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Violência policial: até onde pode chegar a crueldade de um político?

É tanta crueldade e tanta selvageria que até os chefes dos algozes se viram na obrigação de repudiar, ainda que para cumprir uma certa formalidade
05/12/2024 | 07h01

Por Fabio Pannunzio

O empoderamento das polícias militares brasileiras fez com que a crueldade se transformasse novamente em ferramenta de controle social. As cenas que têm se repetido, especialmente, mas não apenas em São Paulo, mostram que há uma voz de comando orientando o uso desmedido da força e da violência contra a parcela mais vulnerável da população — os pobres e pretos.

Não é possível que a selvageria ordenada pelo governador Tarcísio de Freitas e executada por seu secretário de segurança continue massacrando a população das periferias. A carnificina e a covardia ultrapassaram todos os limites. A violência aberrante, o assassinato de inocentes por uma tropa de cães selvagens, as agressões imotivadas e o sadismo orientador do comportamento das polícias precisam ser contidos.

É tanta crueldade e tanta selvageria que até os chefes dos algozes se viram na obrigação de repudiar, ainda que para cumprir uma certa formalidade, os atos de barbárie furtivamente registrados por câmeras da população.

A responsabilidade de Tarcísio de Freitas por esse estado é indelével. Foi ele quem, aceitando uma indicação feita pelo clã Bolsonaro, nomeou um apologista das execuções policiais para chefiar a pasta da segurança. Foi ele quem tirou o sanguinário Guilherme Derrite do Hades parlamentar e entregou a ele o controle da força policial.

O capitão, é bom não esquecer, foi expulso da ROTA porque matou gente demais. É inacreditável que os defeitos de comportamento de um assassino confesso tenham funcionado como qualificadores para a decisão do governador de nomeá-lo para o cargo que ocupa atualmente.

A culpa nem é de Derrite, um militar degenerado de baixa patente. É de Tarcísio, que se valeu dessa singular degeneração humana para impor seu estado de pavor à sociedade. E para que a sangrenta engrenagem funcionasse, o capitão das trevas, com apoio irrestrito do governador, afastou todos os oficiais graduados que se opunham ao império da violência.

Os sádicos de farda estão bem à vontade agora. Eles sabem que não precisam conter seus piores impulsos, pois os exemplos que vêm de cima lhes asseguram espaço e retaguarda para o livre exercício da crueldade. A aprovação tácita da execução sumária, do extermínio de pretos pobres nunca funcionou tanto contra o processo civilizatório.

Um pouco mais do combustível da maldade que move a máquina da violência policial e teremos de volta os empalamentos, os esquartejamentos, esfolamentos e estripamentos que um dia saciaram o desejo de sangue de outros carrascos.

Vivemos um tempo de guerra de todos contra todos (bellum omnium contra omnes), como descrito por Hobbes. A maldade intrínseca do espírito humano triunfa sem nenhum tipo de barreira ou censura, quer de natureza moral, quer de natureza política.

Se isso não for contido, estaremos de volta ao pré-Iluminismo, a um tempo sombrio em que jagunços e verdugos tinham autorização expressa para aniquilar, com requintes de dor e sofrimento extremos, todos aqueles que parecessem desafiar o império dos déspotas., todos aqueles que parecessem desafiar o império dos déspotas.

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