Alvo preferencial dos ataques da extrema direita anticristã de São Paulo, o padre Júlio Lancelotti virou nome de lei federal que proíbe construções e armadilhas urbanas usadas para maltratar os pobres nas ruas do Brasil — um tipo de “arquitetura da destruição”, lembrando aqui o título de um filme documentário sobre o nazismo de Adolf Hitler.
O mesmo texto havia sido vetado pelo ex-presidente Bolsonaro. O veto foi derrubado pelo Congresso. Nesta segunda-feira (11/12), Lula regulamentou a lei, com a presença do líder religioso, em derrota dos políticos conservadores que combatem as ações solidárias e práticas cristãs de padre Júlio na paróquia de São Miguel Arcanjo, no bairro paulistano da Mooca.
O primeiro a atacar o padre foi Arthur do Val, ainda em 2020, quando era candidato à prefeitura de SP. Do time dos moralistas sem moral, o parlamentar foi cassado na Assembleia Legislativa por falta de decoro — assédio a mulheres em visita a áreas da guerra da Ucrânia.
Em plena campanha contra o pároco, o vereador Rubinho Nunes, “cidadão de bem” do mesmo MBL e do União Brasil, deseja enquadrar Júlio Lancelotti em uma CPI criada na Câmara Municipal de São Paulo. O bolsonarista trata o homem mais solidário da cidade como “cafetão da miséria”.
No momento em que o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revela um salto de 935,31% na população de rua nos últimos dez anos no país, o trabalho de acolhimento na paróquia da Mooca se torna cada vez mais necessário e exemplar. São pelo menos 227 mil brasileiros e brasileiras sobrevivendo nas calçadas e nos viadutos — em 2013 eram 21,9 mil pessoas.
Com o padre Júlio por testemunha, o presidente Lula anunciou o plano Ruas Visíveis. O ministro Sílvio Almeida (Direitos Humanos) vai coordenar ações com um investimento de quase R$ 1 bilhão para melhorar a vida dos desamparados. “Eu existo”, eis o mote da campanha repetido na tv por personagens do Brasil real que dormem ao relento.
No que me lembro de um pequeno poema, quase um haicai, de Giovani Baffô: “Em casa de menino de rua,/ o último a dormir apaga a lua”.
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