As últimas 48h registraram uma tentativa de sequestrar o debate sobre os brasileiros que estão em Gaza, protagonizada por um cluster específico e a partir de uma fonte questionável para tal abordagem. Em comum, as notícias mais compartilhadas sobre o tema traziam o quão questionável era a informação de que o ex-presidente teria alguma ingerência sobre o tema: “Bolsonaro diz“. Assim, o ex-presidente e o bolsonarismo reivindicaram conversas com o embaixador para a liberação de brasileiros na Faixa de Gaza. Portais bolsonaristas se engajaram e repercutiram essa abordagem com entusiasmo nesse período.
No X (Twitter), atores centrais do bolsonarismo emularam o mesmo discurso e foram os únicos a de fato promover a expressão “obrigado, Bolsonaro”, em alusão a uma suposta influência na repatriação dos brasileiros. A abordagem, no entanto, não é registrada por nenhum ator não-bolsonarista. Nesse episódio, o bolsonarismo emulou um movimento que simula uma influência não existente, pautada essencialmente por uma espécie de “blitzkrieg” a partir do volume de ocorrências. Esse volume teria a função de passar a percepção de que mais usuários (do que os que de fato se engajaram com o tema) estariam falando sobre a abordagem. Em suma, o bolsonarismo mais uma vez “gritou” para parecer maior do que de fato foi.
Ironicamente, horas antes o bolsonarismo explorava uma outra narrativa: a de que era na verdade o Hamas quem não permitira que os brasileiros saíssem de Gaza. Essa incompatibilidade entre os dois discursos foi sumariamente ignorada por este cluster, bem como o fato de que horas depois de alardear sobre o tema, os brasileiros ainda não conseguiram sair de Gaza.
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