É cada vez mais comum encontrarmos crianças usando tablet, celular e computador desde muito pequenos. As idas ao shopping escancaram a nova realidade: crianças preferem os jogos online a viver o tédio dos dias comuns que a realidade proporciona.
Essa percepção é apoiada quando entendemos que cerca de 85% das crianças brasileiras entre 10 e 13 anos têm acesso à internet, de acordo com uma pesquisa realizada pelo IBGE em 2023. Mas a questão é ainda mais urgentea: uma pesquisa feita pela Panorama Mobile Time/Opinion Box com mais de 2 mil brasileiros em outubro de 2024 traz o retrato da realidade das crianças que usam smartphones no Brasil.
Entre as respostas dos pais entrevistados podemos destacar os seguintes dados mais alarmantes:
- 30% das crianças de 0 a 3 anos não tem smartphone, mas usa o dos pais;
- 10% das crianças entre 0 a 3 anos, 30% das crianças de 4 a 6 anos, 49% das crianças entre 7 e 9 anos e 76% das crianças entre 10 e 12 anos já possuem um smartphone próprio;
- Em média, a criança brasileira ganha o seu primeiro smartphone aos 10 anos.
Entenda quais são os perigos da internet para crianças e adolescentes, as diretrizes sugeridas pelo SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), o ECA (Estatuto da Criança e Adolescente) e as consequências da dependência digital na saúde mental da juventude brasileira.
Crianças e adolescentes na internet
Nos últimos anos, a internet tomou conta da vida das crianças – o que antes era pega-pega, brincar de casinha ou fazer casa na árvore, hoje em dia foi substituído por Roblox, Minecraft, jogos de videogame ou a trend mais recente do Tik Tok.
Embora essa conectividade, de certa forma, permita o acesso à educação, entretenimento e conexões pessoais, ela também expõe as crianças a riscos como conteúdo adulto inadequado, dependência digital e até cyberbullying.
É importante dizer que o acesso desenfreado de crianças à internet as expõe aos mesmos perigos do mundo digital que também afetam os adultos. No entanto, os adultos, além de terem um cérebro mais desenvolvido, costumam ter maior responsabilidade e discernimento para filtrar conteúdos, comportamentos e associações.
Apesar de termos, hoje em dia, mecanismos para filtrar o acesso à internet das crianças, isso não evita por completo as consequências que a internet causando no comportamento e educação da juventude atual.
A Geração Z na internet
A Geração Z, também conhecida como a primeira geração dos “nativos digitais”, é a geração de pessoas que evoluíram junto com a tecnologia. Nascidos entre 1997 e 2009, esses jovens cresceram com os avanços digitais e fácil acesso à internet, celulares e redes sociais.
Porém, os jovens da Geração Z ainda possuem um pé nos costumes das gerações anteriores e conseguem valorizar o analógico, ao contrário de quem nasceu em um mundo imersivo na tecnologia: as crianças da Geração Alpha.
A Geração Nativa Digital
Enquanto a Geração Z nasceu durante o desenvolvimento da tecnologia, a Geração Alpha nasceu imersa na internet – a primeira geração 100% nativa digital. Ou seja, as crianças de hoje em dia, especificamente aquelas nascidas a partir de 2010, enxergam o mundo de uma maneira inédita: através de uma tela.
Por mais que as crianças da Geração Alpha ainda sejam, de fato, as nossas crianças hoje em dia, os riscos da hiperconectividade já começaram a aparecer. Por exemplo, um estudo recente observou crianças de 3 a 5 anos que usavam tablets com frequência apresentaram impactos negativos na saúde mental e comportamento. As crianças que participaram da pesquisa usavam tablets diariamente e, um ano depois, começaram a apresentar explosões de raiva, frustração repentina e baixo interesse em tudo aquilo que não era os chamados “joguinhos”.
Mas quais são as consequências do uso desenfreado de tecnologia por crianças? Qual é o limite saudável, se é que existe um? Quais são as diretrizes esperadas para permitir ou não o uso de internet para crianças e adolescentes? Essas e outras respostas você verá a seguir.
Redes sociais e saúde mental
Assim como o videogame pode desenvolver dependência e prejudicar o desenvolvimento infantil, as redes sociais estão se tornando cada vez mais prejudiciais para crianças, adolescentes e até adultos. O debate sobre o limite de tempo de tela, os perigos da comparação, do cyberbullying, das crises estéticas e tantas outros temas corrosivos para a saúde mental de adultos agora também valem para as crianças nativas digitais.
Vemos uma tendência de crianças cada vez mais novas imersas no universo das redes sociais. A participação e o interesse dos pequenos vão desde as trends do Tik Tok, a vontade de criar conteúdo como as blogueiras para o Reels ou até trocar o “sonho de gente grande” por se tornar influenciador.
Porém, o uso excessivo pode impactar negativamente a saúde mental, contribuindo para ansiedade, dependência digital e até baixa autoestima. Além do âmbito mental, uma pesquisa publicada no JAMA Pediatrics sugere que o aumento de tempo de telas está conectado ao atraso no desenvolvimento infantil.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) alerta para a necessidade de limitar o tempo de exposição de crianças às telas. Aqui estão as recomendações específicas para cada faixa etária:
- Crianças menores de 2 anos: não devem ser expostas a telas digitais;
- Crianças de 2 a 5 anos: uso limitado a 1 hora por dia;
- Crianças de 6 a 10 anos: uso limitado a 2 horas por dia;
- Crianças e adolescentes de 11 a 18 anos: uso limitado a 3 horas por dia.
Navegação segura para crianças
Além da limitação do uso de telas, hoje em dia existem ferramentas para restringir e proteger crianças do acesso ilimitado de conteúdo na internet. Alguns exemplos destes mecanismos de controle parental são:
- Aplicativos de limitação de tempo de tela como o Screen Time ou o Freedom;
- Roteadores com controle parental como TP-Link e Netgear;
- Ferramentas dos próprios navegadores como Google SafeSearch e Google Family Link;
Dessa forma, ao combinar tempo máximo de tela e essas ferramentas de monitoramento, os pais terão o combo perfeito de recursos para não só proteger as crianças do ambiente digital, mas também garantir um desenvolvimento saudável durante sua infância e adolescência.
Regulação da internet e as Big Techs
Além dos riscos já ditos anteriormente, é importante falarmos sobre a participação das Big Tech na dependência digital de crianças e adolescentes. Empresas como Apple, Facebook e Instagram (Meta) e Microsoft são exemplos de gigantes do mercado que promovem e influenciam as principais tendências globais.
Como detentoras da comunicação mundial, as Big Techs também precisam ser responsabilizadas pela maneira como incentivam o uso desenfreado de internet e tecnologia por crianças. Os abusos dessas companhias vão desde anúncios exclusivos para crianças até o incentivo de uso prolongado de suas plataformas digitais.
Porém, a internet não é terra sem lei e hoje em dia temos regulamentações mais do que necessárias para proteger e controlar os dados, a privacidade e a saúde mental das crianças e adolescentes. Entre elas, o Marco Civil da Internet e o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) são legislações que protegem a privacidade e segurança de menores de idade ao exigir o consentimento de responsáveis para coletar dados, por exemplo.
Essa iniciativa também é protegida através da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) e inclui a restrição quanto ao uso de dados de menores de idade. A lei estabeleceu que todo tratamento de dados pessoais de crianças e adolescentes deve ter consentimento de um dos pais ou responsável, como também diz o Código Civil sobre menores de 16 anos serem incapazes de exercer os atos da vida civil – ou consentir com o seu uso de dados na internet, neste caso.
O mundo digital apresenta um cenário ambíguo para crianças e adolescentes: ao mesmo tempo que oferece oportunidades de aprendizado e conexão, também traz desafios preocupantes para a saúde mental e o desenvolvimento. É essencial equilibrar os benefícios e riscos, estabelecendo limites saudáveis e promovendo uma navegação segura.
A responsabilidade não deve recair apenas sobre pais e educadores, mas também sobre as gigantes da tecnologia, que precisam repensar suas práticas. Para proteger a próxima geração, é necessário um esforço coletivo que coloque o bem-estar infantil no centro das decisões, tanto dentro de casa quanto nas esferas legislativas e empresariais.
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