% na comparação com o mesmo período de 2022. “Esta foi uma mudança acentuada em relação aos quatro anos anteriores, que registaram um aumento acentuado neste tipo de alertas”, lembra a publicação.

Em entrevista à Agência Pública, em Dubai, onde Marina Silva chefiou a delegação brasileira nas negociações climáticas encerradas nesta quarta-feira (13), que resultaram no primeiro acordo que mira um processo de transição para além dos combustíveis fósseis, a ministra disse que foi simbólico receber a homenagem em um dia em que a ciência se fez ouvida na decisão da COP28.

“Isso é um esforço da humanidade, né? Então, eu sinto como uma homenagem à própria ciência. Porque todas as pessoas que trabalharam considerando o que diz a ciência fizeram esforços para que se tivesse, em um determinado momento – que infelizmente demorou 31 anos – se considerasse a eliminação de combustíveis fósseis. Porque a ciência já estabeleceu esse diagnóstico há 31 anos. E nós ficamos cuidando da febre, cuidando da dor de cabeça, cuidando de outras coisas”, afirmou.

Por 31 anos a ministra se referiu ao tempo de existência da Convenção do Clima da ONU (UNFCCC), criada durante a Rio-92. É esta instância da ONU que realiza anualmente, desde 1995, as Conferências do Clima a fim de buscar acordos para conter as mudanças climáticas. É a primeira vez, porém, que um texto elaborado em uma COP defende que os países unam esforços para deixar de lado os combustíveis fósseis a fim de manter a temperatura do planeta não acima de 1,5ºC, na comparação com o período pré-Revolução Industrial. Isso é o que a ciência já vem recomendando há anos.

Há quatro anos, um brasileiro também era incluído na lista da Nature por uma relação com desmatamento, mas em contexto bem diferente: o físico Ricardo Galvão, hoje presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que alguns meses antes havia sido exonerado do cargo de diretor geral do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Galvão perdeu a posição após bater de frente com o ex-presidente Jair Bolsonaro, que tinha questionado os dados do instituto quando estes começaram a revelar que o desmatamento da Amazônia estava em frente expansão. Galvão foi escolhido pela publicação justamente por sua defesa aberta à ciência.

Ao ser lembrada disso, Marina disse ter ficado emocionada. “Agora que você trouxe aqui a memória do que aconteceu com o Ricardo Galvão, e ele recebeu o prêmio, eu fiquei emocionada porque assim como os cientistas nunca abriram mão de dizer que é [preciso conter o aquecimento em] 1,5ºC, de dizer que os governos e as empresas têm que fazer a sua parte, de não esconder os dados, a realidade, ele também fez isso e pagou o preço”, afirmou.

“E é isso que faz com que a gente possa chegar no governo de novo, retomar a política pública que dava certo com base nas informações do Deter, que foi um sistema em tempo real que nós criamos retomar essa política e em menos de um ano já ter um resultado de queda de 50% no desmatamento.

Em entrevista à Nature, dada semanas atrás, antes da COP, Marina já havia sinalizado para a importância de não apenas conter a destruição da Amazônia, mas também focar nos combustíveis fósseis. “Se os países não reduzem as suas emissões de CO2 provenientes da queima dos combustíveis fósseis, as florestas correm o risco de serem destruídas devido às alterações climáticas da mesma forma. Portanto, precisamos de uma mudança civilizacional, de uma mudança em nossos modos de vida.”

Neste ano, além de Marina, também foi homenageada Eleni Myrivili, responsável na ONU por ajudar países a se preparem para os impactos destrutivos das mudanças climáticas. É a primeira vez que um não humano foi considerado também por sua relevância à ciência, o ChatGPT.

*A jornalista Giovana Girardi viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade (iCS)

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