“Quem quer doce?”, grita a mulher, com uma sacola cheia de guloseimas. Em resposta, recebe um sonoro “eu!” de dezenas de adultos e crianças que a cercam. “Viva São Cosme e São Damião”, ela grita de novo.
É a senha para todos esticarem seus braços na direção dela, querendo garantir mais um saquinho de doces. Um dos adultos consegue o prêmio, mas deixa o círculo alegando que os doces tem outro destino: “Esse é para minha pequena, estou levando pra ela”.
Nas calçadas, em frente à igreja de São Cosme e São Damião, no bairro do Andaraí, na Zona Norte da cidade do Rio, há um sem-número de pessoas, entre adultos e crianças. Para onde se olha, segundo relata o repórter Vitor Abdala, da Agência Brasil, há gente carregando sacos de doce, bolsas de supermercado, mochilas…
“Sempre gostei de sair de casa para pegar doce, desde criança. E é uma tradição lá em casa. Todo ano deixo de trabalhar para buscar o doce com eles. Antes com meus filhos, agora com os netos”, conta Ana Paula de Souza, de 45 anos, que, acompanhada da netinha Sofia, de 10 anos, tenta garantir os prêmios deste ano.
Alguns parecem preparados para passar o dia ali, com toalhas esticadas no chão e caixotes de madeira servindo como bancos improvisados. Todos estão sempre atentos para a movimentação na rua.
Cada pessoa que chega para distribuir seus doces é uma guerra. Todos se acotovelam, tentam chegar mais perto, agarrar o que puder. Às vezes, alguns saem de mãos vazias. Mas perder a batalha não é o fim. A todo momento, chega alguém com um novo carregamento de doces para distribuir, a pé ou de carro.
Tradição
A festa de São Cosme e Damião é celebrada todos os anos no dia 27 de setembro. É a data em que, segundo a igreja católica, morreram os irmãos gêmeos, que teriam vivido na região da Ásia Menor, em algum lugar entre os atuais territórios da Síria e Turquia, no século III d.C.
Os dois se tornaram conhecidos por praticarem a medicina e por recusarem qualquer pagamento por seus serviços. Por isso, ficaram conhecidos pelo apelido de anárgiros (palavra grega que significa “sem prata”).
Durante a perseguição do imperador romano Diocleciano aos cristãos, os irmãos foram presos e torturados já que também eram cristãos que se dedicavam à conversão de pagãos à nova fé.
De acordo com a hagiografia católica, eles teriam sobrevivido a vários suplícios, como fogo, pedradas e flechadas. Por fim, foram decapitados, já que não teriam aceitado abrir mão da fé cristã.
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