“Marta só entende de sexo”. Nem mesmo no tempo dessa frase folclórica do ex-governador Paulo Maluf, na campanha eleitoral de 2000, o nome de Marta Suplicy (sem partido) foi tão citado e cobiçado na política brasileira.
O presidente Lula, em encontro com a ex-prefeita no simbólico 8/1 no Palácio do Planalto, fez o convite direto, olho no olho, para que a “ex-companheira” retorne ao PT e seja vice de Guilherme Boulos (PSOL) na disputa à prefeitura paulistana.
São quase dez anos de separação do partido que foi berço de Marta na política. Talvez não tenha havido terapia de grupo suficiente para um retorno mais tranquilo — setores petistas de São Paulo ainda mascam o jiló do ressentimento pela adesão da ex ao lavajatismo e ao impeachment de Dilma Roussef.
O tema da “traição” é muito difícil de ser resolvido ou superado entre muitos militantes.
A vida prática dos políticos, porém, não carece do mesmo tempo de cura dos terapeutas ou psicanalistas.
O grupo de Lula deseja uma vice de expressão e currículo na capital paulista; Marta sabe que refazer os laços com o presidente pode representar, de imediato, mais visibilidade do que o discreto charme do posto de secretária de Relações Internacionais que ocupa na prefeitura de Ricardo Nunes (MDB).
O prefeito sequer conseguiu completar uma ligação telefônica com a sua auxiliar de equipe depois da visita da ex-prefeita ao Palácio do Planalto. Já era.
A insistência de Nunes pelo apoio de Jair Bolsonaro na sua reeleição também facilita a cerimônia do adeus. Ela não quer sair nessa foto de campanha.
Marta nunca foi tão cogitada por todas as correntes partidárias. A candidata do PSB, Tábata Amaral, também faz a corte, embora de maneira mais discreta.
Quando disse que Marta só entendia de sexo, Maluf desejava, com a sua misoginia explícita, desqualificá-la como possível administradora pública. A boa gestão da petista desmentiu o “filhote da Ditadura” — inevitável lembrança de como Brizola batizou o velhaco político paulista.
Medidas de sucesso, como a criação do Bilhete Único e a construção dos CEU´s (Centros Educacionais Unificados) nas periferias, sãos as principais lembranças da ex-prefeita no imaginário popular.
Sim, Marta entende de sexo. Ela foi pioneira em falar sobre o assunto na TV aberta (Globo), na apresentação do programa TV Mulher, ainda nas manhãs dos anos 1980. Com a sua frase canalha, Maluf ironizava também o projeto da ex-deputada sobre a união civil entre pessoas do mesmo gênero.
O retorno ao PT é mais um tabu que será quebrado pela ex-prefeita. Está apenas na dependência de uma coisinha ou outra do que Freud chamava de narcisismo das pequenas diferenças — algo muito típico no sentimento das esquerdas.
Formado em psicanálise e doutorado na rua com os sem-teto, Boulos ficou sabiamente na escuta. Deixou Lula agir nos bastidores.
A não ser que haja uma reviravolta sem precedentes, a gestora que implantou do Bilhete Único (2004) irá ajudá-lo a pegar o busão direto para o viaduto do Chá, sede do poder executivo paulistano.
A grande conquista dos usuários de transporte coletivo era um projeto de 1995, criação do então vereador petista Carlos Zarattini. Maluf, prefeito à época, vetou a ideia.
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