Gabriela Moncau – Brasil de Fato
Por volta das 4h30 da manhã do último domingo (5), o agricultor, acampado e integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Josimar da Silva Pereira foi assassinado na cidade de Vitória de Santo Antão (PE), onde morava. O camponês de 30 anos foi alvejado na nuca e nas costas enquanto se locomovia de moto para o Acampamento Francisco de Assis, onde trabalharia na irrigação do plantio de arroz orgânico. Ainda não se sabe a autoria e a motivação do assassinato.
Josimar atuava na luta pela desapropriação do Engenho São Francisco, onde está localizado o acampamento há 29 anos, uma das ocupações mais antigas do MST no estado pernambucano. Por conta dos conflitos e ameaças envolvendo a disputa pela área, que tem uma ação de reintegração de posse impetrada pela Usina Alcooquímica JB, integrantes da coordenação do acampamento estão no Programa Estadual de Proteção e Defesa de Defensores dos Direitos Humanos. Josimar, no entanto, não estava.
Nesta segunda-feira (6) já estava marcada uma visita do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) no território. Na quarta-feira (8) uma audiência no Ministério Público Estadual de Pernambuco está prevista entre o MST e a Usina JB, de propriedade da família Beltrão.
“Neste momento de dor, o MST estende toda solidariedade à família, aos filhos e amigos e exige que os órgãos competentes possam acelerar as investigações e encontrar os culpados desse crime”, afirma nota do movimento. “E que essa área histórica cumpra a sua função social se tornando um assentamento da reforma agrária”, complementa.
Entre sexta-feira (3) e sábado (4) houve um incêndio em uma área de cana-de-açúcar que beira o acampamento. “As coordenadoras tentaram sem sucesso gerar um boletim de ocorrência para denunciar o ocorrido, de modo a preservar de possíveis acusações e retaliações”, informou o MST. De acordo com a coordenação regional do movimento, a delegacia se recusou a fazer o registro.
ACAMPAMENTO FRANCISCO DE ASSIS
Ao longo das quase três décadas de existência, o Acampamento Francisco de Assis sofreu 16 reintegrações de posse. Em agosto de 2022 houve uma nova ocupação do território, onde vivem atualmente 108 famílias.
A disputa em torno da área fez com que o caso entrasse na Comissão de Conflitos Agrários do estado de Pernambuco. O terreno entrou como prioridade para vistoria e desapropriação por parte do Incra, que há cerca de um mês classificou o engenho como improdutivo. “Mas sabíamos que a usina ia recorrer”, relata Samuel Drummond Scarponi, da direção estadual do MST em Pernambuco.
“A sensação de insegurança para as famílias do acampamento é enorme. Já houve ameaças de pistoleiros e casos de drones jogando veneno em cima das pessoas, inclusive de crianças. Todo dia ali o cenário é de disputa”, resume Scarponi.
Ainda assim, o território é produtivo. Ali as famílias sem-terra cultivam, entre outros produtos, arroz orgânico, banana, macaxeira, inhame, hortaliças, maracujá, côco, além de um viveiro da reforma agrária. Existe também o roçado das mulheres, uma experiência auto-organizativa do setor de gênero da regional Galileia do MST.
O Brasil de Fato pediu informações sobre a morte de Josimar Pereira para a Secretaria de Defesa Social do Estado de Pernambuco, do governo de Raquel Lyra (PSDB), mas não teve retorno até o fechamento desta matéria. Caso haja a resposta, o texto será atualizado.
Samuel Scarponi conversou com Josimar pela última vez na sexta-feira (3). Trabalhando como moto-taxista, o camponês lhe contou que pretendia juntar dinheiro para começar a trabalhar com a criação orgânica de galinhas
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