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O que é Nazismo? Características, história e como combater suas ideologias

Saiba mais sobre o que é nazismo, a ideologia política que causou atrocidades históricas
28/01/2025 | 14h14
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Se você já ouviu falar sobre Hitler, você já ouviu falar sobre o Nazismo. Mas a história, na verdade, não começa por aí. O Nazismo (ou nacional-socialismo), é uma ideologia política totalitária que surgiu na Alemanha no século 20 e, infelizmente, repercute até os dias de hoje, frequentemente associada à extrema direita.

O Nazismo foi a base para o regime liderado por Adolf Hitler, que tomou o poder em 1933 e levou o mundo inteiro à Segunda Guerra Mundial entre 1939 e 1945. Essa ideologia, marcada pelo antissemitismo, autoritarismo, racismo e somando a idolatria à violência, resultou em atrocidades históricas como o Holocausto — o processo de perseguição e assassinato sistemático de mais de 6 milhões de judeus europeus.

Hoje, a discussão sobre como reconhecer e combater o Nazismo permanece crucial diante da persistência de movimentos neonazistas, gestos e discursos de ódio ao redor do mundo. Exemplos incluem figuras como Elon Musk e Steve Bannon, frequentemente associados a atitudes que remetem à simbologia nazista, além de episódios perturbadores como o caso de um grupo de homens fazendo gestos nazistas em Catanduva, no interior paulista.

Vamos entender a história, características, os impactos do Nazismo na atualidade e, principalmente, como combater uma ideologia baseada na violência sem precedentes.

História do Nazismo

O Nazismo teve origem no contexto de uma Alemanha devastada pela Primeira Guerra Mundial. A humilhação do Tratado de Versalhes, a crise econômica e a instabilidade política criaram um ambiente propício para ideias extremistas.

Em 1920, Adolf Hitler juntou-se ao Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães e escalou até a liderança. O partido, que cresceu exponencialmente, começou a utilizar de propaganda e discursos inflamados para culpar judeus, comunistas e outras minorias pelos problemas do país.

Em 1923, os nazistas (aqueles que faziam parte do partido) tentaram realizar um golpe de estado na Baviera, mas a iniciativa fracassou, levando Adolf Hitler e outros líderes do movimento à prisão. Gradualmente, o partido ganhou força política, conquistando cadeiras no parlamento da República de Weimar (termo usado para se referir a um período histórico da Alemanha ocorrido entre 1919 e 1933) e permitindo que Hitler chegasse ao cargo de chanceler — o segundo mais importante do governo, ficando atrás apenas do presidente Paul von Hindenburg.

Em 1933, após um incêndio criminoso do parlamento alemão (Reichstag), um ato atribuído aos comunistas, Hitler e o Partido Nazista intensificaram a pressão sobre Hindenburg para obter mais poderes. Assimnasceu a ditadura nazista. O Nazismo, a partir de então, se tornou uma ideologia fascista que rejeita a democracia liberal e o sistema parlamentar.

Hoje, conseguimos entender que esse período incorporou elementos como racismo científico, antissemitismo, anticomunismo e a prática da eugenia em sua doutrina. Porém, mais do que usar palavras técnicas para tentar explicar o que aconteceu, podemos usar dados: aproximadamente 6 milhões de judeus entre homens, mulheres, crianças e idosos foram mortos durante o Holocausto.

Crianças sobreviventes de Auschwitz, registradas por soldados soviéticos logo após a libertação do campo em 1945. Imagem: Museu Estatal de Auschwitz-Birkenau

Características do Nazismo

O Nazismo, caracterizado por um regime totalitário, possui traços específicos e que se confundem com o nacionalismo extremo que vemos hoje em dia. Embora em contextos distintos e em escalas incomparáveis, algumas dessas características encontram ecos em eventos recentes, como aqui no Brasil e também nos Estados Unidos. Para nos mantermos alerta e evitar que a história se repita, apontamos algumas das principais características do Nazismo:

  • Racismo e antissemitismo: a crença na superioridade de qualquer raça sobre outra e a discriminação contra judeus, ciganos, negros, homossexuais e outros grupos que podem ser considerados “inferiores”.
  • Totalitarismo: o controle absoluto do estado sobre todos os aspectos da vida política, social e econômica.
  • Devoção à autoridade: a idolatria em torno de um político ou figura pública, promovida como um líder infalível.
  • Propaganda: uso massivo de fake news para manipular a opinião pública e consolidar o poder.
  • Militarismo: a glorificação da guerra e suas instituições governamentais.

É importante dizer que essa devoção cega ao líder se estendia também aos símbolos do Nazismo, como a suástica e a saudação nazista, que não apenas representavam o poder e a autoridade do partido, mas também funcionavam como ferramentas de união e intimidação.

Militares da SS em formação para saudar o Führer, Adolf Hitler. (Imagem: Hulton Archive)

Símbolos nazistas

Os símbolos do Nazismo, como a suástica, o “Heil Hitler” e o uniforme das SS (Schutzstaffel, em português “Tropa de Proteção”), continuam sendo lembranças perturbadoras de uma era de ódio e violência. Embora sejam proibidos em muitos países, incluindo a Alemanha, esses símbolos ainda são utilizados por grupos neonazistas e supremacistas brancos.

No Brasil, a família Bolsonaro e pessoas ligadas a ela já ultrapassaram o limite do bom senso com gestos nazistas feitos “sem querer”. Um deles foi o ex-assessor internacional da Presidência da República, Felipe Martins.

Em um episódio amplamente divulgado, Martins foi flagrado na TV Senado ao realizar com as mãos um gesto de “Ok”, mas com três dedos estendidos formando a letra W. Esse gesto foi identificado pela Liga Antidifamação (ADL), uma organização sediada nos Estados Unidos que combate o antissemitismo, como um símbolo associado a grupos de supremacistas brancos em que o “W” significa White Power.

O gesto de Felipe Martins, ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro. Imagem: Reprodução

O gesto de Felipe Martins, ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro. (Imagem: Reprodução)

Nos Estados Unidos, a história é ainda pior. A alusão à simbologia fascista, seja ela como for, tem se intensificado nos últimos anos, mas com a vitória de Donald Trump nas eleições de 2024, assim como foi feito com o governo Bolsonaro, pessoas com tendências neonazistas sentem-se mais seguras para se expressar — e chocar o mundo. Em janeiro de 2025, durante o período de posse do presidente Donald Trump, mais duas pessoas públicas decidiram seguir os passos de Hitler.

Durante o almoço, o ex-assessor e estrategista da extrema direita, Steve Bannon, realizou um gesto associado à saudação nazista “Heil, Hitler”. Na ocasião, Bannon mencionou o partido alemão de extrema direita AfD e celebrou a possibilidade da Alemanha eleger um governo alinhado à direita, reforçando sua fala com o gesto simbólico, caracterizado pelo braço direito estendido com a palma virada para baixo.

Pouco tempo depois, durante a posse televisionada de Donald Trump, foi a vez de Elon Musk finalizar seu discurso com o mesmo gesto. O mesmo usado pelos militares alemães para “prestar respeito” a Hitler. O mesmo gesto que levou ao genocídio de uma população. O mesmo gesto que endossa neonazistas a continuarem seus discursos de ódio, perseguição, racismo e violência até os dias atuais.

Steve Bannon e Elon Musk, respectivamente, fazendo a saudação nazista durante eventos relativos à posse de Donald Trump. Imagem: Reprodução

Steve Bannon e Elon Musk, respectivamente, fazendo a saudação nazista durante eventos relativos à posse de Donald Trump. (Imagem: Reprodução)

Como reconhecer um nazista

Reconhecer um nazista pode ser um desafio, especialmente devido às novas estratégias de disfarce utilizadas por grupos extremistas. No entanto, algumas características podem ajudar a identificar essas ideologias.

Como já falamos, ter, compartilhar ou exibir suásticas, ou outros emblemas relacionados ao Nazismo é um sinal claro. Mesmo que esses emblemas nem sempre sejam exibidos explicitamente, eles aparecem de formas sutis, como a camiseta com 6MWE (“6 Milhões Não Foram Suficientes”), vista em manifestações nos Estados Unidos, ou no caso de 2021, em Teresina, onde um homem foi filmado usando uma camiseta com o símbolo da SS enquanto fazia a saudação nazista.

Além disso, discursos que promovem a superioridade de uma raça ou grupo e atacam minorias são um dos principais indícios para reconhecer um neonazista. Mas será que é apenas uma coincidência que grupos de extrema direita frequentemente exaltam figuras autoritárias, glorificam golpes de estado e adotam discursos que demonizam a democracia sob o pretexto de restaurar a “ordem”?

Homem usando a camiseta 6MWE durante a manifestação de extrema-direita nos Estados Unidos em 2020. Imagem: Snopes 

Homem usando a camiseta 6MWE durante a manifestação de extrema direita nos Estados Unidos em 2020. (Imagem: Snopes)

O aumento expressivo de gestos associados ao Nazismo, realizados por integrantes da extrema direita, parece mostrar um certo saudosismo de uma época tenebrosa do passado recente. Afinal, quando pessoas vão para a Avenida Paulista gritando slogans de ódio, ou quando políticos legitimam falas que desumanizam minorias, qual é exatamente a diferença entre eles e um neonazista? É uma questão de semântica? Ou será que estamos apenas dando nomes mais confortáveis de engolir para o mesmo monstro que, literalmente, devorou milhões no passado?

É importante entendermos, de uma vez por todas, que o Nazismo foi um dos períodos mais sombrios da história da humanidade, deixando um legado apenas de sofrimento, violência e destruição. Reconhecer e combater ativamente suas ideologias é uma responsabilidade coletiva, especialmente em um mundo onde discursos de ódio são endossados por figuras públicas, políticas e estão ganhando cada vez mais espaço no ambiente virtual.

Não podemos permitir que atitudes nazistas sejam normalizadas sem respostas firmes e concretas. No Brasil, existem formas de agir: discursos de ódio e gestos nazistas podem ser denunciados através do Disque 100, que atende casos de violações de direitos humanos, ou nas delegacias especializadas em crimes de intolerância.

Somente com um compromisso verdadeiro com a memória das vítimas do Holocausto, a educação contínua de qualidade e a valorização do respeito à diversidade é que nós, como coletivo, teremos força para combater a violência propagada pela extrema direita.

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