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MP pede apuração sobre definição da taxa Selic; Eduardo Moreira aponta possível uso político do Boletim Focus por Campos Neto

Economista e fundador do ICL liga todos os pontos da possível trama: dados do Boletim Focus, jantar na casa do apresentador Luciano Huck com Campos Neto e Tarcísio de Freitas e evento com 400 empresários em que o presidente do BC foi a estrela.
29/05/2024 | 14h00

O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), ingressou com uma representação para “identificar eventuais desvios de finalidade pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na definição da taxa Selic”.

Segundo o subprocurador Lucas Furtado, a apuração se daria por suposta “grande influência as projeções constantes do chamado ‘Boletim Focus’, elaborado a partir de pesquisas macroeconômicas realizadas por diversas instituições, tais como bancos, consultorias, corretoras”.

De acordo com Furtado, as instituições “podem ter interesse na manipulação do índice para ganhos próprios e privados indevidos e em prejuízo aos interesses públicos e ao erário”.

“Ofereci em ocasião anterior junto a essa Corte de Contas representação com o objetivo de que o TCU adotasse medidas tendentes a conhecer e avaliar as consequências positivas e negativas ao erário, especialmente aos cofres públicos da União, diante da manutenção da taxa Selic pelo Banco Central em patamares elevados, assim como conhecer e avaliar se consideram os riscos fiscais do país, diante da interdependência entre a política fiscal e monetária”, escreve o subprocurador.

Segundo ele, é “evidente o risco de a definição da taxa Selic depender de projeções calcadas em estudos realizados por bancos e instituições privadas”.

“A descoberta de eventual manipulação do mercado financeiro para ganhos próprios e indevidos por instituições financeiras privadas não representaria, neste caso, novidade ou surpresa”, afirma.

Estudo apresentado pelo ICL mostra manipulação do Boletim Focus

Um estudo elaborado pela economista Debora Magagna escancara de vez a denúncia feita pelo também economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, na semana passada, sobre a manipulação do mercado financeiro sobre o Boletim Focus do Banco Central. Moreira também levanta suspeitas sobre a interferência das falas do presidente do BC, Roberto Campos Neto, sobre o mercado.

Em edição do ICL Notícias 1ª edição na semana passada, Moreira denunciou que, entre os cerca de 150 agentes entrevistados para o relatório elaborado pelo Banco Central, houve uma minoria que turbinou a expectativa máxima de inflação para 8%, o que acaba empurrando para cima a mediana do indicador.

“A gente mostrou aqui uma clara manipulação do relatório utilizado pelo BC para calcular qual a taxa de juros que ele deve praticar no país. Só que pode ser muito pior! Pedimos via LAI [Lei de Acesso à Informação] quem é o autor da taxa maluca para poder manipular”, lembrou Moreira na edição de ontem [28] do programa.

Diante das suspeitas de manipulação do relatório, principalmente o que foi divulgado no dia 20 de maio, no qual a mediana das respostas dos agentes entrevistados elevou as expectativas de inflação, câmbio, taxa Selic e crescimento de PIB (Produto Interno Bruto) menor para este ano, Deborah fez um estudo sobre a expectativa de inflação dos seguintes períodos: crise econômica mundial de 2008, quando estourou a bolha imobiliária dos Estados Unidos afetando o mercado financeiro de todo o mundo; o golpe que tirou a ex-presidenta Dilma Rousseff do poder; e a pandemia de Covid-19.

“O estudo feito pela Deborah comparou [aqueles dados] com o que aconteceu agora. E não aconteceu nada agora [parecido] com o que aconteceu nas últimas semanas. A variação do PIB não mudou praticamente nada, a balança comercial, a Selic… Só inflação mudou muito”, disse.

Ao mostrar os gráficos, ele apontou que:

  • De 2007a 2008, o máximo que as projeções variou foi menos de meio por cento;
  • De 2015-2016, as projeções variavam, no máximo, 1%, ou seja, “quase nada”;
  • De 2021-2022, na crise de Covid, as variações foram um pouco maiores, mas não chegavam a 1%.

“No começo de 2024, houve manipulação. Nos dia que saiu a ata [da reunião] do Copom [Comitê de Política Monetária] subiu, ou seja, para fazer uma manipulação de que a inflação subiu com a divulgação da ata do Copom. Só que essa ata [de fevereiro e março] não tinha nada, não tinha a ver com a última reunião do Copom”, disse Moreira, referindo à última reunião do colegiado em que houve divisão de votos entre os diretores indicados pelo governo Lula, que queriam um corte menor, e aqueles escolhidos durante o mandato do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) (saiba mais clicando aqui).

“Esse cara subiu [a previsão de inflação] 3% numa semana e na outra ele baixou 3% — foi só para manipular no dia. Aí o que ele fez de novo? Depois ele subiu de novo no total 3% – um pouco num dia e depois de novo. Isso criou uma média alta que embasou tudo o que as pessoas estavam fazendo”, disse.

Boletim Focus: como o presidente do BC usou politicamente os dados do relatório

Moreira apontou uma curiosidade no período em que a ata com as projeções muito pessimistas do mercado foram divulgadas e turbinadas na grande imprensa.

Naquela semana, foi publicada a notícia de que o apresentador Luciano Huck ofereceu um jantar a Campos Neto e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). “E, na semana seguinte, o Campos Neto começa a aparecer em um monte de eventos e começa a falar que expectativas de inflação mais altas são bastante ruins para o BC”, lembrou Moreira.

Na avaliação de Moreira, os dados do Boletim Focus, o jantar na casa de Huck e as falas de Campos Neto cheiram a armação combinada.

Depois, o presidente do BC foi a estrela de um almoço com 400 empresários oferecido pela empresa LIDE, do ex-governador de São Paulo João Doria. “Agora, se vocês não conseguem ver que isso tudo é parte do mesmo projeto… Esse 8%, tudo isso está acontecendo ao mesmo tempo, é claro que tem explicação”, disse Moreira.

“Primeiro, a gente tem que saber quem colocou o 8%. A segunda é: quais eram os bancos que fizeram grandes apostas no mercado esses dias, a gente tinha que saber. porque você concorda que, quando sai uma expectativa de inflação para cima e o presidente do BC entra cacifando esse negócio, falando que está tudo piorando, os jornais entram, alguém ganhou dinheiro com isso, porque o mercado mexeu”, complementou.

Por isso, ela acha essencial saber quais bancos e/ou hedge funds fizeram posições grandes no período. “Imagina se a gente descobre que foram eles que botaram os 8%”, elocubrou.

Depois, Moreira pontuou que Campos Neto começou a botar panos quentes, após “ter tocado o terror, para que o negócio não fuja de controle”

O economista ainda apontou o possível viés político da postura de Campos Neto e questionou: “Agora vai ser o quê? Candidato a vice do Tarcísio? Candidato a alguma majoritária? Agora, que o Roberto Campos Neto está numa cruzada de articulação com gente da grana, ele está. O que ele está querendo com isso? Não é acalmar mercado na casa do Luciano Huck”, ironizou.

No mesmo programa, Moreira comentou sobre as taxas de juros praticadas pelos bancos, as quais não condizem com a realidade mostrada pelo BC. Débora Magagna também comentou o mesmo tema no ICL Mercado e Investimento de ontem (para conferir, assista clicando aqui).

Assista ao comentário completo de Eduardo Moreira sobre o assunto no vídeo abaixo:

Redação ICL Economia
Com informações do ICL Notícias 1ª edição

 

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