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Noam Chomsky: conheça o intelectual vivo mais importante do mundo

Noam Chomsky inicialmente foi um estudioso da linguística, mas sua luta por um mundo mais justo fez dele um dos principais intelectuais da atualidade
26/07/2024 | 11h20

Noam Chomsky é um gigante intelectual do século XX e XXI que transcende as barreiras da linguística -— seu campo de estudo original —-, construindo uma obra que abrange também filosofia, política e crítica social. Seu trabalho sempre esteve profundamente engajado com a realidade, impactando a sociedade moderna em múltiplos níveis.

Como linguista, Chomsky revolucionou a compreensão da linguagem ao propor a teoria da gramática universal -— que desafia a visão tradicional da aquisição da linguagem e revela a complexa estrutura da mente humana. Suas ideias foram cruciais para a ciência cognitiva, moldando a maneira como pensamos sobre a natureza da inteligência.

No âmbito político, Chomsky se tornou um ícone do ativismo e da crítica ao poder, produzindo trabalhos que desmascararam a propaganda e a manipulação da mídia e denunciaram o imperialismo e a desigualdade social, inspirando gerações de ativistas e impulsionando movimentos sociais. Ele também possui uma relação de longa data com o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), tendo visitado um acampamento na década de 1990 e acompanhado a luta pela reforma agrária do grupo desde então.

O legado de Chomsky, em sua complexidade e profundidade, continua a desafiar e inspirar. O professor emérito de uma série de universidades pelo mundo nos desafia a questionar as estruturas de poder, a defender a liberdade de expressão e a lutar por uma sociedade mais justa e igualitária.

Quem é Noam Chomsky?

Noam Chomsky é um linguista, filósofo, sociólogo, cientista cognitivo, escritor e ativista político, nascido na Filadélfia, Pensilvânia, em 1928. Seus primeiros estudos estavam relacionados à filosofia e à linguística, e o desenrolar de sua vida é perpassado por outros assuntos, incluindo a crítica ao poder do capitalismo, do imperialismo e da mídia de massa.

Questionando as estruturas de poder e defendendo lutas por uma sociedade mais igualitária e justa, Chomsky se aproximou de diversos movimentos de esquerda, como o MST no Brasil, e a causa palestina, no Oriente Médio.

Segundo suas próprias falas, em entrevista ao fundador do ICL, Eduardo Moreira, essas iniciativas se posicionam contra a ideologia hegemônica, tomando o controle de situações desiguais e injustas. Chomsky considera que o MST seja o maior movimento social do mundo e um exemplo de sucesso da rebeldia à repressão capitalista.

A revolução cognitiva no campo da linguística

A pesquisa sobre linguagem de Noam Chomsky se baseia na noção de que temos uma habilidade inata para produzir e estruturar frases e que, mesmo com poucas regras e palavras, é possível formar infinitas frases. Essa é a Teoria da Gramática Universal, e pode ser aplicada a todos os idiomas —- além de definir os princípios básicos da gramática e da sintaxe como conhecemos atualmente. Segundo ele, a linguagem é uma ferramenta fundamental para o pensamento e o raciocínio humano, muito além do que um simples meio de comunicação.

A Hierarquia de Chomsky, outro de seus legados do campo da linguística, também influenciou outras áreas do conhecimento, como a matemática e a computação, por classificar as gramáticas de acordo com o poder expressivo de cada uma delas.

A linguagem, para o intelectual, é um sistema independente da cultura ou de outros aspectos do cérebro, muito mais complexo do que se imaginava até então.

As críticas chomskyanas

A biografia de Chomsky publicada pela editora do MIT, universidade onde ele lecionou por décadas, aponta que, ainda na infância, ele já compartilhava suas opiniões e críticas às estruturas de poder e às desigualdades.

Desde a década de 1950, quando publicou a primeira crítica ao behaviorismo, ou a psicologia comportamentalista, Chomsky não poupou palavras para demonstrar suas posições, mesmo se fossem contrárias ao que diziam os especialistas desses campos —- aclamados ou não.

Combinadas com sua pesquisa, a publicação das críticas ao behaviorismo, por exemplo, criaram a base da psicologia cognitiva como a conhecemos hoje, considerando sua explicação para as faculdades da linguagem humana.

Hoje o professor tem no seu leque de assuntos comentados —- e reprovados —- diversos outros assuntos, consolidando-se como referência para ativistas mais jovens exatamente por isso. Essas críticas são também um reflexo de sua preocupação com a justiça social, a liberdade e a paz. Ao questionar as estruturas de poder e as desigualdades, Chomsky se converteu em um modelo para diversos intelectuais, principalmente no campo progressista.

Política e ativismo na obra e vida de Noam Chomsky

Chomsky intitula-se como anarco-sindicalista e enaltece o ideal socialista-libertário, o que já conquistou ao mesmo tempo fãs e desafetos —- a depender da ideologia de quem conhece seu trabalho e suas opiniões. Por se identificar com essas duas ideologias políticas, acaba advogando por bandeiras como a autogestão e a justiça social não apenas em seus posicionamentos pessoais, mas também em seus textos e análises.

Ele defende a liberdade de expressão e a democratização da informação há décadas, tendo se posicionado contra diversos eventos históricos dos Estados Unidos desde a Guerra do Vietnã. Mais recentemente, se manifestou contra a prisão do então ex-presidente Lula, por conta da Operação Lava-Jato, e contra a guerra de Israel na Palestina —- que chamou de apartheid israelense contra o povo palestino.

O imperialismo é um dos alvos de seus posicionamentos persistentes em artigos, livros, entrevistas e participações em debates. As discordâncias com a política externa dos Estados Unidos, por exemplo, são alguns dos tópicos amplamente analisados em livros e artigos de Chomsky, incluindo a política intervencionista em países da América Latina entre as décadas de 1950 e 1990, durante a Guerra Fria.

Por se declarar um pacifista, Noam Chomsky é crítico ferrenho das guerras e da violência, e prega a resolução pacífica dos conflitos. Um de seus livros, intitulado 9-11, contém uma série de entrevistas sobre os atentados de 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos, onde Chomsky aponta que o principal ‘estado terrorista” são os Estados Unidos.

Atualmente, Chomsky também tem condenado avanços tecnológicos como a inteligência artificial generativa, sob a alegação de que atrapalha a criatividade e a inteligência humana. Seus argumentos defendem que a complexidade da mente humana não pode ser replicada, que dirá superada, por uma máquina e algoritmos, assim como a linguagem, seu campo de estudo inicial, pois trata-se de uma faculdade humana de combinações infinitas, e não apenas um meio de comunicação.

Noam Chomsky. Crédito: Wikipedia/ Creative Commons

A influência de Chomsky no mundo, desde 1955

Considerando que seu primeiro livro, Logical Structure of Linguistic Theory (ou Estrutura Lógica da Teoria Linguística) foi publicado em 1955, o pensamento de Chomsky ecoa há quase sete décadas pelo mundo. Seja em aspectos como a filosofia, a linguística, a computação ou a política, diversas gerações foram impactadas por suas ideias, livros e posicionamentos. E não à toa, ele é chamado de um dos maiores intelectuais da atualidade, especialmente nas ciências humanas.

Sua pesquisa sobre linguística é considerada uma das bases para a ciência cognitiva, o que por si só já revolucionou a linguística —- que até então era considerada uma ciência antiga, pouco inovadora. O modelo de gramática gerativa do linguista inspirou o ganhador do Prêmio Nobel de Medicina de 1984, Niels K. Jerne, que equacionou características das estruturas das proteínas para explicar o sistema imunológico humano. O trabalho premiado foi intitulado “A Gramática Gerativa do Sistema Imunológico”.

A psicologia foi transformada, entre outros pontos, pelo conceito de “modularidade” de Chomsky, que apresenta a arquitetura cognitiva da mente como um conjunto de subsistemas especializados, com interações entre si e limitação nos fluxos de intercomunicação.

Parte dessa ideia é concretizada na ilusão de ótica, que não desaparece após ser reconhecida como apenas uma ilusão. O campo da psicologia evolucionária também tem como um de seus fundamentos a pesquisa de Chomsky.

Noam Chomsky, uma das maiores mentes do século XX

Por sua longa carreira acadêmica e extensa lista de publicações, abrangendo temas de diversos campos, a obra de Chomsky merece atenção. Seja na análise do papel da linguagem na mente humana ou na crítica à ideologia hegemônica, o intelectual sempre se mostra preocupado com a liberdade, a justiça social, a paz e a preservação da democracia.

Com uma obra que transcende limites disciplinares, acabou por moldar a sociedade moderna com assuntos que extrapolam um único campo de pesquisa. Da profunda investigação sobre a linguagem, temos hoje estudos sobre a mente humana e até mesmo as estruturas de poder decorrentes da propaganda da mídia.

Mesmo que, inicialmente, sua pesquisa fosse sobre a estrutura da linguagem, a Teoria da Gramática Universal vai além de entender nossas habilidades para a comunicação. Chomsky nos desafia a ir além, questionar as mensagens que recebemos por meio dessa complexa arquitetura da linguagem, criticando e questionando desigualdades, estruturas de poder e até mesmo a manipulação da mídia, totalmente permeada pelos vieses e para a propagação de ideais “não-democráticos” na mente da população.

Na modernidade do mundo de hoje, suas ideias nos provocam a analisar mais, combater a desumanização e valorizar a potência humana pela paz, justiça e igualdade. Sendo um eterno questionador, inspira tantos outros jovens a desafiar as narrativas dominantes, defendendo a verdade e a esperança.

Chomsky é considerado uma referência para o ativismo de esquerda.
Crédito: Reprodução/ Chomsky.info

Com 29 livros lançados, inúmeros artigos e dezenas de títulos como professor honorário em universidades de prestígio por todo o mundo, sua voz ecoa por movimentos sociais e pessoas engajadas na luta por um mundo melhor. Além disso, Noam Chomsky nos ensina a continuar a questionar, não ter medo ou receio de criticar e nunca nos conformarmos com o que nos é dado muito facilmente.

Aos 95 anos, Chomsky se mantém crítico, apontando o que lhe parece incorreto, imoral ou antiético. Sua saúde, atualmente debilitada em decorrência de um AVC sofrido em 2023, não lhe impede de continuar a se revoltar com a guerra em Gaza, entre outras injustiças. E, ao que tudo indica, seu legado vai permanecer por muitas décadas para além do momento em que sua mente e línguas afiadas não estiverem mais entre nós.

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