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Brasil deixa liderança do ranking de maior juro real do mundo. Economista André Roncaglia explica como queda na Selic afeta o bolso da população

Na avaliação do economista e comentarista do ICL Notícias André Roncaglia, a taxa de juros do país continua alta e o próprio Copom reconhece que a "política monetária continua contracionista".
21/09/2023 | 14h37

Com o corte de ontem (20) de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic), anunciado pelo Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, o Brasil deixou a posição inglória de ser o líder dos países com o maior juro real do mundo (descontada a inflação). Mas, ainda que se possa comemorar a queda, é importante se ter em mente que, sim, os juros no Brasil continuam elevadíssimos e penalizando principalmente as camadas mais vulneráveis da população.

A decisão anunciada ontem baixou a Selic de 13,25% para 12,75% ao ano. Levantamento compilado pelo MoneYou e publicado pelo site G1, mostra que o Brasil ocupava a liderança da lista de país com a maior taxa de juro real do mundo desde outubro de 2022. Agora, esse lugar é ocupado pelo México.

O juro real é formado pela taxa de juros nominal do país (no caso, a Selic) subtraída a inflação prevista para os próximos 12 meses. Com a segunda queda consecutiva da Selic no patamar de 0,50 p.p., os juros reais do Brasil ficam agora em 6,30%. Em primeiro lugar, o México acumula juros reais de 6,61%. Depois vêm Brasil, Colômbia (5,1%) e Hungria (5,05%).

Quando se levam em conta os juros nominais (sem descontar a inflação, ou seja, a Selic), a taxa brasileira caiu da quarta para a sexta posição.

Na dianteira está a Argentina, com 118% ao ano, seguida por Turquia (25%), Hungria (14%), Colômbia (13,25%), Rússia (13%) e Brasil (12,75%).

“A taxa [brasileira] ainda é bastante elevada e o próprio Comitê de Política Monetária reconhece que a política monetária continua contracionista”, disse o economista André Roncaglia, comentarista de economia do ICL Notícias, live diária transmitida via redes sociais.

O especialista se referiu ao fato de que, no comunicado divulgado com a decisão, o próprio Copom reconheceu aquilo que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e equipe econômica vinham falando sobre a economia: os juros altos estavam impedindo a retomada econômica.

Diz trecho do comunicado: “Em relação ao cenário doméstico, observou-se maior resiliência da atividade econômica do que anteriormente esperado, mas o Copom segue antecipando um cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres”.

“Vamos imaginar um carro: o Banco Central define a marcha em que o carro [economia] está andando. Se ele deixa a política monetária mais solta, é como se a gente estivesse passando de marcha e permitindo que o carro acelere mais. Essencialmente, o que a gente tem agora é a economia funcionando em primeira marcha. A gente está indo muito devagar, a economia está fazendo muita força para continuar operando e requer que o governo acelere mais para que ela tenha esses resultados positivos que a gente está observando”, comparou Roncaglia em seu comentário na edição desta quinta-feira (21) do ICL Notícias.

Para Roncaglia, grande questão agora é ver o quanto o Copom vai conseguir avançar na redução da Selic

Selic

André Roncaglia. Crédito: Reprodução ICL Notícias

Ainda que o Brasil tenha deixado a liderança do ranking de maior juro real do mundo, a política monetária continua “bastante contracionista”, segundo Roncaglia.

Isso porque o juro real é aquele que de fato afeta o mercado de crédito. “Saímos da primeira posição e passamos para a segunda. Mas ainda temos uma das maiores taxas do mundo, ainda temos condições financeiras muito difíceis para as empresas que têm que pagar uma taxa de juros muito elevada para financiar suas operações, para financiar investimentos, para aumentar emprego e renda”, disse. “O grande problema agora é quanto a gente vai conseguir avançar nessa queda nos próximos meses”, complementou.

Como a Selic é usada como base para todas as demais taxas usadas no país, é preciso ver como essa redução será sentida lá na frente, uma vez que os efeitos das decisões do Copom não são sentidos tão imediatamente.

“O que afeta para a vida das pessoas é, por exemplo, esperar que haja uma redução da taxa de juros que é cobrada no crediário, que é cobrada do consumidor. Só que o nível da taxa de juros no Brasil que é cobrada do consumidor é tão elevado – estamos falando de taxas como do rotativo, do cartão de crédito ou do cheque especial, que passam dos 300% ao ano – que o efeito disso na margem é muito pequeno”, avaliou.

De todo modo, esse efeito já é sentido, por exemplo, na queda dos preços dos alimentos, que afetam diretamente o consumidor de baixa renda, que usa seu dinheiro basicamente para sobreviver.

“Os alimentos são produtos que estão tendo queda de preço mais acelerada e eles estão ajudando a convencer o Banco Central a manter esse ritmo de queda na taxa de juros os preços. Por outro lado, os combustíveis, que são aqueles que estão de certa maneira pressionando a inflação para cima, também afetam o consumidor”, disse.

Na prática, a queda da taxa da Selic, por ora, tem efeito mais indireto na vida das pessoas, de modo geral, uma vez que deve facilitar que investimentos aconteçam e, com isso, pode-se acelerar a taxa de empregabilidade e melhora na renda.

“Agora, não é só essa decisão que vai gerar esse efeito. A gente tem um conjunto de decisões, como o Desenrola Brasil [programa de renegociação de dívidas do governo federal], hoje os bancos públicos já reduziram a taxa de juros no [crédito] consignado já seguindo a tendência de queda da taxa Selic”, disse.

Por ora, segundo o economista, está havendo uma acomodação da economia em relação a esses dados, mas a expectativa é de que, no futuro, o juro menor facilite o crédito ao consumidor, a empregabilidade e a renda.

Redação ICL Economia

Com informações das agências de notícias, do G1 e do ICL Notícias

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