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Fases do capitalismo: história, exploração e acúmulo de riquezas

Como chegamos a um ponto em que poucos bilionários possuem mais riqueza do que bilhões de pessoas juntas
20/03/2025 | 17h52
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Não há dúvidas de que a desigualdade econômica é uma das marcas mais profundas do capitalismo, mas isso não é novidade.

Desde suas origens, esse sistema se baseia na exploração da força de trabalho e na concentração de riquezas nas mãos de poucos, enquanto a grande maioria luta por condições dignas de vida.

O acúmulo desenfreado de capital gerou um mundo onde poucos bilionários possuem mais do que bilhões de pessoas juntas. Mas como chegamos a esse cenário? Para entender ainda mais a realidade, é essencial analisar as diferentes fases do capitalismo, usar do bom e velho pensamento crítico e entender esse sistema se tornou a base para todo o comportamento humano atual.

O que é o capitalismo?

O capitalismo é um sistema econômico baseado na propriedade privada dos meios de produção e na busca pelo lucro a qualquer custo. Historicamente, a estruturação do sistema capitalista tem como fundamento a separação da sociedade em classes.

De um lado, estão os detentores dos meios de produção, a burguesia; do outro, aqueles que dependem de sua mão de obra para sobreviver e recebem salários em troca: os trabalhadores. Porém, sua essência está na exploração da força de trabalho para a acumulação de riquezas, beneficiando uma minoria enquanto a maioria permanece em condições de desigualdade.

E embora seja classificado como um sistema econômico, sua influência se estende às esferas políticas, sociais, culturais, morais e diversas outras, abrangendo praticamente toda a organização da sociedade como conhecemos hoje.

Fases do capitalismo

Na história da sociedade, o capitalismo passou por quatro fases principais ao longo dos últimos séculos – comercial, industrial, financeiro e informacional. Para nos aprofundarmos em cada fase, é preciso entender que cada uma foi marcada por transformações importantes e focadas no modo de produção, na relação entre trabalho e capital e, claro, na forma como a riqueza é acumulada e, portanto, distribuída entre todas as classes sociais.

Afinal, desde o período mercantilista até a era digital, o sistema capitalista se adaptou às mudanças tecnológicas, políticas e sociais – sempre mantendo a exploração da força de trabalho como seu pilar indissociável.

O capitalismo é um sistema econômico baseado na propriedade privada e no acúmulo de capital. Imagem: Getty Images

O capitalismo é um sistema econômico baseado na propriedade privada e no acúmulo de capital. Imagem: Getty Images

Capitalismo comercial

Entre os séculos 15 e 18, o capitalismo surgiu como um sistema econômico ligado à expansão marítima europeia e ao fortalecimento dos Estados Nacionais.

Nesse período, as metrópoles exploravam suas colônias por meio do acúmulo de metais preciosos e da extração de recursos naturais. A economia era rigidamente controlada pelo Estado, e a mão de obra escravizada desempenhava um papel central na produção de riquezas, especialmente nas colônias da América.

Foi neste momento que houve um grande desenvolvimento do comércio ao redor do mundo e as bases para a próxima fase do capitalismo estavam fundadas.

Aqui tem um resumo:

Período: do século 15 ao 18.

Principais características:

  • Exploração colonial e acúmulo de metais preciosos (Pacto Colonial).
  • Monopólio do comércio pelas metrópoles europeias.
  • Mão de obra escravizada como base da economia.
  • Fortalecimento dos Estados Nacionais e intervenção estatal na economia.
Banco de San Giorgio - os primeiros bancos modernos surgiram na Itália no século 15 e impulsionaram a expansão do sistema capitalista. Imagem: reprodução

Banco de San Giorgio – os primeiros bancos modernos surgiram na Itália no século 15 e impulsionaram a expansão do sistema capitalista. Imagem: reprodução

Capitalismo industrial

A partir do século 18, a Revolução Industrial impulsionou o avanço do capitalismo para uma nova fase.

Neste período, a mecanização da produção e o surgimento das fábricas transformaram a economia, ampliando a exploração do proletariado. Trabalhadores passaram a viver em cidades superlotadas, submetidos a jornadas exaustivas e baixos salários, enquanto uma elite empresarial acumulava fortunas e, em geral, pagavam baixos impostos sobre as mesmas.

Outro marco para a época foi a ascensão de movimentos operários que começaram a reivindicar melhores condições de trabalho e direitos sociais. Aqui tem um resumo:

Período: do século 18 ao 19.

Principais características:

  • Revolução Industrial e mecanização da produção.
  • Exploração do proletariado, com jornadas exaustivas e baixos salários.
  • Crescimento das fábricas e urbanização acelerada.
  • Aumento da desigualdade econômica e surgimento de movimentos operários.
O Capitalismo Industrial transformou o mundo com fábricas, exploração da mão de obra e urbanização acelerada. Imagem: reprodução

O Capitalismo Industrial transformou o mundo com fábricas, exploração da mão de obra e urbanização acelerada. Imagem: reprodução

Capitalismo financeiro

No final do século 19 e ao longo do século 20, o capitalismo passou a ser dominado pelo setor financeiro. Bancos e grandes corporações adquiriram um papel central na economia, impulsionando a especulação financeira e o controle monopolista sobre diversos setores.

As desigualdades globais e a exploração de países periféricos foram aprofundadas pelo imperialismo e neocolonialismo, que resultaram na dominação econômica e política de países da África, Ásia e América Latina.

As crises na economia e os ciclos de recessão tornaram-se recorrentes, demonstrando a instabilidade do sistema e caminhando para uma nova fase do capitalismo na sociedade moderna.

Período: final do século 19 ao século 20.

Principais características:

  • Domínio dos bancos e grandes corporações.
  • Crescimento das bolsas de valores e especulação financeira.
  • Expansão do imperialismo e neocolonialismo.
  • Concentração de riquezas em monopólios.
No Capitalismo Financeiro, bancos e corporações dominam a economia, ampliando a especulação e a desigualdade. Imagem: divulgação

No Capitalismo Financeiro, bancos e corporações dominam a economia, ampliando a especulação e a desigualdade. Imagem: divulgação

Capitalismo informacional

Desde o século 20 até os dias atuais, o avanço da tecnologia transformou radicalmente o capitalismo.

O surgimento da economia digital e a consolidação de gigantes da tecnologia mudaram as dinâmicas de produção e trabalho. A flexibilização de leis trabalhistas resultou na “pejotização”, enquanto o fortalecimento do mundo digital permitiu a uberização, processo no qual as relações de trabalho passaram a ser intermediadas por plataformas digitais, como é o caso dos entregadores e motoristas por aplicativo.

Paralelamente, a desigualdade social atingiu níveis históricos, com bilionários acumulando fortunas imensas enquanto milhões vivem em condições precárias.

Período: século 20 até os dias atuais.

Principais características:

  • Avanço da tecnologia e digitalização da economia.
  • Domínio de grandes empresas de tecnologia e da economia de dados.
  • Aumento da precarização do trabalho (entregadores de aplicativo, uberização, pejotização).
  • Crescimento exponencial da desigualdade social, com bilionários acumulando riquezas.

Meritocracia e concentração de riquezas

A ideologia do capitalismo frequentemente promove a ideia de que o sucesso financeiro é resultado apenas do esforço individual. No entanto, a realidade é que esse modelo econômico, é estruturado de forma desigual desde o início dos tempos.

O que vemos por aí é que as grandes fortunas do mundo não são fruto do “trabalho duro”, mas sim de heranças, exploração da força de trabalho alheio e monopólios corporativos.

Dessa forma, o próprio conceito de meritocracia se desfaz quando consideramos que não é viável, justo ou coerente comparar as oportunidades de uma pessoa branca e privilegiada, de classe média ou alta, com as de um negro em situação de marginalização.

Nenhum esforço individual, por maior que seja, é capaz de superar sozinho as barreiras impostas pela desigualdade social, pelo preconceito e pelo racismo estrutural.

Charge representando que a verdadeira meritocracia só existe quando todos têm as mesmas oportunidades de partida; caso contrário, é apenas mais um privilégio disfarçado de esforço. Imagem: Manu.se

Charge representando que a verdadeira meritocracia só existe quando todos têm as mesmas oportunidades de partida; caso contrário, é apenas mais um privilégio disfarçado de esforço. Imagem: Manu.se

Por que bilionários não deveriam existir?

Como dito anteriormente, a concentração de riquezas é um dos principais pilares do capitalismo e a existência de bilionários na sociedade atual é um reflexo direto da acumulação de capital em um sistema que privilegia poucos enquanto explora muitos.

Mais do que isso, a existência de bilionários é uma grande questão quando sabemos que existe o outro lado da moeda. Segundo a Forbes, em todo o mundo, existem 2.781 pessoas com uma fortuna superior a US$ 1 bilhão. Ao mesmo tempo, 1,1 bilhão de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza, sem acesso a necessidades básicas como moradia, saúde e educação.

Essa discrepância, não apenas agrava a desigualdade social, mas também enfraquece a democracia, pois esses indivíduos têm um poder desproporcional sobre políticas públicas e decisões econômicas que impactam toda a sociedade.

É dessa forma que as fases do capitalismo evidenciam que esse sistema sempre esteve baseado na exploração e na concentração de riquezas. Do mercantilismo até o capitalismo digital, a lógica de acumulação se manteve inalterada, apenas se adaptando às novas formas de produção e dominação econômica.

Enquanto bilionários acumulam patrimônios que poderiam erradicar a pobreza global, a maioria da população enfrenta condições precárias de vida. O debate sobre as fases do capitalismo não pode se limitar a um recorte histórico neutro; é necessário questionar a estrutura de poder que sustenta esse sistema e seus impactos na sociedade.

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