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Em convocação para ato de hoje na UnB, extrema direita estimula ‘porrada contra comunistas’

Chamado de "Make UnB free again", ato marcado para esta sexta-feira (4) tem despertado o medo em muitos alunos da instituição
04/04/2025 | 11h06

Por Gabriel Gomes

Um ato convocado para tarde desta sexta-feira (4) por estudantes de extrema direita da Universidade de Brasília (UnB), chamado de “Make UnB free again”, tem despertado o medo em muitos alunos da instituição. Em mensagens nos grupos de convocação, obtidas pelo ICL Notícias, os integrantes estimulam a violência e falam em “porrada contra comunistas”.

No grupo, uma mensagem de anúncio do ato, os organizadores afirmam que a intenção “não é ‘recuperar a UnB’ que nem a deles, e sim, trocar porrada com os vermes”. O organizador que escreveu essa mensagem não foi identificado. Em outro trecho, os membros do grupo falam em “cenário de guerra”.

Ato, chamado de “Make UnB free again”, marcado para esta sexta-feira (4), tem despertado o medo em muitos alunos da instituição.

“Tenham em mente que eles são um bando de covardes e não terão coragem de bater de frente com a gente no número em que estaremos lá (tudo indica que teremos bem mais que 100 pessoas). Agora se baixarmos a cabeça ou demonstrarmos fraqueza, aí eles vão se sentir mais fortes, cada vez mais”, diz um membro do grupo.

Em outras mensagens, diversos membros do grupo estimulam e fazem ameaças de agressão física. Alguns deles afirmam que vão comprar e levar para a manifestação “armas não letais”, como sprays de pimentas, tasers (armas de choque), etc.

O ato da extrema direita está previsto para ser realizado às 17h30 desta sexta-feira, em local a ser divulgado, segundo as mensagens dos organizadores.

Líder estudantil: ‘Grupo pequeno que vem tentando se articular para criar confusão’

O estudante de Geografia e líder estudantil da Universidade de Brasília (UnB), Caio Sad, ressalta que os alunos de extrema direita são minoria na instituição. “É um grupo pequeno que vem tentando se articular para criar confusão, provocação e fazer com que o conjunto da universidade seja desmoralizado. É um grupo que é contra a educação do nosso país”, afirma.

UNB

Caio Sad, estudante de geografia e líder estudantil da Universidade de Brasília (UnB). (Foto: Reprodução/ Instagram)

Segundo o estudante, não há um clima de temor entre os estudantes da universidade. “É raiva mesmo desse povo. Sentimento de querer dar resposta, de querer não deixar barato e de querer antagonizar com a direita”.

Caio afirma, ainda, que os movimentos de estudantes da instituição estão organizando uma série de atividades para contrapor o ato da extrema direita. “A gente vai também fazer resistência com cultura e com arte”, ressalta.

O que diz a UnB?

Em nota, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) da UnB afirma que “os ataques violam os princípios fundamentais da democracia, da liberdade de expressão e do pensamento crítico, além de circularem impunemente nas redes sociais, fomentando o ódio e a intolerância.”

“A UnB não será palco para atividades antidemocráticas”, diz a nota. “Nossa comunidade não se calará diante da violência. Nossa resposta será sempre mais ciência e tecnologia, mais cultura, mais educação e mais democracia”.

Segundo o Correio Braziliense, a Polícia Militar do Distrito Federal foi acionada para comparecer ao campus Darcy Ribeiro e evitar que qualquer ato de violência ocorra.

UnB já foi palco de episódios de violência da extrema direita

Em outras ocasiões, a Universidade de Brasília já foi palco de episódios de violência da extrema direita. Em março deste ano, estudantes extremistas apagaram mensagens e símbolos pintados em espaços acadêmicos do campus Darcy Ribeiro da UnB, alegando realizar uma “limpeza” contra conteúdos que consideravam ofensivos.

A ação teve reação de outros estudantes, que classificaram o ato como vandalismo e intimidação. A UnB emitiu uma nota de repúdio, reafirmando o compromisso com a diversidade e a liberdade de expressão.

Uma dessas manifestações foi organizada pelo estudante de História e youtuber Wilker Leão, que em março teve a suspensão prorrogada por 60 dias pela universidade por gravar aulas sem autorização dos professores e publicar cortes fora de contexto nas redes sociais. Wilker atua como influenciador de extrema direita.

Uma professora chegou a registrar um boletim de ocorrência contra o influenciador pela divulgação dos vídeos. Ele também é acusado de vazar dados pessoais de colegas da universidade e de incentivar os seguidores a praticarem invasões e agressões contra os estudantes.

Leia a nota da UnB

“O Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) da Universidade de Brasília, reunido em sua 680ª reunião ordinária, no dia 3 de abril de 2025, no marco dos 40 anos da redemocratização do Brasil, vem a público posicionar-se contra as recentes manifestações de incitação à violência dirigida contra a comunidade acadêmica.

Esses ataques, que atentam contra os princípios fundamentais da democracia, da liberdade de expressão e do pensamento crítico, têm circulado impunemente nas redes sociais, fomentando o ódio e a intolerância contra a comunidade acadêmica.

A UnB não será palco para atividades antidemocráticas. Nossa comunidade não se calará diante da violência. Nossa resposta será sempre mais ciência e tecnologia, mais cultura, mais educação e mais democracia.

A UnB, alicerce perene da Democracia, conclama as instâncias responsáveis pelo combate à incitação à violência (Artigo 286 do Código Penal) a tomarem as medidas cabíveis contra aqueles que promovem tais atos de violência”.

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