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‘Fora, Derrite e Tarcísio’: movimentos negros pedem fim da violência policial em SP

Manifestantes caminharam do Theatro Municipal até a Secretaria da Segurança Pública, no centro da capital paulista
06/12/2024 | 10h30

Por Catarina Duarte, Daniel Arroyo e Jeniffer Mendonça — Ponte Jornalismo 

Sob forte chuva, movimentos negros e sociais protestaram na noite desta quinta-feira (5/12) pelo fim da violência policial. Aos gritos de “fora, Derrite” e “fora, Tarcísio”, os manifestantes concentraram-se em frente ao Theatro Municipal de São Paulo, no centro da cidade, e caminharam até a sede da Secretaria da Segurança Pública (SSP), a 500 metros dali.

Violência policial

O ato foi convocado após episódios sucessivos de truculência do braço armado do Estado nesta semana. O ápice foi a divulgação de um vídeo pela TV Globo em que o soldado Luan Felipe Alves Pereira aparece arremessando um entregador de uma ponte na região de Cidade Ademar, zona sul da capital. A vítima foi socorrida por testemunhas e está bem. Após forte repercussão do caso, o policial foi preso.

Outro caso que causou forte comoção nacional foi a morte de Gabriel Renan da Silva, de 26 anos, num mercado OXXO no bairro Jardim Prudência, também na zona sul. O policial militar Vinicius de Lima Britto, que estava de folga, atirou em Gabriel pelas costas. O rapaz, sobrinho do rapper Eduardo Taddeo, ex-Facção Central, teve ao menos 11 perfurações. Imagens das câmeras de segurança do OXXO, divulgadas esta semana pela Ponte, desmentiram a versão, apresentada pelo PM, de que abordou Gabriel e este teria feito menção de estar armado.

O vídeo revelou não ter havido qualquer abordagem e o policial atirando quando Gabriel deixava o OXXO. O caso ocorreu em 3 de novembro. Vinicius virou réu nesta quinta-feira (5/12) por homicídio qualificado.

Manifestantes pediram a saída de Derrite em ato na capital paulista. (Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo)

Presente no ato, o rapper cobrou responsabilização pelo caso. À Ponte, Eduardo Taddeo disse que se encontrasse o secretário da Segurança Pública Guilherme Derrite e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), pediria para que eles deixassem o cargo que ocupam. “A desculpa dele depois do homicídio do meu sobrinho e de tantos outros, para nós, não vale nada. O que a gente quer é mudança”, pediu. “O que a gente quer, no mínimo, é a restruturação [da PM], que na academia [de polícia] fosse ensinado que o ‘servir e proteger’ é geral — e não só para quem é rico”.

Familiares das vítimas do Massacre de Paraisópolis também marcaram presença no ato. No domingo (1/12), as mortes de nove jovens após a PM reprimir um baile funk na comunidade de Paraisópolis, também na zona sul, completaram cinco anos. A pesquisadora Maria Cristina Quirino, 46, mãe de Denys Henrique, uma das vítimas, declarou que se os PMs tivessem sido punidos pelo massacre na época, bem como o então governador João Doria (PSDB) e o comandante-geral da PM Marcelo Vieira Salles, não teríamos tantos episódios de violência policial que se seguiram.

“Sem punição, não há justiça”, disse Maria Cristina.

Maria Cristina Quirino, mãe de Denys Henrique, uma das vítimas do Massacre de Paraisópolis. (Foto: Daniel Arroyo /Ponte Jornalismo)

Os manifestantes também rechaçaram os posicionamentos de Derrite e Tarcísio, que insistiram esta semana na tese de que se trataram de “fatos isolados”. O comandante-geral da PM, coronel Cássio Araujo de Freitas, classificou de “erro emocional” o soldado atirar o entregador da ponte e disse que está trabalhando em um novo programa na corporação para diminuir “danos colaterais”.

“Não são fatos isolados”, criticou o ouvidor das Polícias Claudio Aparecido da Silva durante a caminhada. “As denúncias de truculência policial aumentaram 40% na Ouvidoria, e a gente precisa que o governador e o secretário tomem medidas que recoloquem a segurança pública no caminho da valorização da vida”, ressaltou.

Para Claudio Aparecido, o secretário da Segurança Pública está tentando esvaziar o órgão que fiscaliza de modo independente as polícias ao propor uma “ouvidoria paralela”, como a Ponte revelou na semana passada. Claudio disse à Ponte que vai fazer uma representação ao Ministério Público.

A caminhada até a sede da SSP foi acompanhada pela Polícia Militar. A Ponte presenciou um policial sair pela janela de uma das viaturas gritando ao lado do ato “Força Tática!”. A entrada do prédio foi cercada com grades, além de agentes com escudos e viaturas. Faixas e cartazes com os dizeres “Fora, Derrite” foram exibidos.

Ato foi convocado após grande repercussão de casos recentes de violência policial em São Paulo. (Foto: Daniel Arroyo/Ponte Jornalismo)

Ato

O percurso encerrou de forma pacífica em frente à Catedral da Praça da Sé, a poucos metros da secretaria, com palavras de ordem pelo fim da violência policial.

Nesta sexta-feira (6/12), cerca de 20 entidades de direitos humanos, em conjunto com a Ouvidoria das Polícias, irão se reunir com o Procurador-Geral de Justiça, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, a fim de cobrar apuração rigorosa de diversos episódios de violência policial, como a invasão de um velório e agressão a familiares de um jovem morto pela PM, a morte de uma criança de 4 anos em Santos, no litoral paulista e as operações Escudo e Verão, que juntas resultaram em 84 mortes pela PM na Baixada Santista — além de discutir o sucateamento do programa de câmeras corporais.

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