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Chico Alves

Jornalista, por duas vezes ganhou o Prêmio Embratel de Jornalismo e foi menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog. Foi editor-assistente na revista ISTOÉ e editor-chefe do jornal O DIA. É co-autor do livro 'Paraíso Armado', sobre a crise na Segurança Pública no Rio, em parceria com Aziz Filho. Atualmente é editor-chefe do site ICL Notícias.

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Osmar Terra divulga vídeo falso de Haddad e finge não saber que é manipulação

Como qualificar uma pessoa como o deputado sem recorrer a adjetivos?
09/01/2025 | 15h48

Houve um tempo em que o jornalismo podia ser feito sem adjetivos. Na verdade, os manuais de redação de alguns anos atrás ordenavam: quanto mais objetividade, melhor.

Por isso, jornalistas sempre deveriam preferir os substantivos.

Essas regras foram feitas em uma época em que as declarações e ações de personagens públicos tinham uma mínima conexão com a realidade. Bons tempos.

Não que a mentira e a manipulação da realidade tenham sido inventadas agora, isso sempre houve na política e em outros setores da ação humana. O que passamos a acompanhar de 2018 para cá, porém, é uma outra coisa: a criação em escala e tecnologia industriais de “realidades” fictícias, usadas por figuras inescrupulosas contra seus adversários ideológicos ou econômicos.

Nesse período tivemos terra plana, mamadeira de piroca, cloroquina e dezenas de outras invencionices que foram usadas pela extrema direita para transformar a política brasileira em um delirante vale-tudo. E tudo piora agora, com a introdução da Inteligência Artificial.

A essa mistura explosiva, basta acrescentar como ingrediente a falta de caráter — e pronto. A receita de difamação de uma personalidade está completa.

Bom exemplo é o tuite que o deputado Osmar Terra publicou nesta quinta-feira (9), com um vídeo manipulado com IA em que aparece o ministro Fernando Haddad anunciando tributação em vários setores. É tudo falso, como qualquer pessoa com mais traquejo em tecnologia percebe logo de saída.

O problema é que a grande maioria dos brasileiros não tem essa intimidade com os recursos tecnológicos. Muita gente vai acreditar na montagem absurda, e não vai ligar a mínima para a nota anexa que aponta alteração digital por IA.

“Nosso plano é taxar tudo, tudo, tudo. Esse ano teremos o imposto do cachorrinho de estimação. Se ele é da família temos que arrecadar sobre ele também, é justo”, começa dessa forma o vídeo fraudulento, que continua com outras falsas propostas despropositadas como “imposto pré-Natal” e “imposto sobre lucros nas bets”.

A essa altura, a peça já circulou bastante e fez grande estrago na imagem de Haddad entre os internautas mais incautos.

Era justamente esse o objetivo de Osmar Terra, que divulgou o vídeo como se não soubesse que é falso.

“Isso é verdadeiro? Ou é fake feito com inteligência artificial ? É tão absurdo o que o Haddad está falando que prefiro acreditar ser fake….”, pergunta o deputado, na postagem que no início da tarde de quinta já tinha 105 mil visualizações.

Como qualificar uma estratégia dessas e uma pessoa como Osmar Terra sem recorrer a adjetivos?

São tantas possibilidades que o difícil é escolher o mais adequado.

Já que além da farsa atual esse personagem (um médico!) se destacou na época da pandemia por defender tratamentos ineficazes para a Covid-19, que tal tratá-lo como “mentiroso”?

Outra opção: como faz essa postagem sem declarar abertamente suas intenções, o deputado poderia ser chamado de “covarde”.

Farsante, desleal, impostor, trapaceiro, embusteiro, hipócrita… há várias outras alternativas que poderiam ser usadas para definir o comportamento de Osmar Terra.

No entanto, a coluna prefere não usá-las.

Se o leitor quiser, que o faça por sua conta e risco.

Torçamos para que a vida pública brasileira nos apresente políticos melhores, que nos permitam poupar adjetivos.

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