Por Tania Malheiros — Blog
A Eletronuclear mantém o silêncio sobre o caso do trabalhador terceirizado que, na quarta-feira passada (27/11), subtraiu uma junta metálica do gerador de vapor, em área controlada de Angra 2, durante a vigésima parada para a troca de combustível (urânio enriquecido) da usina nuclear.
Para a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) trata-se de uma “violação radiológica” considerada “muito grave” em Angra 2. Servidores da organização farão uma inspeção na central nuclear para apurar esse incidente, entre outras situações planejadas.
Conforme a Eletronuclear informou na semana passada, “técnicos de proteção radiológica que estavam no ponto de controle imediatamente iniciaram a investigação, identificando contaminação radiológica superficial na parte frontal do corpo e nos braços do colaborador”.
Quem é o trabalhador, suas funções e por que estava na área controlada, a companhia não respondeu. Onde o sistema falhou a ponto de o trabalhador entrar na área reservada, remover uma peça e ainda a jogar no lixo? A pergunta não foi respondida pela Eletronuclear, assim como outras.
Informada do problema no mesmo dia, a CNEN mobilizou o Serviço de Segurança Radiológica (SESER) e a Divisão de Segurança Física e Normas (DISEN), que estão acompanhando a apuração o caso. Qual o prazo para a conclusão da apuração? “Com a brevidade que o caso requer. As duas divisões estão trabalhando no caso com aproximadamente uma dezena de profissionais”, informou a CNEN.
Um relatório de “Comunicação de Evento à CNEN”, submetido pela Eletronuclear, apontou que “a saúde do trabalhador foi devidamente avaliada não sendo detectado nenhum prejuízo decorrente do evento”. Mesmo assim, afirmou que a Comissão continuará acompanhando as ações da companhia monitorando a saúde do trabalhador, após o seu desligamento, o que já aconteceu, pois ele foi demitido.
Dentro da área controlada de Angra 2 há locais específicos para descarte de peças contaminadas que passarão por um processo de descontaminação, assegura a CNEN. “Apenas as peças que não forem contaminadas por completo é que se tornam rejeito e recebam tratamento como tal”.
Quando o caso ocorreu, a companhia informou que a peça seria considerada rejeito radioativo. O que fazia na área controlada? Outra pergunta não respondida pela Eletronuclear. “Faz parte da atuação da CNEN inspeções específicas durante a parada das usinas, além das realizadas de forma rotineira pelos inspetores residentes. Mas em toda parada há a inspeção do SESER, que tem como principal objetivo o acompanhamento de todos os relatórios de eventos relacionados à proteção radiologia”, informou a Comissão, que atravessa momento dramático com a escassez de pessoal.
CNEN supervisiona Angra 1 e 2, além de outras unidades
A CNEN foi criada em 1956. A Comissão regula, licencia e fiscaliza o setor nuclear. O acidente com uma cápsula de césio-137, em Goiânia, em 1987, expôs a necessidade de a sobrecarga de responsabilidades ser avaliada pelo governo.
O governo Bolsonaro criou a Autoridade de Nacional de Segurança Nuclear (ANSN), que dividiria a CNEN, ficaria com a parte da fiscalização, mas que depende de nomeações do Ministério de Minas e Energia (MME).
Além das centrais nucleares Angra 1 e Angra 2, a CNEN supervisiona cerca de quatro 4.500 unidades que operam com material radiativo no País, abrangendo áreas como medicina nuclear, radioterapia e indústria.
Dez anos sem concurso público, a CNEN possui 1.900 cargos efetivos vagos. Foram solicitadas 1.082 vagas para concurso, mas apenas 150 foram direcionadas para a Comissão. Esperam edital para janeiro de 2025. E a população espera que nada de mais grave aconteça na área nuclear, que demande uma atuação ainda maior.
A Eletronuclear não retornou a nenhuma das solicitações e pedidos de esclarecimentos.
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