Por Redação
Enquanto Maceió ainda vive o colapso provocado pela petroquímica Braskem com o afundamento de solo em quatro bairros da cidade, a Beija Flor de Nilópolis apresentou neste domingo de carnaval seu enredo sobre a capital alagoana, que gastou R$ 8 milhões com o desfile da escola de samba fluminense.
Chamou atenção na Marquês de Sapucaí a presença do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), que atravessou o sambódromo carioca com roupa da diretoria ao lado do presidente de honra da escola, o bicheiro Anísio Abraão Davi (foto), e de outros políticos, como o prefeito de Maceió e seu aliado João Henrique Caldas (PL).
“Hoje, sinto imenso orgulho de prestigiar Maceió brilhando na Sapucaí”, disse Lira, deslumbrado com o desfile.
Quando o Diário Oficial de Maceió anunciou, em maio de 2023, o investimento da prefeitura no carnaval de outra cidade – um aporte que representou mais de 60% do orçamento da Secretaria Municipal de Cultura naquele ano -, Caldas disse que o dinheiro seria captado via leis de incentivo e também emendas parlamentares.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), participou do Carnaval do Rio de Janeiro desfilando pela primeira vez na Marquês de Sapucaí com a escola de samba Beija-Flor de Nilópolis. Vestindo uma camiseta da presidência, Lira demonstrou apoio à homenagem feita à… pic.twitter.com/Lprhe07qOn
— Gazeta Brasil (@SigaGazetaBR) February 12, 2024
O gasto da prefeitura com o carnaval do Rio causou revolta no povo de Maceió especialmente pelo momento difícil da cidade.
“Esses oito milhões de reais são o maior desrespeito da prefeitura com as vítimas da Braskem e com toda a população”, afirmou ao ICL Notícias Neirevane Nunes, do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem.
O desastre ambiental relacionado às atividades da Braskem em Maceió, após anos de exploração de sal-gema – matéria-prima para a produção de soda caústica e cano PVC -, ainda assombra os habitantes de várias formas.
O afundamento de solo obrigou a prefeitura a fechar o cemitério de Santo Antônio e estrangulou o sistema funerário da cidade. Segundo a repórter Karina Dantas, da Agência Tatu de jornalismo, oito em cada dez mortos na cidade em 2023 foram sepultados de forma precária, em covas rasas, nos oito cemitérios públicos. Faltam vagas no sistema público de ensino para 3 mil crianças de 0 a 6 anos, mas apesar disso o prefeito rejeitou um projeto para construção de 15 creches em parceria com o governo estadual, como anunciou na ocasião o portal de notícias alagoano Tribuna Hoje.
JHC, como o prefeito de Maceió é conhecido, precisou criar uma manobra jurídica em tempo recorde para fazer o aporte milionário à escola de Anísio. A Lei Municipal 7.370/2023 foi sancionada pelo prefeito no dia 8 de maio de 2023, apenas quatro dias antes da assinatura do “termo de fomento” com a Beija-Flor. Mas o Tribuna Hoje observou que alguns artigos da nova lei foram descumpridos, entre eles o limite de R$ 1 milhão para investimento em grandes eventos – esse valor só poderia ser extrapolado em caso de “relevante interesse público”.
Colaboração Heloisa Villela
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