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Janelas blindadas e meio expediente viram soluções contra a violência no RJ

Empresários do setor de blindagem afirmam que sensação de insegurança fez demanda aumentar
19/12/2024 | 14h18

Por Yuri Eiras

(Folhapress) — Devido à violência, empresas e condomínios residenciais do Rio de Janeiro têm recorrido à blindagem de janelas e portas para reduzir os riscos de tiros. Empresários do setor afirmam que a demanda tem crescido ano a ano.

No último dia 10, a oficial médica da Marinha Gisele Mendes, com patente de capitão de mar e guerra, foi morta por bala perdida enquanto trabalhava no Hospital Naval Marcílio Dias, no Lins de Vasconcelos, zona norte da cidade. Ela estava em um evento dentro da unidade.

Janela do Hospital Naval Marcílio Dias, onde médica da Marinha Gisele Mendes foi atingida por tiro. (Foto: Reproduçao TV Globo)

Donos de empresas de blindagem veicular e arquitetônica, no caso de edifícios, não podem, por lei, divulgar endereços dos serviços prestados, mas afirmam que a maior parte da demanda vem de condomínios residenciais em bairros como Barra da Tijuca, na zona oeste, e Copacabana, na zona sul.

Em Copacabana, parte dos prédios da orla possui blindagem.

Violência no Rio de Janeiro

Há conhecidos edifícios comerciais com janelas blindadas, como o centro de convenções Expo Mag, na Cidade Nova, ao lado da sede da Prefeitura, shoppings como o Nova América, em Del Castilho, alguns prédios da Petrobras no centro e zona norte e a sede da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), em Manguinhos, também na zona norte.

A Fiocruz decidiu blindar sua estrutura há mais de cinco anos, diante dos tiroteios em Manguinhos, comunidade dominada pelo tráfico e alvo frequente de operações policiais. A Fiocruz também está próxima ao complexo da Maré, outra região em que conflitos são frequentes.

Fiocruz decidiu blindar sua estrutura há mais de cinco anos. (Foto: Agência Brasil)

Um relatório registra as ocorrências de confrontos armados na região e o impacto dos tiros na fundação. Documentos internos apontam que 90% dos prédios do campus da Fiocruz já foram atingidos por tiros.

Além da blindagem, setores da Fiocruz criaram protocolos para deixar o expediente mais cedo, ou iniciá-lo mais tarde, em dias de tiroteio.

A fundação estuda ainda reestruturar seu esquema de transporte corporativo. O principal argumento é o risco à segurança que funcionários correm nos pontos de ônibus próximos.

No bairro do Campinho, na zona norte, a Universidade Souza Marques chegou a ministrar palestras a alunos sobre como se proteger de tiroteios, durante um período de conflito entre milicianos e traficantes na região em 2022 e 2023.

A faculdade suspendeu aulas e reforçou com anteparos as janelas do prédio, localizado na avenida Ernani Cardoso, próximo ao morro do Fubá.

Em 2017, o ex-prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) chegou a anunciar que blindaria as janelas de salas de aula em escolas municipais de bairros como a Maré, mas a ideia foi rechaçada por especialistas e políticos de oposição.

O setor de blindagem de veículos e imóveis é controlado pelo Exército, responsável pela catalogação das empresas e fiscalização dos produtos. A maior parte das blindagens realizadas no país é de veículos.

“A divulgação das notícias aumenta a sensação de insegurança e reflete na população. A procura por blindagens tem aumentado ano a ano e obriga que haja inovação e busca por novas tecnologias. O preço ainda não é acessível, mas o mercado cresceu”, afirma Roberto Campos, sócio da Europisa, especialista em blindagem arquitetônicas e portas antiarrombamento.

As blindagens veiculares são divididas em dois tipos: o mais comum, chamado 3A, varia de 17 mm a 21 mm de espessura e suporta disparos de armas de mão, como revólveres; já o tipo 3 tem espessura a partir de 40 mm e pode suportar armas de ponta, como fuzis.

Dados do Exército, coletados pela Abrablin (Associação Brasileira de Blindagem), apontam que 20.090 carros foram blindados no primeiro semestre de 2024 no Brasil. O ano deve ser de recorde no setor veicular, com mais de 40 mil blindagens, segundo previsão da associação.

São Paulo teve mais de 16 mil novas blindagens de veículos de janeiro a junho. O Rio, segundo estado de maior demanda, teve cerca de 1.400 novas blindagens no mesmo período.

No caso das blindagens arquitetônicas a nomenclatura dos tipos é a mesma, mas a espessura e o preço mudam. Uma janela residencial blindada custa a partir de R$ 2.500. A blindagem de um carro pode custar a partir de R$ 70 mil.

“Na blindagem arquitetônica dá para usar um vidro de 50 mm, que é considerado o tipo 3, ou um menor, de 40 milímetros, o 3A. As fixações são feitas em aço carbono. As empresas instalam e pintam, colocando na cor que o cliente escolhe na decoração do prédio. Todo mundo quer ter sua janela blindada”, afirma Parker Gilbert Cavalcanti de Carvalho, dono da PG Blindados.

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