Ed René Kivitz é uma das vozes mais relevantes no cenário religioso brasileiro, conhecido por questionar tradições e trazer novas perspectivas sobre fé e justiça social.
Pastor há mais de 30 anos, Kivitz dedica sua vida a repensar o papel da igreja em uma sociedade em constante transformação. Suas ideias provocam reflexões sobre espiritualidade, inclusão e a necessidade de reinterpretação das Escrituras no contexto atual.
Neste artigo, exploramos a trajetória e os impactos de suas contribuições para o diálogo entre religião e sociedade.
Quem é Ed René Kivitz?
Nascido em São Paulo, em 14 de setembro de 1965, é neto de imigrantes da Letônia e viveu uma infância marcada pela perda do pai aos dois anos. Criado por sua avó paterna, diretora de um orfanato ligado à Igreja Presbiteriana, Kivitz iniciou sua formação religiosa aos 17 anos no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil e, aos 21, virou pastor.
Bacharel em Teologia pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo e mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo, Ed René é pastor titular da Igreja Batista de Água Branca (IBAB) desde 1989.
Kivitz é casado e pai de dois filhos – Vitor é rapper cristão, enquanto Fernanda colaborou com ele na idealização do Instituto Galilea, uma iniciativa que promove justiça social e desenvolvimento comunitário por meio de práticas baseadas em valores cristãos.
Com quase 500 mil seguidores no Instagram, Kivitz utiliza as redes sociais para disseminar mensagens de fé, inclusão e reflexões (críticas) sobre a vida cristã e a sociedade contemporânea.
Autor de diversos livros, Ed René Kivitz publicou obras que consolidaram seu papel como teólogo e pensador gospel no Brasil. Entre seus livros mais conhecidos estão:
- Vivendo com propósitos, 2006
- O livro mais mal humorado da Bíblia, 2009
- Taldim: passo a passo de Jesus, 2012
- Outra espiritualidade: Fé, graça e resistência, 2014
- Sobre Viver: 365 fragmentos de sabedoria dos Provérbios, 2017
- Santidade, 2020
- Talmitim52: O passo a passo de Jesus em meditações semanais, 2022
Suas obras exploram assuntos importantes para o seu contexto como espiritualidade, discipulado e a necessidade de reinterpretação das Escrituras no contexto de hoje em dia. Suas ideias, muitas vezes polêmicas, têm atraído admiradores (e críticos), fortalecendo cada vez mais sua relevância no debate sobre os rumos de um evangelho mais atualizado e inclusivo no Brasil.
O “Deus mãe” de Ed René Kivitz
A polêmica envolvendo Ed René Kivitz começou em 2020, quando o pastor sugeriu que a ideia de Deus poderia ser vista também a partir da potência feminina, algo que causou muito debate na bancada evangélica fundamentalista.
Embora ele não tenha dito diretamente que Deus seria uma “Deus Mãe”, a ideia de considerar Deus como algo além da imagem masculina tradicional foi vista por muitos como errada. Por outro lado, algumas pessoas acharam interessante que ele estivesse trazendo uma nova maneira de pensar sobre a espiritualidade, algo que gerou uma discussão sobre como interpretar a fé nos dias de hoje – o que Ed René faz muito bem.
Ed René Krivitz e a esquerda brasileira
Ed René Kivitz, defensor da Missão Integral – um tipo de corrente protestante que se assemelha à Teologia da Libertação católica -, nunca omitiu suas inclinações políticas. Em entrevista recente ao podcast Inteligência LTDA, o pastor declarou: “Minha vida toda eu tive uma identificação com a esquerda. O campo político que eu me localizo é a esquerda, o progressismo, e isso desde muito cedo, desde os meus 17 anos”.
Ed René Kivitz começou a chamar atenção em 2018, quando se posicionou contra o então candidato Jair Bolsonaro, embora nunca tenha declarado apoio a Fernando Haddad. Ainda na mesma entrevista para o podcast ele assume: “Quem me conhecia sabia em quem eu ia votar”, explicando que não se alinhou com o Partido dos Trabalhadores, mas que isso não justificava apoiar o ex-presidente, Jair Bolsonaro.
Ed René também crítica a discriminação e, principalmente, quem diz que “gay vai pro inferno”. Em entrevista ao programa Provoca, o teólogo afirmou que a orientação sexual e outros aspectos da identidade não são determinantes para a salvação divina.
De acordo com ele, na compreensão cristã, o que realmente salva é Jesus Cristo, e não a identidade de gênero, a orientação sexual ou o sexo de uma pessoa. Kivitz explicou que ninguém pode se considerar salvo por suas próprias ações ou características, como ser hétero ou cis, e que não há razão para temer que a orientação sexual impeça alguém de alcançar a salvação, pois “o critério de acesso a Deus é Jesus”.
A expulsão da Ordem dos Pastores
Excluído da Ordem dos Pastores da Convenção Batista do Estado de São Paulo, Ed René havia defendido a necessidade de atualizar a interpretação dos textos bíblicos e incentivou o acolhimento de pessoas LGBTQIA+ na Igreja.
A decisão foi motivada por um trecho de oito minutos de uma pregação realizada em outubro de 2021 na Igreja Batista de Água Branca, onde Kivitz pastoreou por 30 anos. Durante a mensagem, ele abordou questões como a inclusão de homossexuais na comunidade cristã, e argumentou que os textos bíblicos devem ser atualizados de acordo com a modernidade – algo impossível sob os olhos do conservadorismo evangélico e acabou acarretando em um processo disciplinar.
Além disso, em entrevista ao programa Provoca, de Marcelo Tas, Ed René Kivitz revelou que, durante o processo que levou à sua exclusão, recebeu do relator da ação um documento mencionando uma entrevista concedida ao mesmo programa em 2020.
O documento dizia, além de diversos outros argumentos para sua exclusão, que Kivitz teria declarado ser a favor do aborto. Mas não foi isso que aconteceu: o pastor afirmou ser contra o aborto, mas a favor da descriminalização da prática, ressaltando que não considera justo criminalizar pessoas que não compartilham da mesma fé que ele.
Sobre o desligamento, Krivitz fez um vídeo deixando sua declaração na época. Nele, ele diz que o momento que estava vivendo era “apenas uma pequena parte de um processo maior”, comparando-o a uma gota em um rio que se torna cada vez mais forte e vai gerar algo novo no futuro. Ele destacou que há muita indignação e muitas pessoas interessadas em refletir sobre a fé, assim como ele.
O Instituto Galilea
Criado por Fernanda Kivitz e Ed René Kivitz, o instituto, que hoje possui 10 colaboradores, atua em parceria com igrejas evangélicas para incentivar a democracia, a equidade social e a defesa dos direitos humanos. Seu propósito é cultivar um tipo de igreja que participe ativamente na criação de uma sociedade mais justa.
O instituto oferece formação teológica e capacitação de lideranças, fortalecendo a atuação de pastores em temas sociais. Além disso, apoia igrejas na criação de programas de impacto e incentivam organizações a fazerem o mesmo. A instituição também facilita o diálogo entre a igreja e a sociedade, principalmente ao facilitar a criação de parcerias para promover mudanças sociais e defesa dos direitos humanos.
Com suas ideias polêmicas e sua atuação como pastor batista, Kivitz se destaca como um defensor do diálogo com a periferia, da atualização das escrituras bíblicas e da promoção de uma fé mais inclusiva e progressista.
Sua postura política e social, aliada ao trabalho realizado no Instituto Galilea, mostra seu compromisso com a justiça social e os direitos humanos, ao mesmo tempo que bate de frente com os costumes conservadores do meio evangélico. Apesar das críticas, Kivitz segue sendo uma voz de esperança para aqueles que buscam uma igreja mais aberta, reflexiva e comprometida com as questões sociais.
Não perca o documentário “A Luta pela Esperança”, com Ed René Kivitz, Frei Betto e Chico Pinheiro. Descubra como as diferentes visões de fé podem inspirar transformações sociais e fortalecer a luta por justiça. Assista agora em nossa área de membros e faça parte dessa conversa!
Deixe um comentário