Você já parou para pensar que dentro de cada um de nós coexistem aspectos masculinos e femininos? Essa ideia, proposta por Carl Jung, nos convida a refletir sobre a complexidade da psique humana e, principalmente, sobre como essas forças influenciam nossos relacionamentos e nossa jornada de autoconhecimento. Historicamente, a energia masculina predominou como padrão de comportamento e ação no mundo. Durante muito tempo, mulheres foram incentivadas a reprimir sua força interior, assumindo papéis passivos e submissos. Foi somente após a revolução feminista, especialmente a partir da década de 1970, que elas conquistaram espaço no mercado de trabalho, liberdade de expressão e autonomia emocional — libertando, assim, seu lado mais assertivo e racional, atributos geralmente associados ao arquétipo masculino.
Paralelamente, os homens também passaram a acessar seu lado afetivo e sensível, muitas vezes oculto pelas exigências culturais de virilidade e invulnerabilidade. Essa integração progressiva de polaridades dentro de cada ser humano nos proporcionou um avanço significativo — mas também nos colocou diante de novos desafios nos relacionamentos afetivos.
Hoje, com homens e mulheres cada vez mais autossuficientes e emocionalmente independentes, surge uma pergunta essencial:
Ainda precisamos uns dos outros?
A resposta não é simples. O modelo tradicional de casamento já não é uma regra. O sexo se dissociou do compromisso formal, e muitos casais modernos — especialmente em segundos casamentos — estão optando por morar em casas separadas, buscando preservar a individualidade sem renunciar à conexão. Vivemos, portanto, um novo paradigma afetivo, onde cada relação abriga, metaforicamente, quatro pessoas: você e suas duas energias, o outro e suas duas energias.
Se não soubermos administrar essas forças, inevitavelmente cairemos em uma disputa de poder ou em um emaranhado de emoções desencontradas.
Mas como equilibrar essas energias dentro de um relacionamento saudável e verdadeiro?
A resposta está no autoconhecimento emocional. Quando não estamos conscientes da nossa energia predominante — ou ignoramos a do outro — a convivência se torna um campo de batalha. Dois parceiros fortemente ancorados na energia masculina tendem a transformar o relacionamento em uma disputa de liderança, como sócios brigando por poder em uma empresa. Já duas energias femininas dominantes podem criar uma atmosfera intensa, porém instável, emocionalmente sobrecarregada.
A harmonia surge quando ambos reconhecem e respeitam suas forças naturais. Isso exige clareza sobre o que se deseja construir a dois. Você é uma mulher que prioriza a carreira? Um homem com espírito empreendedor? Então talvez precise de um parceiro cuja energia complemente, e não rivalize com a sua.
Relações saudáveis são parcerias conscientes, e isso envolve definir papeis com fluidez e respeito, como acontece em estruturas organizadas: um ocupa a posição de liderança e o outro oferece sustentação — ambos igualmente valiosos. Essa clareza de papéis precisa acontecer antes mesmo de entrarmos em um relacionamento. Saber quem você é e qual papel deseja desempenhar afetivamente é essencial para fazer escolhas mais alinhadas e conscientes.
Muitas mulheres relatam dificuldade em manter relacionamentos por expressarem fortemente sua energia masculina, o que pode intimidar alguns homens. Isso, porém, não é um problema. O que importa é estar em paz com sua essência. Se você se identifica com uma energia mais ativa e direcionada, tudo bem tomar a iniciativa, ligar primeiro, dar o primeiro passo. Da mesma forma, se sua natureza for mais receptiva e intuitiva, honre isso com orgulho. Sedução, entrega e acolhimento são potências femininas, não fraquezas.
Nada é rígido. Um casal pode e deve negociar a alternância de energias conforme o momento e as necessidades. Somos seres integrais, e é justamente essa dança entre forças complementares que nos torna ricos e capazes de construir relações mais humanas e verdadeiras. Como diz a terapeuta e especialista em relacionamentos Pat Allen: “Não se trata de ensinar um homem a ser homem ou uma mulher a ser mulher, mas sim de ajudar cada um a reconhecer sua energia dominante para poder se relacionar com mais liberdade e autenticidade”.
Uma mulher pode expressar sua força sem castrar o outro. E pode ser suave sem se anular. O importante é que a energia que predomina em você seja um reflexo da sua verdade. Quando há autenticidade, você atrai um parceiro igualmente alinhado, pronto para construir uma parceria consciente, prazerosa e equilibrada. Em tempos de liberdade afetiva e tantas possibilidades de escolha, a chave para o amor está — mais do que nunca — na coragem de sermos quem realmente somos.
Grande abraço,
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