Em 2024, a pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil“, do Instituto Pró-Livro, revelou um dado alarmante: pela primeira vez, o número de não leitores no país ultrapassou o de leitores.
Este cenário nos faz questionar qual a importância da leitura em uma sociedade cada vez mais conectada e digital. A literatura, que por séculos foi o principal meio de transmissão cultural e formação intelectual, enfrenta novos desafios em tempos pós-modernos, onde a informação circula em alta velocidade e nossa atenção é constantemente disputada.
Afinal, a importância da leitura transcende o simples ato de decodificar palavras.
Aqui vamos entender como que em uma era marcada pela informação fragmentada, os livros e a leitura ainda devem ser priorizados. Não só isso, vamos analisar o cenário da leitura no país, a decadência de livrarias físicas e aprender dicas para continuar lendo — e resistindo.
O cenário da leitura no Brasil
O panorama da leitura no Brasil apresenta dados que merecem reflexão sobre o impacto e o futuro dos nossos leitores. Segundo o mesmo levantamento de 2019 do Instituto Pró-Livro, 53% dos brasileiros não haviam lido nenhum livro — impresso ou digital — nos três meses anteriores à pesquisa.
O dado contrasta drasticamente com outro recorde nacional: o Brasil lidera o ranking global de tempo de tela por pessoa.
Em média, os brasileiros passam mais de 9 horas diárias conectados a dispositivos eletrônicos, consumindo conteúdo digital em diversas plataformas. Ou seja, estamos lendo cada vez menos livros enquanto passamos mais tempo no digital.
A verdade é que continuamos lendo, sim, mas o que lemos mudou. São legendas de posts nas redes sociais, palavras rápidas nos vídeos do Tik Tok, mensagens nos stories, ou as conversas no WhatsApp. Ainda lemos o tempo todo, mas quase nunca estamos diante da literatura como antes.
A literatura, tradicionalmente vista como fonte primária de conhecimento e entretenimento, compete agora com uma infinidade de opções digitais que prometem gratificação instantânea.
São os vídeos curtos, podcasts e séries de TV que oferecem conteúdo facilmente digerível, criando um contraste com a leitura, que exige tempo, concentração e dedicação.
A importância da leitura, no entanto, não diminui diante desses novos hábitos.
Pelo contrário, torna-se ainda mais relevante como forma de desenvolver habilidades cognitivas que outros meios de comunicação não conseguem proporcionar da mesma maneira. A literatura oferece uma experiência imersiva única, capaz de expandir nossa compreensão do mundo e de nós mesmos.

A 6ª edição do levantamento “Retratos da Leitura no Brasil” aponta perda de quase 7 milhões de leitores em 4 anos. Imagem: Lunetas
Tempo de leitura x Tempo de tela
Precisamos debater sobre a tecnologia e a leitura, mas entender que o problema não é a tela em si, e sim o que fazemos com ela.
A tecnologia pode ser uma aliada na democratização do acesso à literatura, oferecendo bibliotecas digitais, e-books gratuitos e plataformas que conectam leitores ao redor do mundo. Nós devemos proteger e defender que a internet seja uma aliada dos estudos, mas que encontre exatamente esse lugar em nossas vidas: de coadjuvante, não de protagonista.
Afinal, o que realmente importa é a qualidade do conteúdo consumido e a profundidade da experiência de leitura. Um e-book lido com atenção e reflexão pode proporcionar os mesmos benefícios da leitura de um livro físico.
E mais: o acesso ao livro impresso ainda é desigual no país, marcado por barreiras econômicas, raciais e territoriais. Enquanto muitas comunidades não possuem livrarias ou bibliotecas adequadas, o preço dos livros novos também permanece inacessível para grande parte da população.

Pesquisa do IBGE indica que, em média, há 1 biblioteca pública para cada 30 a 33 mil habitantes no Brasil, número muito inferior ao dos EUA (1 para 19 mil) e de países como a República Tcheca (1 para 1.970). Imagem: reprodução
O acesso à leitura no Brasil
Não devemos promover uma valorização romântica do hábito da leitura, mas devemos reconhecer que o incentivo à leitura passa por políticas públicas, bibliotecas comunitárias e acesso à literatura em formatos acessíveis — inclusive os digitais.
A democratização da leitura exige um olhar realista sobre as desigualdades sociais que permeiam nosso país.
A importância da leitura como ferramenta de transformação social é inegável, mas sua efetivação depende de iniciativas concretas. É preciso que tenhamos políticas públicas como programas governamentais de distribuição gratuita de livros, criação de bibliotecas em comunidades periféricas e incentivos fiscais para editoras, como forma de garantir a ampliação do acesso à literatura.
Outra instituição esquecida são as bibliotecas públicas que desempenham papel fundamental neste processo.
Além de oferecer acervo gratuito, estes espaços podem funcionar como centros culturais, promovendo eventos literários, clubes de leitura e atividades educativas que estimulem o interesse pelos livros.
Lojas como os sebos podem ser apontadas como um bom exemplo para acessar livros a um preço menor. Estes comerciantes não apenas tornam a literatura mais acessível economicamente, mas também promovem um ciclo sustentável ao promover a reutilização.

Segundo o Instituto Pró-Livro, apenas as faixas de 11-13 anos e 70+ mantiveram o percentual de leitores em relação ao restante da população no Brasil. Imagem: divulgação
Livros impressos e digitais
Outro dado da mesma pesquisa já mencionada acima, o “Retratos da Leitura no Brasil“, retrata que a leitura no país está passando por uma mudança significativa.
No relatório, 75% dos leitores brasileiros utilizam o celular como dispositivo principal para consumir livros digitais, um crescimento de 73% para 75% entre 2019 e 2024. Esta mudança reflete uma adaptação natural às tecnologias disponíveis e aos hábitos contemporâneos de consumo de mídia.
Concordando ou não, é preciso admitirmos que o celular emergiu como a principal porta de entrada para a literatura digital, oferecendo praticidade e portabilidade. Com um smartphone, é possível carregar uma biblioteca inteira no bolso, ler durante deslocamentos urbanos e aproveitar momentos livres para a leitura.
Simultaneamente, o mercado de livros físicos enfrenta desafios estruturais. Nos últimos dez anos, o número de livrarias de rua no Brasil caiu de 3.073 para 2.972, segundo dados da Associação Nacional das Livrarias. Este fechamento de estabelecimentos físicos reflete mudanças nos hábitos de consumo, aumento dos custos operacionais e, claro, a concorrência com plataformas digitais.
Qual a importância da leitura neste novo cenário? Ela reside na capacidade de adaptação às diferentes preferências e necessidades dos leitores. Alguns preferem o cheiro e a textura do papel, outros apreciam a praticidade do digital.
O fundamental é que ambos os formatos continuem existindo, oferecendo opções para todos os perfis de leitores.

Segundo a pesquisa “Retratos da Leitura Digital Brasil 2024”, 57% dos leitores preferem livros impressos, enquanto 22% optam por livros digitais e 21% não fazem distinção entre os formatos. Imagem: reprodução
5 dicas para desenvolver o hábito da leitura
Desenvolver o hábito da leitura exige estratégia e constância, mas os benefícios da leitura fazem cada minuto valer a pena. Afinal, incorporar mais literatura no cotidiano é uma forma de ampliar horizontes, repensar a realidade e cultivar um espaço de reflexão em meio ao caos.
E o melhor: não é preciso ser um “leitor nato” para começar. Qualquer pessoa pode desenvolver esse hábito. Aqui vão cinco dicas práticas para tornar a leitura parte da sua vida, sem culpa e com prazer.
1. Comece devagar, mas mantenha a frequência
Estabeleça metas realistas, como ler 15 minutos por dia ou algumas páginas antes de dormir. A importância da leitura está mais na regularidade do que na quantidade. Ler um pouco todos os dias é melhor do que maratonar um livro uma vez por mês. Com o tempo, a prática vira hábito.
2. Explore gêneros e formatos variados
Descubra o que te encanta. Ficção, não-ficção, romance, biografias, crônicas, poesia… Cada gênero tem algo único a oferecer. Alterne entre livros físicos e digitais conforme sua rotina. A diversidade mantém o interesse e amplia seu repertório cultural.
3. Aproveite os momentos livres
Tenha sempre um livro por perto, seja na mochila ou no celular. Identifique brechas no seu dia, seja no transporte, na fila do banco ou antes de dormir e transforme esses intervalos em oportunidade de leitura. A literatura pode ocupar esses espaços com beleza e sentido.
4. Leia em grupo
Participe de clubes de leitura, grupos online ou rodas literárias na sua comunidade. Compartilhar leituras enriquece a experiência, estimula o pensamento crítico e mantém a motivação em alta. Conversar sobre livros é, muitas vezes, tão prazeroso quanto lê-los.
5. Abandone livros sem culpa
Não gostou do livro? Troque. A vida é curta demais para insistir em histórias que não te tocam. A importância da leitura também está no prazer e na liberdade de escolha. Ler deve ser um encontro, não uma obrigação.
Conclusão
Em tempos pós-modernos, onde a informação nos alcança em fragmentos e a alta velocidade dita o ritmo da vida, a leitura permanece como um ato profundamente transformador.
Afinal, a importância da leitura vai além da aquisição de conhecimento: ela nos conecta com o outro, nos permite imaginar futuros possíveis e fortalece nossa autonomia intelectual.
Neste cenário, promover o acesso à literatura se tornou também um gesto político.
Precisamos de políticas públicas que incentivem o hábito da leitura, de bibliotecas vivas nas periferias, de escolas que tratam o livro como instrumento de liberdade, e de uma cultura que valorize o tempo da reflexão. Sim, os formatos mudaram: o papel agora divide espaço com a tela, mas qual a importância da leitura, afinal?
É ela quem nos ajuda a decifrar o mundo, a ampliar nossos horizontes e a desenvolver pensamento crítico num tempo em que tudo parece superficial. É ela quem precisa ser valorizada e defendida porque independente do formato, o importante é o resultado.
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