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Por Rodrigo Viana, do Chile

Na segunda-feira (18) após o plebiscito constitucional, uma intervenção artística amanheceu no centro de Santiago: uma escultura em metal do mapa do Chile torcido sobre si mesmo imitando uma cobra que come a própria cauda. A escultura foi logo retirada pelos Carabineros, a polícia chilena.

A escultura, feita pelo coletivo artístico Instituto de Motricidad Fina (IMF), de Valparaíso, representava a figura mitológica de Ouroboros. O símbolo da cobra, e em algumas aparições um dragão, que come a própria cauda representa o eterno retorno, a morte e a reconstrução.

A figura se conecta diretamente com os resultados dos dois processos constitucionais chilenos.

Em 2021, os chilenos decidiram em plebiscito que queriam uma nova Carta Magna. Dois anos depois, a maioria do eleitorado recusou duas propostas, uma mais progressista e outra mais conservadora. Ou seja, o país decidiu manter a constituição de 1980, redigida por Augusto Pinochet.

“O que a princípio parecia um despertar aos poucos foi adquirindo complexidades mais profundas, descartando qualquer possibilidade de resolução exata. Depois dos plebiscitos, a dupla metáfora do ouroboros oferece a possibilidade de um renascimento e a segunda de um autoextermínio”, afirma o coletivo IMF.

O palco da escultura também tem grande simbolismo. A praça Itália era antigamente chamada de praça Baquedano em referência à estátua deste general erguida sobre um pedestal. Em 2019, o local foi o centro das manifestações populares conhecidas como Estallido Social e, seu general, danificado.

Desde então a estátua foi retirada, a praça foi rebatizada de Dignidade e se mantém constantemente vigiada pelos Carabineros. Foi neste centro simbólico de manifestação chilena que o coletivo conseguiu erguer sua mensagem.

O Instituto de Motricidade Fina já havia feito outra intervenção artístico-política em Valparaíso. Um miguelito gigante foi posicionado em frente a uma farmácia reconhecida por ter sido incendiada durante os protestos de 2019.

Ao ICL, o coletivo afirmou que o objetivo da obra é uma fuga da realidade. “Nas últimas semanas de outubro de 2019, a vida era surreal ou hiperreal, ou seja, uma confusão difícil de resolver. As pessoas sempre falam dos efeitos terapêuticos da arte e isso é real, nunca será clichê”.

Sobre expor a escultura em um lugar tão central de Santiago, o coletivo afirma que “O fato de compreender e utilizar os espaços públicos como sala de exposições busca gerar momentos de surpresa, fascínio e reflexão nas pessoas que diariamente percorrem a cidade”.

O QUE É O OUROBOROS?

O Ouroboros é um conceito ligado à mitologia egípcia. O primeiro registro de sua aparição foi encontrado em um texto religioso egípcio do século XIV A.C., na tumba do rei Tutancâmon. O símbolo aparece em uma passagem sobre a origem do deus do sol Rá através de uma união com o deus da morte Osíris no submundo.

Ao longo da história, o Ouroboros também foi utilizado como um símbolo agnóstico e ligado à alquimia, representando a união entre o espiritual e o material.

 

 

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