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Existe progresso no combate às alterações climáticas?

O progresso no combate às alterações climáticas demanda ações coletivas e individuais para a transição energética e a preservação do meio ambiente. Entenda!
20/08/2024 | 14h56

Maio de 2024: o Rio Grande do Sul vivencia, pela quarta vez em menos de um ano, enchentes que avassalaram o estado depois de um volume sem precedentes de chuvas. Cidades inteiras ficaram submersas e isoladas por dias e milhões de gaúchos foram atingidos – perdendo o pouco que haviam conquistado após as enchentes de novembro de 2023.

Os efeitos da crise climática são parte da nossa realidade. Se antes eram retratados como ursos polares isolados em pequenos icebergs, derretendo lentamente, hoje se convertem na imagem do cavalo Caramelo, ilhado em um telhado por dias, enquanto aguardava o resgate dos bombeiros no Rio Grande do Sul. Antes, os ursos polares eram um exemplo distante, do futuro. Agora são um retrato de tragédias vividas por nós.

O clima agora está mais instável, e fica difícil até para os negacionistas não perceberem. Das secas na Amazônia às queimadas recordes no Pantanal, as temperaturas da atmosfera e dos oceanos estão instáveis, sem falar nas irregularidades no regime de chuvas em diversas regiões do planeta. A previsão do tempo não tem a mesma eficácia de antes ao tentar predizer se o dia será ensolarado ou de chuva. E tudo isso tem nome e sobrenome: as mudanças climáticas.

Como está o clima agora?

Podemos afirmar que já temos que lidar com alterações drásticas no clima e suas consequências. Na verdade, sabemos há décadas das consequências do aquecimento do planeta se não houver nenhum progresso no combate às alterações climáticas. O IPCC tem apresentado relatórios sobre a situação do clima e do futuro da Terra e ainda não há um consenso, por exemplo, de quando chegaremos ao ponto sem retorno para essas mudanças. Algumas dessas consequências são dignas das tramas de Hollywood – outras ainda não foram retratadas.

Um exemplo é o filme “O dia depois de amanhã”, em que a cidade de Nova York fica submersa e congelada em questão de poucos dias – assim como boa parte dos Estados Unidos e do Hemisfério Norte. Na história de ficção, que tem um pouco de verdade, toda essa reviravolta no clima do planeta foi uma forma de compensar pelo aquecimento, colocando a Terra em uma espécie de nova Era do Gelo.

A verdade é que já temos amostras de como ficará o planeta se não agirmos para minimizar a situação. E precisamos agir para garantir o bem-estar planetário e de toda a raça humana.

Quais os tipos de condições climáticas que podemos esperar no futuro?

O aumento da temperatura do planeta é o gatilho para diversas mudanças climáticas previstas por cientistas de diversos países. Alguns desses efeitos já estão sendo vividos por nós:

  • Eventos climáticos extremos e mais frequentes: com o aumento da temperatura média do planeta, temos o derretimento das geleiras e calotas polares, o que eleva o nível do mar. Esse cenário torna os eventos climáticos extremos mais intensos e frequentes, como furacões e inundações. Considerando que ¾ da superfície do planeta é de água, e todos esses eventos são relacionados a ela, não é difícil entender como a alteração no equilíbrio de um interfere no outro;
  • Mudança nos padrões de chuva: as mudanças climáticas afetam a formação e circulação das massas de ares quentes e frios, o que também altera os padrões de chuva. É o que vimos acontecer no Brasil com as secas na Amazônia e as enchentes no Rio Grande do Sul;
  • Eventos extremos: se as temperaturas aumentam, o calor no planeta também. Com isso, ondas de calor e incêndios ficam mais frequentes e intensas também. Basta lembrar dos incêndios no Pantanal em 2020 e novamente em 2024.
  • Prejuízos na agricultura e na produção de alimentos: tanto o aumento das temperaturas quanto as instabilidades nos padrões de chuva afetam a produção de alimento, e por consequência, a segurança alimentar de populações inteiras. Em diversas localidades, as secas impactam o desenvolvimento de lavouras, enquanto as enchentes já causam danos nas fases de plantio ou amadurecimento das plantas. O resultado, como vivenciado no caso do azeite, é aumento dos preços e escassez de produtos.

Qual é o impacto das mudanças climáticas no planeta?

Desde junho de 2023, todos os meses têm registrado recordes de temperatura, o que faz do período o mais quente que se tem registro desde 1900. Isso significa que esses impactos já estão sendo sentidos por todos – infelizmente, não da mesma forma.

A África é uma das regiões mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas. O Saara, maior deserto quente do planeta, pode expandir em território com o aumento da seca e perda da biodiversidade, causando deslocamento de populações e levando mais fome a esse continente que já sofreu tanto na história da humanidade.

A região do Oceano Pacífico também está na lista de maiores impactos pelo aquecimento global. Diversas ilhas estão ameaçadas de desaparecer com o aumento do nível do mar, como Tuvalu – que é o primeiro país a migrar suas paisagens e elementos culturais para o metaverso para não desaparecer completamente. Como boa parte dos territórios está praticamente no mesmo nível do oceano, eles serão os primeiros a sentir os impactos do aumento das temperaturas e do derretimento das calotas polares.

Já no Brasil, com sua diversidade de biomas e de climas, o impacto tem sido em diversas esferas. As secas no Norte e Nordeste, os incêndios no Centro-Oeste e as inundações recordes, não só no Rio Grande do Sul, são apenas um dos efeitos das mudanças climáticas. A agricultura tem sofrido os impactos de altas temperaturas e irregularidades nos regimes de chuva, o que afeta a produção de alimentos e também a economia do país.

O governo do Mato Grosso do Sul decretou situação de emergência pelos incêndios no Pantanal, que eram visíveis do outro lado do rio, em Corumbá (MS). Crédito: Sebastian Franco/ Flickr

O governo do Mato Grosso do Sul decretou situação de emergência pelos incêndios no Pantanal, que eram visíveis do outro lado do rio, em Corumbá (MS). Crédito: Sebastian Franco/ Flickr

Medidas pela prevenção de mudanças climáticas

A ação humana é, ao mesmo tempo, a causa e a solução para obter progresso no combate às alterações climáticas. Assim como fomos os responsáveis pela emissão dos Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera que causam o aquecimento do planeta desde a primeira revolução industrial, também cabe a nós adotar medidas que possam mitigar, e com muita esperança, pausar os impactos em decorrência do aquecimento global.

Algumas das medidas mais divulgadas como fundamentais para o progresso no combate às alterações climáticas são:

  • Transição energética para fontes renováveis: se o futuro do planeta passa pela energia verde, precisamos fazer a transição para a energia de origens renováveis, como a solar, eólica e hidráulica.
  • Redução ou eliminação dos combustíveis fósseis: essa medida é extremamente polêmica, considerando que o petróleo foi o combustível da evolução humana no último século. Mas, por ser um dos principais responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa, é uma escolha que precisa ser feita.
  • Combate ao desmatamento: o desmatamento contribui significativamente para as emissões de gases de efeito estufa ao liberar o carbono que estava preso nas árvores. No Brasil, o desmatamento é o principal causador das emissões, colocando o país entre os maiores responsáveis pelos gases que causam o aquecimento do planeta. Proteger e recuperar a vegetação nativa é importante não apenas para mitigar as mudanças climáticas, mas também para fixar o carbono no solo e evitar a liberação de mais gases na atmosfera.
  • Eficiência energética: ao adotar medidas de eficiência energética em residências, indústrias e transportes, é possível reduzir o consumo de energia e, consequentemente, as emissões de gases de efeito estufa.
  • Mudanças nos hábitos de consumo: o consumo consciente de produtos e serviços com baixo impacto ambiental é essencial para reduzir a pegada de carbono individual, além de gerar menos resíduos para o planeta.

A mudança climática impacta desproporcionalmente as populações mais vulneráveis, vítimas da desigualdade econômica e social. A justiça climática, por esse raciocínio, se converte em uma iniciativa que garante que os países mais pobres e as comunidades mais afetadas recebam apoio, de todas as formas, para se adaptar aos impactos da crise climática e desenvolver soluções sustentáveis.

O impacto econômico da crise do clima também é maior do que se previa. O crescimento do PIB global deve cair pela metade até 2100 se a temperatura do planeta subir 3º C.

O clima agora e o que podemos fazer pelo futuro

As mudanças climáticas representam um desafio sem precedentes para a humanidade, exigindo ações urgentes, coordenadas e transformações profundas para que seja possível reverter seus impactos e preservar o planeta.

Diversos interesses imediatistas e negacionistas da ciência colocam em risco a vida na Terra como a conhecemos por não considerar as previsões científicas sérias o bastante. Na contramão dessa iniciativa, temos diversos atores importantes comprometidos com a justiça ambiental. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, ou IPCC, é uma das vozes, baseadas na ciência e que alerta há tempos sobre os perigos do aquecimento global.

No Brasil, por exemplo, existe um programa de Agricultura de Baixo Carbono para “consolidar a agropecuária nacional alicerçada sobre sistemas sustentáveis, resilientes e produtivos”, mas seus investimentos são irrisórios se comparados aos do Plano Safra.

Considerando o histórico brasileiro à frente de diversas iniciativas de proteção ao meio ambiente, como a Rio 92, precisamos fazer mais. As medidas de combate às mudanças climáticas servem, ao mesmo tempo, como prevenção de tragédias e preservação do ambiente – áreas em que, infelizmente, temos falhado. A maior parte do investimento do poder público tem sido direcionado para a reconstrução de cidades após os desastres, e não para evitar que aconteçam.

A transição para uma economia verde, com foco em energias renováveis e na descarbonização da produção, precisa ser um compromisso de todos os países – especialmente aqueles do Norte global, historicamente os principais responsáveis pelo consumo de recursos não-renováveis e pela emissão de gases do efeito estufa.

A agricultura de baixo carbono combina diversos cultivos para mitigar o impacto ambiental e otimizar a saúde do solo. Crédito: Freepik
A agricultura de baixo carbono combina diversos cultivos para mitigar o impacto ambiental e otimizar a saúde do solo. Crédito: Freepik

Cidades prontas para todos os tipos de mudanças climáticas

O debate sobre a resiliência das cidades pode ter ganhado destaque depois de tragédias climáticas como as enchentes do Rio Grande do Sul, da Bahia e de São Sebastião. O problema é que os projetos foram deixados de lado.

A mudança significativa é resultado da ação coletiva de governos, empresas e da sociedade civil. Como sociedade, devemos pressionar por políticas ambientais focadas na adoção de práticas sustentáveis e na transição para uma economia descarbonizada.

Além disso, é preciso adaptar o espaço urbano para o novo clima. As cidades verdes têm mais áreas e mecanismos para a absorção das chuvas, menos construções próximas ao leito de rios e outros mecanismos que amenizem o impacto das mudanças climáticas na vida urbana.

Projetos de cidades verdes aumentam a área de solo permeável, repondo as reservas dos lençóis freáticos ao mesmo tempo em que diminuem o impacto de enchentes. Crédito: Pixabay

Projetos de cidades verdes aumentam a área de solo permeável, repondo as reservas dos lençóis freáticos ao mesmo tempo em que diminuem o impacto de enchentes. Crédito: Pixabay

Individualmente, também devemos mudar de atitudes, diminuindo o consumo de combustíveis fósseis, repensando o consumo e cobrando o poder público e as empresas por mudanças. Toda contribuição faz a diferença quando pensamos no impacto das mudanças climáticas na vida do planeta.

O progresso no combate às alterações climáticas precisa acelerar

Lidar com os diferentes tipos de condições climáticas é um desafio global que exige uma resposta coletiva e coordenada. Podemos não reverter totalmente o que já foi feito, mas temos sim tecnologias e capacidade para construir projetos e acordos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e melhorar a resiliência das cidades e da infraestrutura aos impactos da crise.

O desafio pode ser enorme, mas temos condições de superá-lo, construindo um futuro melhor – e possível – para as próximas gerações. O trabalho será longo e complexo, mas fundamental para salvar o planeta e vislumbrar mais sustentabilidade no horizonte.

 

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