No afã de defender a própria gestão desastrosa à frente do Ministério da Saúde, o ex-chefe da pasta Marcelo Queiroga decidiu travar uma queda de braço com a revista Lancet, a publicação com mais prestígio no mundo na área médica. Em carta publicada na revista no sábado (23), Queiroga fez uma defesa do governo Bolsonaro desconectada da realidade, citando, por exemplo, que os “benefícios das ações” tomadas pela equipe dele serão sentidos “por décadas se o atual governo (Lula) não minar ou reverter” as medidas.
A publicação de Queiroga tem como coautor Raphael Câmara Parente, ex-secretário de Atenção Primária. A dupla respondeu a um artigo de fevereiro, também na Lancet, em que o professor da Fundação Getúlio Vargas Adriano Massuda, o consultor nacional da Organização Pan-americana de Saúde e professor da Universidade de Brasília Rafael Dall’Alba, os ex-ministros da Saúde André Chioro e José Gomes Temporão e a demógrafa Marcia Castro sugeriram medidas que recuperassem a ação coordenada do Ministério da Saúde após um governo de “extrema direita”.
Na época, segundo detalhou a Folha de São Paulo, os autores relataram a necessidade de aumentar o financiamento do SUS, de reduzir desigualdades regionais no acesso à saúde e de fortalecer a atenção primária. Queiroga, entretanto, se revoltou principalmente com o uso do termo “extrema direita” no título do primeiro artigo. Ele também afirmou que o uso da expressão reflete uma manifestação de natureza partidista e acrescentou que o atual governo tem usado essa “narrativa” para “justificar um futuro caos no sistema de saúde do Brasil que está prestes a acontecer”.
A longa carta de Queiroga e Parente também cita números de supostos investimentos na Saúde, inclusive durante a pandemia, e ainda acusa a Lancet de “fakenews” por “esconder informações” do trabalho deles ao longo dos últimos quatro anos. Em outro trecho, após acusar o PT de focar em “políticas abortistas e na redução de cesáreas”, a dupla afirma que o governo Bolsonaro defendeu vidas pela perspectiva da concepção.
‘FIASCO HISTÓRICO’
Para rebater os delírios de Queiroga e Parente, os autores do artigo que inflamou a dupla também publicaram uma resposta. No texto, eles dizem que os comentários da dupla são uma clara demonstração do sistemático método usado pelo anterior governo para disseminar mentiras e fakenews, a partir de uma distorção da realidade.
“Refutar a retórica da extrema direita é um desafio atual para a Saúde e para a democracia”, afirmaram.
Massuda e os outros acadêmicos ressaltam que em vez de rebater os dados ou os argumentos apresentados pelo grupo, Queiroga e Parente criaram a própria narrativa, especialmente do ponto de vista político. E ainda na resposta, os autores também classificaram a gestão da Saúde como “fiasco histórico” e chamaram de “resposta catastrófica” à pandemia as (não) medidas tomadas pelo governo Bolsonaro.
Deixe um comentário