Detalhes que são definidos no solo, na trave, nas barras. No tatame, no ringue, na pista de park, street ou na piscina. Atletas não são deuses, embora tenham feitos tão extraordinários que às vezes a gente duvida.
Gabriel Medina imortalizou um momento olímpico flutuando no ar ao lado de sua prancha na saída de um tubaço em Teahupo’o, no Tahiti, na disputa do surfe. Rayssa Leal sai de Paris como a mais jovem atleta a conquistar duas medalhas seguidas nos Jogos. Prata em Tóquio e bronze em Paris aos 16 anos.
Rebeca Andrade, Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Júlia Soares e Lorrane Oliveira, fizeram o pódio inédito para o Brasil na prova por equipes da ginástica artística. Bronze para as meninas.
Nas ruas de Paris a história foi escrita por Caio Bonfim, medalha de prata na marcha atlética. Treinado pelo pai, João Sena, e filho de Gianetti Bonfim, oito vezes campeã brasileira de marcha, a jornada de quatro Olimpíadas até à primeira medalha foi construída com muita superação. Num país extremamente machista, Caio só conseguiu entrar pra valer no esporte aos 16 anos, apesar da tradição familiar, porque sabia que seria xingado: “pare de rebolar garoto”.
“Não estamos brincando de rebolar, somos potência, medalhistas olímpicos. Eu fui muito xingado no primeiro dia que marchei com meu pai. Eu só comecei com 16 anos, porque era muito difícil ser marchador. Eu decidi ser xingado e não ter problema com isso. Difícil não foi a prova de hoje, foi vencer o preconceito”, desabafou o atleta.
Caio é o principal nome da marcha olímpica brasileira, mas aos 3 anos passou por uma cirurgia para realinhar as pernas com a possibilidade de nunca mais poder caminhar novamente.
Atletas não são deuses, mas são super-humanos na resiliência. Uma medalha nunca é só uma medalha, é também um aviso: a disputa, na maioria das vezes, não é contra o adversário, é contra você mesmo! Sim, você pode!
Roupas brilhantes, corpos elásticos, músculos treinados, pontaria, força, equilíbrio — perfeição, nota máxima, o pódio olímpico só tem três lugares, mas nem todo campeão ou campeã estará nele.
Atletas são humanos. Para a maioria deles, estar em Paris já vale o ouro. A velocista Flávia Maria de Lima, de 31 anos, viajou para a capital francesa para representar o Brasil no atletismo com medo de perder a guarda da filha de 6 anos. Ela conta que cada vez que deixa o país para competir, o ex-marido protocola um processo para tentar tirar a criança da atleta alegando abandono de incapaz.
“Vocês, mulheres que estão passando pelo mesmo processo e sendo oprimidas pelo sistema machista, ergam suas cabeças e lutem”. Flavia lembra que não é crime uma mulher ter carreira e profissão.
Atletas não são deuses, mas muitas vezes precisam ser sobrenaturais para enfrentar desafios que não estão nos tatames, nas piscinas, pistas, aparelhos ou nas ondas.
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