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Adaílton Moreira Costa

Babalorixá do Ile Axé Omiojuarô, Doutorando em Bioética PPGBIOS UFRJ. Mestre em Educação Proped UERJ. Graduado em Ciências Sociais PUC RJ

Ano velho, ano novo?

Nos despedimos do ano que se vai buscando boas novas neste que se apresenta
31/12/2023 | 14h01

Nos despedimos do ano que se vai, buscando boas novas neste que se apresenta.

A eterna busca de boas novas por parte dos seres humanos, de uma vida com qualidade e harmonia seria o ideal, se não fosse utópica, em decorrência de eternas práticas tacanhas de que não conseguimos nos desvencilhar.

Refletir, repensar, se reler, se auto analisar, já seria um exercício de titãs, pois somos movidos por interesses, acordos e um senso de individualidade que não é fácil tirar de nosso cotidiano.

O mundo moderno capitalista vai nos enredando em tramas que dificultam que saiamos deste turbilhão do conforto e conformismo, da mesmice de uma vida em principio civilizada e desenvolvida.

As relações, sejam sociais, culturais, familiares, religiosas ou profissionais, tendem a se afastar dessa busca por uma boa nova, que tanto alardeamos por aí (teoria e prática são conceitos distanciados de um fazer).

Passamos por momentos difíceis nesses últimos anos, regime politico fundamentalista e genocida, pandemia, feminicidios, racismos e tantas outras mazelas. Acreditávamos que iriamos acordar do pesadelo, (principalmente em virtude da pandemia) e teríamos outras formas de viver e conviver em sociedade, coletividade.

É inconcebível que após o advento da pandemia, tantas mortes pelo mundo não nos sensibilizamos no sentido  de fazermos um inventário de nossas práticas humanas em relação com o outro e com o planeta.

Ano novo, práticas velhas!

Mas continuo nessa busca, continuo acreditando em nós, o ser humano não é somente autodestruição. Muito ao contrário, existem contracorrentes que lutam e enfrentam esse fazer de violência.

Os transgressores da ordem vigente – que faz o mundo desigual e desumano, onde o que conta é o que se tem – são os fazedores de um bem viver, exemplificando com suas práticas, para que as pessoas e a sociedade possam investir em suas diferenças, com suas subjetividades e culturas plurais.

É importante que acordemos para saudar esse novo ano que se apresenta, que não tenhamos medo de abraç[a-lo com suas novidades, que nos são ofertadas como um presente que ainda não foi aberto, e nos surpreendamos e nos alegremos com o novo.

Para isso, a mente e o corpo têm que estar descontaminados e desintoxicados das antigas práticas cômodas e confortáveis que nos engessam e paralisam.

É necessário que nos indignemos com a depredação do meio ambiente, a fome, a situação de crianças abandonadas, o genocídio da população negra, o feminicidio, o racismo estrutural em nosso país e no mundo.

Sem estarmos com nossas lentes abertas e afetadas por essas questões não há por que saudarmos o Ano Novo, pois ele não virá, será o mesmo ano velho, de práticas envernizadas, de nossas ações antigas, que vão nos adoecendo na conformidade da individualidade deste mundo apartado de amor, solidariedade e empatia verdadeira.

Não quero fazer um bem viver preocupado em ser um “homem de bem”, preciso fazer um bem viver por ser correto  e de direito, por mim, por nós, sem estar buscando individualmente a minha salvação eterna no paraíso.

Estou aberto ao Novo Ano, sempre estive, me alegrando e refazendo o meu inventário diário de práticas, sem ser hipócrita e medíocre, me possibilitando sorrir pelo novo que me oferta viver novas experiências.

O projeto de desenvolvimento civilizacional deve ser o projeto da existência do nós.

Bem vindo Novo Ano, estou aberto!

Hope.

 

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