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Brasil deve tratar vício em bets como trata vício em tabaco, diz Nísia Trindade

Grupo de trabalho do Ministério da Saúde se reúne na próxima semana para pensar na regulação das apostas
28/09/2024 | 05h00

Por Laiz Menezes

(Folhapress) — A ministra da Saúde, Nísia Trindade, disse nesta sexta-feira (27) que é preciso considerar o vício em bets com a mesma gravidade que o vício em tabaco.

“É uma pandemia”, afirmou a ministra sobre o vício em apostas. A declaração foi dada depois do lançamento da Campanha Nacional de Incentivo à Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes.

A ministra destacou a importância de regular as apostas online para impedir que as pessoas não entrem em um círculo vicioso.

“É muito importante a regulação, olhar para a publicidade, e colocar, como temos dito, na mesma gravidade do que o Brasil fez em relação ao tabaco, por exemplo”.

As apostas serão regularizadas no Brasil (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Segundo Nísia, o Ministério da Saúde formou um grupo de trabalho, que estará reunido na próxima semana, para pensar na regulação das apostas.

O vício nas bets, de acordo com a ministra, tem causado sérios problemas de saúde mental na população, além de impactos nas famílias, crianças e jovens. “Vamos divulgar, oportunamente, um trabalho não só da Saúde, mas de todo o governo.”

Vício em apostas

A preocupação do governo com as bets aumentou após o Banco Central divulgar, nesta semana, que os beneficiários do Bolsa Família que fazem apostas esportivas online gastaram R$ 3 bilhões via Pix no mês de agosto. O montante corresponde a 20% do valor total repassado pelo programa no mês.

Dos 20 milhões de beneficiários, 5 milhões fizeram apostas no mês passado. Na média, o valor gasto por pessoa foi de R$ 100. Desse total de apostadores, 70% são chefes de família, ou seja, quem de fato recebe o dinheiro transferido pelo governo. O grupo enviou R$ 2 bilhões por meio do Pix às bets em agosto.

Recentemente, o governo Lula proibiu o uso de cartão de crédito em apostas de alíquota fixa, que englobam apostas esportivas (as chamadas bets) e jogos online, a partir de janeiro de 2025.

O presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Isaac Sidney, no entanto, vem defendendo que a proibição do pagamento com cartões de crédito em bets seja adiantada, citando preocupações dos bancos com o aumento da inadimplência e, consequentemente, do custo do crédito.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também associa o vício em apostas a uma pandemia. No primeiro semestre do ano passado, no início do governo Lula, a Fazenda enviou uma medida provisória para o Congresso Nacional a fim de regulamentar as apostas eletrônicas.

“Para botar ordem no caos que se instalou no país com essa verdadeira pandemia”, disse Haddad.

“A medida provisória, infelizmente, não foi votada e caducou. Nós aproveitamos um outro projeto de lei e, no final do ano passado, conseguimos incluir nesse outro projeto de lei o texto dessa medida provisória que havia caducado. Justamente para colocar ordem no assunto.”

De acordo com o ministro, Lula já pediu providências de todos os ministérios envolvidos — Fazenda, Saúde, Desenvolvimento Social, Esporte — para coibir a lavagem de dinheiro e tratar a questão da dependência em bets, se preciso.

Segundo Haddad, haverá o monitoramento, “CPF por CPF, de quanto a pessoa está apostando e de quanto ela está recebendo em prêmios”.

O governo também vai acompanhar o meio de pagamento utilizado, a favor de coibir o endividamento por jogo. O ministro prometeu ainda banir as empresas não credenciadas. “Centenas de casas do mundo inteiro não terão mais acesso à nuvem brasileira”, disse.

 

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