O Banco Central anunciou que fará, nesta sexta-feira (20), novos leilões extraordinários para tentar conter a alta do dólar, no valor total de US$ 7 bilhões. Na véspera, a autoridade monetária fez dois leilões, no valor total de US$ 8 bilhões, que contribuíram para a queda da moeda norte-americana no fim do dia.
Os leilões desta sexta-feira serão distribuídos da seguinte forma:
- O primeiro certame do dia será um leilão de dólares à vista, com valor máximo de US$ 3 bilhões. As propostas serão acolhidas das 9h15 às 9h20.
- Na sequência, o BC vai realizar dois leilões de linha, no valor total de US$ 4 bilhões. Nessa modalidade, a autoridade monetária vende reservas internacionais no mercado à vista, mas com o compromisso de recompra em um prazo determinado.
O BC começou a vender dólares no mercado à vista na última sexta-feira (13/12). Nesse período, fez também algumas atuações com leilões de linha, quando vende dólares com compromisso de recompra.
Os leilões realizados foram os seguintes:
- 12 de dezembro: dois leilões de linha, no total de US$ 4 bilhões
- 13 de dezembro: BC vende US$ 845 milhões no mercado à vista
- 16 de dezembro: BC interveio com US$ 4,627 bilhões, sendo US$ 3 bilhões em leilão de linha e US$ 1,627 bilhão no mercado à vista
- 17 de dezembro: BC interveio com US$ 3,287 bilhões no mercado à vista
- 18 de dezembro: BC vendeu US$ 8 bilhões no mercado à vista
Ontem (19), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o BC “tem muita reserva [internacional, acima de US$ 350 bilhões] e vai atuar [no câmbio] se for necessário”.
O Brasil tem hoje quase US$ 360 bilhões em reservas internacionais. Como grande exportador de commodities, o país obtém a maior parte desse “colchão de segurança” de suas vendas internacionais. As exportações brasileiras têm batido recorde reiteradamente.
Desse modo, os US$ 8 bilhões injetados no mercado na manhã desta sexta-feira são uma parcela pequena das reservas brasileiras. Considerando as intervenções no mercado à vista dos últimos pregões, foram ao todo US$ 13,759 bilhões – o equivalente a 3,8% das reservas internacionais do Brasil, hoje em US$ 357,12 bilhões (dados do último dia 17 de dezembro).
Juliane Furno diz que mercado tenta domesticar governo com a alta do dólar
Em entrevista ao UOL News ontem, a professora e economista Juliane Furno, disse que o mercado tenta domesticar o governo do presidente Lula (PT) com a volatilidade do dólar.
“Acho que [o mercado tem agido propositadamente contra o governo Lula] sim. Embora seja algo mais fluido do que uma instituição monolítica, com uma orientação muito clara, o mercado tem uma posição com relação aos seus ganhos financeiros, os detentores da riqueza financeira têm opções políticas, tanto é que costumam se orientar por uma candidatura ou outra durante o eleitoral do período eleitoral e eles procuram domesticar quem senta na cadeira presidencial, seja de esquerda, seja de direita, para que opere uma política conforme os seus interesses”, disse.
Segundo Juliane, os agentes do mercado financeiro, como não têm poder institucional, tentam domesticar os governos “fazendo pressão para que haja uma maior autonomia da política econômica com relação à presidência da República”. “[Por exemplo], o teto de gastos que existia anteriormente, a própria independência do Banco Central, são formas de você retirar do Estado — no último grau, a democracia, porque é no presidente que a gente vota — a capacidade de atribuição sobre essas políticas fundamentais”, pontuou.
Além disso, o mercado também faz “terrorismo fiscal”, quando atua “sobre aqueles capitais especulativos de curto prazo, apreciando e depreciando a moeda conforme falas que agradam, desagradam ou mais os operadores do mercado”. “Mas, veja, isso é muito circunstancial, onde o mercado quer sinalizar para o presidente da República e para a sociedade que ele tem formas de fazer pressão”, emendou.
“Mas acho que a política econômica do governo Lula tá indo na direção certa e isso se manifesta em dados. Se a sua geração é economia real, a taxa de desemprego em queda, o aumento da formalidade, o aumento da renda média, o crescimento do PIB, uma inflação estabilizada, reservas cambiais e a possibilidade inclusive de ainda em 2025, na pior da história, ter um reequilíbrio das contas públicas”, ressaltou.
A opinião de Juliane Furno converge com o que dizem os economistas do ICL (Instituto Conhecimento Liberta). A economista e apresentadora do ICL Mercado e Investimentos, Deborah Magagna já disse que o mercado financeiro faz chantagem com o governo para os cortes de gastos (clique aqui para ler a entrevista com ela).
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