Por Catarina Duarte — Ponte Jornalismo
O artista negro Raffael Emilio, de 32 anos, relata ter sido vítima de uma abordagem racista por parte de seguranças do festival Lollapalooza. Ele deixava o evento quando foi abordado por um grupo de oito homens da equipe de segurança no último sábado (29/3). Músico, Raffael diz que teve que abrir a jaqueta e a bolsa que usava para ser liberado.
A abordagem ocorreu por volta das 21h. Ele conta que foi parado pelos seguranças, que pediram que ele os acompanhasse até um canto. Constrangido, ele os seguiu. A justificativa dada pelos profissionais do staff do Lollapalooza foi de que Raffael teria as mesmas características de uma pessoa que supostamente estava roubando celulares dentro do evento.
“Fiquei atônito. Você é confundido e já entende que ali é uma situação de racismo”, afirma Raffael. Era a primeira vez que ele assistia ao festival, que aconteceu no Autódromo de Interlagos. Os seguranças exigiram que Raffael abrisse a jaqueta e a bolsa de colo que vestia. “Eu disse que eles não poderiam fazer isso e eles disseram ou por bem… a gente precisa abrir a sua bolsa”, relata. Com medo, o artista aceitou ser revistado.
Após o fim da revista, em que nada foi encontrado, Raffael diz que criticou a atitude dos seguranças. “Eu falei que era uma situação extremamente desagradável. ‘Vocês não podem fazer isso. Isso é racismo’”, lembra. O grupo usava coletes amarelos com os dizeres ‘Segurança’ na parte de trás da roupa. A maioria dos agentes, conta Raffael, era composta de homens brancos. Confrontados sobre o racismo na abordagem, eles teriam negado.
O artista conta que aquela era a primeira vez que ia ao festival. O ingresso lhe fora dado de presente, mas agora Raffael diz que não quer mais voltar. “A gente se sente mal. É um misto de ódio e tristeza. Esses festivais sugam tudo que é nosso, mas quando a gente está lá, é esse tipo de coisa que acontece: ser confundido muito facilmente. Não importa com quem você esteja, o dinheiro que você possui, quando a pele vem primeiro. É difícil seguir de novo”, conclui.
O que diz a organização do Lollapalooza
A “Ponte” procurou o Grupo Approch, responsável pela assessoria de imprensa do Lollapalooza, questionando a abordagem ao artista. Também foi cobrada posição sobre como a equipe de segurança chegou à descrição de um suspeito e se a Polícia Militar, que prestava apoio ao evento com agentes nas proximidades, foi acionada.
Em nota, a assessoria escreveu que o festival repudia manifestações de racismo, homofobia, discriminação e preconceito. A Approch, no entanto, não respondeu especificamente sobre o caso.

Nota da organização do festival diz que “repudia qualquer manifestação de racismo”
Leia a nota da organização na íntegra
“O Lollapalooza repudia qualquer tipo de manifestação de racismo, homofobia, discriminação e preconceito. Por isso, conta com uma equipe de profissionais treinados, que inclui psicólogos, para prestar atendimento e agir adequadamente neste tipo de situação. Todas as denúncias recebidas são apuradas rigorosamente. É importante que qualquer pessoa que se sentir em situação de vulnerabilidade ou vítima de crime procure imediatamente uma equipe de acolhimento presente no festival preparada e treinada que acolhem adequadamente a vítima e prestam assistência na decisão de levar o caso às autoridades policiais e judiciárias presentes no local.
A informação sobre a operação e os locais de acolhimento está presente em todo o espaço do festival como telões, banheiros, áreas de backstage, atendimentos ao público, bares, entre outros, para que o acionamento seja imediato e a equipe de suporte possa atuar o quanto antes. A denúncia realizada no dia do evento acelera a apuração e, consequentemente, a punição dos envolvidos”.
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