ICL Notícias

Milhares de pessoas na Alemanha e na Argentina fizeram manifestações antifascistas nesse final de semana. Em Berlim, no domingo (02) cerca de 160 mil pessoas (de acordo com a polícias) ou 250 mil (de acordo com a organização) se reuniram em um protesto contra a aproximação entre a direita e a extrema direita alemãs, a três semanas das eleições parlamentares.

Em Buenos Aires, a manifestação foi organizada por movimentos populares como resposta ao discurso de ódio do presidente Javier Milei no sábado (01). Em pronunciamento no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, na quinta-feira (23), ele atacou ideais progressistas, como o feminismo, o ambientalismo e a identidade de gênero.

Manifestação em Berlim: ‘Somos a barreira de proteção’

Em Berlim, os manifestantes se concentraram em frente ao parlamento alemão, o Bundestag, e posteriormente marcharam até a sede do partido conservador (CDU).

O protesto acontece a três semanas das eleições legislativas na Alemanha, com o objetivo de “fazer o maior barulho possível para pedir aos partidos que se dizem democráticos que protejam essa democracia”, disse à AFP Anna Schwarz, uma manifestante de 34 anos.

A mulher — que relatou ser a primeira vez que participa de um ato político — afirmou que “não é possível ignorar isso, é muito grave”.

Os manifestantes rejeitaram a decisão tomada nesta semana pelos democratas cristãos conservadores do partido CDU, de Friedrich Merz, de contar com os votos do movimento de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) em uma tentativa frustrada de aprovar conjuntamente um projeto de lei para limitar a imigração.

Essa aliança de fato rompeu um tabu político no país, onde desde a Segunda Guerra Mundial os partidos tradicionais têm se recusado a qualquer cooperação em nível nacional com a extrema direita, uma estratégia chamada de “cordão sanitário”. Muitos manifestantes acusaram Merz, favorito para as eleições de 23 de fevereiro, de fazer um “pacto com o diabo”.

Manifestantes em Berlim criticam aproximação do CDU aos partidos de extrema-direita, como AfD (Foto: Reuters)

Merkel criticou estratégia de Merz

“Somos a barreira de proteção”, “Que vergonha, CDU” ou “Merz sem coração” eram algumas das frases vistas nos cartazes exibidos pelos participantes.

Merz “quer romper o cordão sanitário contra os extremistas de direita com um grande golpe”, denunciou a ONG de esquerda Campact, que convocou o protesto em Berlim.

O chefe do governo alemão, o social-democrata Olaf Scholz, que havia alertado sobre o risco de uma aliança entre AfD e CDU para governar, comemorou em sua conta no X a grande concentração de domingo: “Centenas de milhares de cidadãs e cidadãos de todo o país: Nunca com a extrema direita”, escreveu.

Michel Friedman, um dos poucos membros do CDU que se rebelou contra a tentativa de aproximação com a AfD, a ponto de abandonar o partido, se dirigiu à multidão em Berlim para lembrar “a promessa” consagrada na Lei Fundamental alemã: “A dignidade do ser humano é inviolável”.

“O partido do ódio (AfD) é um problema fundamental neste país”, declarou Friedman, uma figura da comunidade judaica alemã.

A ex-chanceler Angela Merkel, do mesmo partido de Merz, quebrou o silêncio na quinta-feira (30) para classificar sua estratégia como “um erro”. Embora Merz rejeite a ideia de uma coalizão nacional com a AfD, “ele já traiu sua palavra na semana passada, como confiar nele?”, disse à AFP Matina Beibel, manifestante em Berlim.

No sábado (01), mais de 220 mil pessoas protestaram nas principais cidades do país, como Hamburgo, Leipzig, Colônia e Stuttgart, segundo dados divulgados pela emissora pública ARD.

Manifestantes da Marcha do Orgulho Antifascista e Antirracista são contra projetos antidiversidade de Mileir (Foto: Redes sociais)

Buenos Aires: Orgulho antifascista e antirracista

A Marcha do Orgulho Antifascista e Antirracista, manifestação realizada em Buenos Aires, no sábado (01) foi uma resposta direta ao pronunciamento de Javier Milei no Fórum Econômico Mundial, em Davos. No discurso, o presidente argentino acusou as pessoas trans de estarem “prejudicando irreversivelmente crianças saudáveis através de tratamentos hormonais e mutilações”.

Milei também defendeu as duras políticas de austeridade econômica de seu governo, apesar do impacto sobre as populações mais pobres da Argentina; e elogiou líderes da extrema direita mundial, como Donald Trump, Benjamin Netanyahu, Viktor Orbán e Giorgia Meloni.

“A resposta à violência econômica, à perseguição política e à repressão sexual do governo de Javier Milei tem as cores da nossa comunidade. Juntos e em aliança por todo o país, articulando todas as nossas diferenças, precisamos uns dos outros agora”, foi a mensagem da assembleia antifascista LGBTIQA+, enviada para convocar a grande mobilização.

Para a manifestante Daniela Pugliese, as declarações do presidente despertam medo. Mulher transexual, ela relata a discriminação sofrida no cotidiano. “Consideraram mais a minha imagem do que a minha capacidade. Sou uma pessoa formada, tenho diploma superior, ensino médio completo, experiência profissional e, ainda assim, me custou horrores conseguir trabalho”, lamenta.

Pugliese segurava um cartaz com os dizeres “Sou parte desta sociedade. Basta de ódio”. “Querem que tenhamos um retrocesso (…) Temos direito de viver, somos parte, temos direito de estar aqui, de trabalhar de ter filhos, de ter família, de ser parte de uma família”, ressalta.

“A importância de estar aqui é pela democracia, direitos humanos, e isso tem que ser valor em todo o mundo”, diz um manifestante, identificado como Pablo. “Na Ásia, na Europa, na América do Norte, em toda a América Latina a democracia está em perigo”, alerta.

Entre os participantes da marcha estão as organizações de direitos humanos e integrantes dos coletivos Mães da Praça de Maio e Avós da Praça de Maio, que se unirão a centrais sindicais como a Associação de Trabalhadores do Estado (ATE), a Central Sindical dos Trabalhadores Argentinos (CTA) e a CTA-A, a Confederação Geral do Trabalho (CGT), entre outras dezenas de movimentos políticos e sociais.

Relacionados

Carregar Comentários

Mais Lidas

Assine nossa newsletter
Receba nossos informativos diretamente em seu e-mail