Há o tempo do espumante e o tempo da Justiça.
Desde que deixou o poder pela porta dos fundos, já envolvido nos casos de desvios de joias das arábias e na tentativa de golpe de Estado, uma possível prisão do ex-presidente Bolsonaro fez muita gente colocar o champanhe no gelo.
Começava aí suspense e as apostas dispararam na BolsoBet, espécie de casa de apostas imaginária criada pelo escracho popular no país da jogatina.
Entre as impacientes borbulhas da bebida na geladeira e a cautela de um Judiciário pós-Lava Jato, o tema permaneceu em cartaz.
No Carnaval, foi a alegoria da hora. Embalados pelas cenas de golpismo explícito do vídeo em poder do ministro Alexandre de Moraes (STF), milhares de foliões de todo o país brincaram com a prisão — o grande meme das ruas, avenidas e ladeiras.
Mesmo no tempo precavido da Justiça, as provas dos crimes começaram a ficar evidentes. Bolsonaro e tropa de militares e civis atentaram contra os artigos 359-L e 359-M do Código Penal, em declarada tentativa de abolir o Estado de Direito e concretizar um golpe.
A não ser na opinião da turma do negacionismo jurídico, incentivada nos últimos dias na imprensa conservadora, a prisão para o ex é inevitável. Não no tempo do espumante, mas depois da conclusão do inquérito do STF, denúncia da Procuradoria-Geral da República e julgamento.
Não subestime, porém, a capacidade do próprio Jair Bolsonaro e família de apressarem as coisas. Atrapalhar o trabalho da Justiça ou voltar a questionar a legitimidade do processo democrático do TSE, por exemplo, pode ser a próxima tentação dos golpistas — eles marcaram, para o fim do mês, ato em defesa do ex-presidente em SP.
No escracho popular da BolsoBet, jogo minhas fichas no médio prazo, detenção até agosto. Nas cinzas dessa quarta-feira, como pedem as ruas, seria muito utópico. Nesse caso, um outro Carnaval recomeçaria para pelo menos metade dos brasileiros e brasileiras que não aguentam mais gelar esse espumante do descarrego.
Uma digna ressaca a todos — se é que isso é possível. O tempo da Quaresma nos espera.
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