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Banco brasileiro de ‘esquerda’ quer conquistar 60 milhões de clientes

Milhões de brasileiros "desbancarizadas" e milhões alinhados a pautas progressistas motivaram a abertura do banco.
19/10/2023 | 05h00

Por Nicolás Satriano

A carência de milhões por serviços bancários e um contexto financeiro agressivo para pequenos empreendedores foram os pilares de uma ideia pioneira: criar um banco brasileiro alinhado a pautas progressistas. Daí, surge o Left Bank (em inglês, seria algo como Banco à Esquerda), cujo o slogan chegou a ser “o banco sem banqueiro”.

Em entrevista ao ICL Notícias, o CEO do banco digital, Daniel Verçosa, 65, explicou que antes mesmo do lançamento do banco, em dezembro de 2020, ele já estava de olho numa pesquisa da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) indicando que entre  45 e 50 milhões de brasileiros não tinham conta bancária.

Os dados, de 2019, demonstravam que nesse universo de “desbancarizados”, uma a cada três pessoas com mais de 16 anos no país não tinha acesso aos serviços, refletindo uma crônica exclusão também a ferramentas básicas para gerir a vida financeira.

E o perfil desses potenciais clientes também coincide com outras áreas profunda e historicamente desiguais: mulheres (59%), negros (69%), de classes sociais CDE (86%) e nordestinos (39%).

A outra informação que levou Verçosa e um sócio a apostarem pela abertura do banco digital foi uma pesquisa encomendada para o próprio Left. O levantamento refletiu algo próximo do observado nas últimas eleições presidenciais: 60 milhões de brasileiros estão mais alinhados a pautas progressistas – o mesmo número de votos obtidos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Juntando tudo, a conclusão dos sócios foi que, sim, havia (muito) espaço para crescer.

E embora o Left leve no nome a palavra “esquerda”, Verçosa garante: não existe no banco qualquer discriminação quanto à ideologia do cliente. Perguntado sobre a possibilidade de o ex-presidente Jair Bolsonaro ser cliente do Left, o CEO garante que não há problemas.

“Não temos nenhum filtro. Qualquer cidadão no mundo que tenha CPF e endereço, pode abrir conta com a gente. Não tem filtro nenhum nesse sistema de seleção de pessoas. Eu acredito que devemos ter bastante cliente de direita, também. A nossa ideia não é partidária, é progressista”, garantiu Verçosa.

Confira mais pontos da entrevista:

  • ICL Notícias: Como surgiu a ideia de abrir um banco sem banqueiro?

Verçosa: A gente vinha estudando os bancos digitais. Depois, antes da pandemia, lançamos o Left, em 18 de dezembro de 2020. Sabíamos dos juros muito altos, das cobranças por serviços… A gente vive reclamando, a imprensa, mas nunca se faz nada para mudar ou amenizar o problema. Na realidade, nós temos um ‘banco sem banqueiro’ porque não somos oriundos do sistema financeiro. A minha formação é na area jurídica e na área de seguros. (…) A gente, primeiro, queria fazer um banco digital que facilitasse o acesso ao servico digital, e oferecer o que os bancos oferecem, mas com um custo menor”.

 

  • ICL: Vocês enxergam espaço de crescimento num Brasil marcado por uma polarização esquerda x direita? 

V: “Isso até nos estimula. Nessa última gestão presidencial, muitos empresários que nunca se maninfestaram tomaram uma posição. Nada contra, todo mundo tem que ter o seu ponto de vista. Mas é em cima disso que a gente foi estimulado. Aquelas pessoas que nunca se identificaram (com ideias à esquerda), não temos nada contra, mas nós somos desse segmento humano, inclusive, do desenvolvimento social, da preservação do meio ambiente”.

  • Num ambiente corporativo e inserido nessa realidade do mercado financeiro, dá para separar política de negócios?

V: Precisa de uma separação de política e negócios. Estamos construindo uma entidade com fins sociais. Está englobada dentro de um capitalismo, mas social. Queremos estar do lado social da coisa. Nós não temos vinculação política nenhuma. Nem de esquerda e, de direita, menos ainda. Nós temos o compromisso com o nosso objetivo, da nossa instituição financeira, que o Left Bank. Queremos ter resultado. Sem resultado, não temos dinheiro nem pra investir no nosso próprio negócio”.

  • Vocês sofrem ataques por esse posicionamento?

V: Se a gente sofre, não temos provas ainda. Mas é lógico que o pessoal fica muito atento, estão de olho na gente. Não posso dizer que temos tido algum ataque. Lidamos com pessoas que são adeptas dessa nossa ideia. A nossa pauta é muito boa. Temos o Instituto Left Bank, e determinamos que 20% do resultado vai para o instituto, para ajudar organizações, como o Sindicato das Empregadas Domésticas, museus, patrocínio de livro. Temos um leque social”.

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