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Democracia: origem, tipos, contexto e lutas sociais

Da Grécia Antiga aos dias atuais: o que aprendemos sobre democracia?
06/05/2025 | 13h18
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A democracia é uma construção coletiva que atravessa séculos, territórios e já passou por diversas disputas. Embora tenha surgido na Grécia Antiga, o que entendemos hoje como sistema democrático é resultado de intensas transformações sociais, históricas e culturais.

Mais do que um regime político, a democracia é um compromisso com a liberdade, a igualdade e a participação popular. Por isso, vamos nos aprofundar nesse debate e entender sua origem, seus desafios e como defendê-la.

O que é democracia?

A democracia é um modelo de governo no qual o poder emana do povo. Esse sistema permite que os cidadãos escolham seus representantes por meio do voto. A palavra tem origem no grego antigo: demos (povo) e kratos (poder).

Por isso, seu significado literal é “governo do povo”, o que ajuda a entender o conceito de democracia que vamos discutir mais aqui. Porém, ao longo da história, o entendimento sobre quem faz parte desse “povo” mudou muito.

Em sua origem, a democracia não incluía mulheres, pessoas escravizadas ou estrangeiros – mas se transformou (e muito) por meio de lutas sociais e transformações culturais.

Assim, é fundamental compreender o histórico global, conceitos e as mudanças que aconteceram ao longo dos anos para que possamos defender o sistema democrático de direito.

Tipos de democracia

A democracia pode ser compreendida em três formas principais: a democracia direta, representativa ou participativa. Cada uma dessas formas tem características próprias e são fundamentais para compreender o funcionamento dos regimes democráticos atuais. Vamos lá:

A democracia direta é aquela em que o povo toma decisões sem intermediários. Isso era comum na Grécia Antiga, com assembleias abertas a todos os cidadãos livres e hoje encontra-se em países como a Suíça, onde referendos frequentes permitem que a população vote diretamente sobre leis e políticas públicas.

Já a democracia representativa é a mais comum hoje — nela, o povo elege representantes que tomam decisões em seu nome e é o sistema usado em grande parte dos países ocidentais. No entanto, exige transparência, participação e responsabilidade dos eleitos.

Existe ainda a democracia participativa, que combina os dois modelos. Ela incentiva a participação ativa da população mesmo com representantes eleitos e está presente em experiências como os orçamentos participativos de Porto Alegre e em diversas cidades europeias que utilizam plataformas digitais para consultas públicas.

O Orçamento Participativo de Porto Alegre permite que a população decida diretamente onde investir parte do orçamento público da cidade. Imagem: Luciano Lanes | PMPA

O Orçamento Participativo de Porto Alegre permite que a população decida diretamente onde investir parte do orçamento público da cidade. Imagem: Luciano Lanes | PMPA

O conceito de povo

É importante saber que o conceito de democracia muda conforme a definição de “povo”. Afinal, na teoria a democracia é para todos — mas, durante séculos, as mulheres, pessoas negras, pobres e analfabetos foram excluídos da vida política por não serem considerados dignos de participar do universo democrático.

Parece distante quando falamos sobre isso, mas no Brasil o direito ao voto universal só foi garantido a partir da Constituição de 1988. Antes disso, mulheres, analfabetos e jovens tinham direitos limitados.

Porém, com as lutas sociais e direitos civis, o significado de democracia foi se ampliando e hoje, a inclusão é considerada essencial para um sistema verdadeiramente democrático.

O povo é diverso, plural e coletivo e é nele que a democracia encontra seu sentido. Pintura: O Povo Brasileiro - Tarsila do Amaral

O povo é diverso, plural e coletivo e é nele que a democracia encontra seu sentido. Pintura: O Povo Brasileiro – Tarsila do Amaral

As principais histórias democráticas do mundo

Aprendemos na escola que a democracia moderna se consolidou com as Revoluções Americana e Francesa, que derrubaram regimes monárquicos e absolutistas para instituir sistemas baseados em princípios que, de fato, prometiam dar voz ao povo.

Foi nesse novo sistema que o voto foi consagrado como a potência democrática que é hoje — inclusive porque nos Estados Unidos, em 1787, a Constituição da época estabeleceu os fundamentos de um governo representativo com separação de poderes e eleições regulares.

No entanto, apesar do avanço governamental, as restrições de gênero e raça ainda impediram a participação plena de toda a população por mais de um século. Foi no século XX que o sufrágio feminino e os direitos civis ampliaram o conceito de democracia.

E são essas mazelas que alimentam o racismo e o machismo estrutural que precisamos enfrentar até hoje. A eleição de Donald Trump em 2025, marcada por discursos xenofóbicos, misóginos e autoritários, evidencia diariamente o quanto esses fantasmas ainda estão presentes na política estadunidense e no mundo.

Outro exemplo mais recente da expansão democrática global inclui o fim do regime de apartheid na África do Sul, nos anos 1990, e a realização de eleições livres em 1994. Embora o país ainda enfrente questões profundas, como a concentração fundiária nas mãos de pessoas brancas, esse foi um passo fundamental para a superação de um regime de exclusão racial.

Já nos anos 2000, a Primavera Árabe, iniciada em 2010 na Tunísia e espalhada por diversos países do Norte da África e Oriente Médio, foi marcada pelo uso das redes sociais para mobilizar protestos, denunciar abusos e articular ações políticas.

Pintura por Eugène Delacroix em 1830 para personificar os ideais da Revolução Francesa. Obra: A Liberdade Guiando o Povo - Eugène Delacroix

Pintura por Eugène Delacroix em 1830 para personificar os ideais da Revolução Francesa. Obra: A Liberdade Guiando o Povo – Eugène Delacroix

As lutas democráticas brasileiras

A democracia no Brasil passou por várias rupturas e retomadas. Entre os principais episódios estão o fim da monarquia, a República Velha marcada pelo coronelismo, a ditadura do Estado Novo, o golpe militar de 1964 e, mais recentemente, as ameaças institucionais no século 21.

Golpe de 64

O golpe militar de 1964 interrompeu a democracia no Brasil, instaurando um regime autoritário com apoio de setores civis, empresariais e internacionais. De forma resumida, o regime que durou 21 anos censurou a imprensa, perseguiu opositores, cassou mandatos e fechou o Congresso Nacional.

Não obstante, as eleições diretas para presidente foram abolidas, partidos políticos foram extintos e substituídos por um sistema controlado, e os direitos civis foram brutalmente reprimidos.

A CNV (Comissão Nacional da Verdade), em seu relatório final, reconhece 434 mortes e desaparecimentos políticos entre 1946 e 1988. Mas também é preciso lembrar que milhares de pessoas foram presas, torturadas e exiladas por se opor ao regime.

O Golpe Militar de 64 teve duração de 21 anos e centenas de mortos, desaparecidos e torturados. Imagem: Arquivo Nacional

O Golpe Militar de 64 teve duração de 21 anos e centenas de mortos, desaparecidos e torturados. Imagem: Arquivo Nacional

O 8 de janeiro

Em 2023, o Brasil enfrentou uma nova tentativa de ruptura da democracia. Extremistas, inconformados com o resultado legítimo das eleições presidenciais, invadiram violentamente as sedes dos Três Poderes em Brasília no dia 8 de janeiro.

O objetivo era contestar o resultado das eleições e instaurar um regime autoritário em um ato incentivado por discursos antidemocráticos e muita desinformação.

A mobilização da sociedade civil, da imprensa e das instituições mostrou a força da democracia diante de ameaças. Em poucos dias, mais de mil pessoas foram presas, e os acampamentos golpistas foram desmobilizados.

A tentativa de golpe não apenas evidenciou a resistência da democracia brasileira, como também reativou a memória coletiva sobre os horrores da ditadura militar.

O país aprendeu que esquecer é abrir caminho para que a história se repita – e é justamente por não esquecer que seguiremos vigilantes, para que nunca mais aconteça.

Pessoas pedindo pelo golpe na praça dos Três Poderes em Brasília. Imagem: Sergio Lima

Pessoas pedindo pelo golpe na praça dos Três Poderes em Brasília. Imagem: Sergio Lima

A atual democracia

Apesar de consolidada, a democracia brasileira ainda enfrenta desafios profundos e complexos. A desigualdade social, a concentração de poder econômico e a desinformação são alguns dos principais problemas sociais que continuam a ameaçar a estabilidade democrática e enfraquecer a confiança da população nas instituições.

Afinal, fake news e discursos de ódio minam o debate público, desorientam o eleitorado e desestabilizam a confiança na política.

É preciso não só ter a teoria na ponta da língua, mas também defender a verdade, o respeito e o pensamento crítico para que possamos defender a democracia.

Cada avanço — do sufrágio universal às conquistas civis — foi fruto de muita luta e resistência. E cada retrocesso, como o golpe de 1964 e o 8 de janeiro de 2023, revela que a liberdade pode ser frágil se não a defendermos ativamente.

A democracia nunca foi um presente. Sempre foi conquista. E continua sendo. Foi a força de movimentos populares, aqui e no mundo, que abriu caminho para eleições livres, direitos civis e mais participação de quem sempre foi deixado de fora.

Diversos momentos ao longo da história mostraram que as pessoas têm força para exigir mais liberdade, justiça e participação. A ampliação de direitos políticos e civis em diferentes países foi resultado da mobilização popular e de uma vontade coletiva de transformar a realidade. Esses processos marcaram pontos de virada importantes rumo a sociedades mais democráticas e inclusivas.

No Brasil, a luta também é longa. Tivemos vitórias importantes, como o direito ao voto feminino em 1932 e dos analfabetos em 1988. Mas também enfrentamos momentos sombrios, que deixam claro: a democracia ainda precisa ser protegida, alimentada e fortalecida — todos os dias.

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