O bolsonarismo iniciou essa semana com grandes esperanças: se no Brasil a CPAC era realizado e prometia pautar o debate com lideranças regionais de extrema-direita, havia também a expectativa deste agrupamento que diretamente da França uma vitória do grupo de Marine Le Pen reforçaria a narrativa de um avanço da extrema-direita global. O cenário, no entanto, não produziu os efeitos desejados: os debates sobre a CPAC não apresentaram nenhum indício de gerar o buzz desejado, enquanto Le Pen e seu grupo sofriam uma derrota inusitada – mas muito comemorada por outros agrupamentos – para a esquerda francesa.
Horas depois um novo episódio minaria a tentativa bolsonarista de “ainda fazer render” o debate sobre a CPAC: a Polícia Federal concluiu o inquérito sobre a venda de joias, e novamente o assunto veio à tona para colocar o bolsonarismo em uma posição completamente reativa. Acusações contra a Polícia Federal, alegação de perseguição e ataques à imprensa até foram tentados pelo bolsonarismo, mas sem o mesmo peso da cobertura da imprensa e da repercussão entre atores antibolsonaristas.
Dias depois um novo episódio, desta vez envolvendo a “ABIN paralela” e o governo Bolsonaro, voltaram a trazer indícios completamente comprometedores para o campo bolsonarista, consolidando uma semana onde o bolsonarismo provou, mais uma vez, de suas próprias táticas nas redes sociais: o padrão de uma onda sucessiva de ataques e temas que imobilizam o cluster opositor em postura extremamente reativa e de quase prostração em decorrência da incapacidade de encontrar argumentos que possam, de maneira efetiva, fazer frente aos ataques e/ou denúncias realizadas contra eles.
No entanto, é importante compreender que todo esse movimento não representa uma ruptura (parcial ou definitiva) no cluster bolsonarista. O volume de atores, bem como de conexões por eles produzida, segue extremamente alto e como destaque ao analisarmos agrupamentos consolidados pelo viés ideológico. Ataques contra o governo federal, em especial Lula e a Reforma Tributária são um excelente exemplo disso: 18 dos 20 principais perfis (em interações) que citam Lula no período partem da oposição.
Assim, mais uma vez a realidade nos propõe alguns indícios de como ocorre o enfrentamento contra a extrema-direita nas redes sociais: sem catarses e/ou eventos determinantes, mas sim com a desconstrução constante e fomentada a partir dos mais variados agrupamentos que, nas ruas e nas redes, repudiam os valores da extrema-direita, seja na França ou no Brasil.
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