Embora o presidente Jair Bolsonaro (PL) tenha dito em entrevistas recentes que não existe fome no Brasil, parte da população brasileira coloca na conta de seu governo a responsabilidade pelos 33 milhões de famintos no país. Pesquisa Ipec (ex-Ibope) feita a pedido do jornal O Globo mostra que 34% dos entrevistados acreditam que a gestão Bolsonaro é a principal culpada pela situação.
Em duas ocasiões, o presidente, que é candidato à reeleição, negou que haja fome no Brasil. Na primeira vez, Bolsonaro disse a um programa da Jovem Pan que “não existe (fome no Brasil) da forma como é falado”. No primeiro debate de presidenciáveis transmitido pela TV Bandeirantes, ele foi questionado sobre a fala por Ciro Gomes, candidato pelo PDT, e tergiversou na resposta.
Depois, em outra entrevista, concedida a um podcast, Bolsonaro disse que não há “fome pra valer” no Brasil, e questionou os dados que apontam mais de 33 milhões de pessoas famintas no país. “Fome no Brasil? Fome pra valer? Não existe da forma como é falado”, alegou Bolsonaro. “O que é a extrema pobreza? É você ganhar até US$ 1,9 dólar por dia? Isso dá R$ 10. O Auxílio Brasil são R$ 20. Então, quem porventura está no mapa da fome pode se cadastrar e vai receber. Não tem fila. São 20 milhões de famílias que ganham isso aí!”, disse Bolsonaro, mais uma vez, dizendo inverdades sobre o benefício.
Foi amplamente noticiado pela imprensa sobre a “fila da fila” de brasileiros em situação de vulnerabilidade para receber o Auxílio Brasil. Além disso, o projeto da LOA (Lei Orçamentária Anual), encaminhado pelo presidente ao Congresso no fim de agosto, prevê corte de 95% das verbas do Suas (Sistema Único de Assistência Social), que reúne a rede de proteção social prestada pelos municípios às populações carentes. É pelo Suas que as prefeituras fazem a gestão do CadÚnico (Cadastro Único), por meio do qual se selecionam os benefícios do Auxílio Brasil, por exemplo.
Em relação à pesquisa Ipec, a atribuição da responsabilidade pela fome à gestão Bolsonaro (PL) varia conforme o grau de apoio ao presidente. No Nordeste, por exemplo, onde Bolsonaro tem desempenho eleitoral abaixo de sua média, a culpa atribuída ao governo é maior: 38%. Por outro lado, entre os evangélicos, grupo em que Bolsonaro aparece à frente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas de intenção de votos, a parcela de culpa cai pela metade: 17%.
Além de culpar o governo pela fome no Brasil, brasileiros cobram de Bolsonaro criação de empregos
A pesquisa Ipec realizada a pedido do jornal O Globo mostra ainda que os brasileiros entrevistados apontam um caminho para solucionar o problema da fome no Brasil. Na opinião de 78% deles, o governo deveria criar mais postos de trabalho. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam que a taxa de desemprego no país está em 9,1%.
O trabalho, inclusive, é mais importante para os entrevistados do que dar alimentos e moradia, ao contrário do que tem feito o governo Bolsonaro, que tem lançado mão de medidas eleitoreiras para impulsionar seu nome nas pesquisas de intenções de votos, onde aparece em segundo lugar, atrás do presidente Lula.
Aliás, em seu programa eleitoral na TV, Bolsonaro tem prometido aumentar o Auxílio Brasil para R$ 800 a quem arranjar emprego em um verdadeiro contrassenso. O valor é R$ 200 acima dos R$ 600 pagos até dezembro deste ano e quase o dobro dos R$ 405 previstos no Orçamento de 2023 encaminhado ao Congresso.
Bolsonaro vem prometendo aumentar o benefício sem dizer de onde vai tirar o dinheiro, agindo, portanto, de má fé com aqueles em situação de vulnerabilidade social, em mais uma manobra eleitoreira. Atualmente, a regra para quando algum membro da família consegue emprego formal é de que a pessoa poderá continuar recebendo o benefício se a renda familiar não ultrapassar R$ 525 por mês.
Enquanto 78% dos entrevistados da Ipec querem emprego, cerca de 40% citam dar alimentos e moradia como solução para o problema da fome. No Nordeste, região com mais pessoas na pobreza, é maior o apoio a políticas assistenciais.
Juntas, a pobreza, a fome e a miséria foram apontadas por 17% dos entrevistados como um dos três maiores problemas do país, empatada com segurança pública e violência e atrás de desemprego, corrupção, saúde, educação e inflação. De acordo com a reportagem de O Globo, o percentual representa a opinião de 29 milhões de brasileiros. Há quatro anos, 11,5 milhões diziam o mesmo.
Já no recorte por gênero da pesquisa, pobreza, fome e miséria foram citadas por 20% das mulheres ante 14% dos homens deles. O resultado reforça o argumento de quem vê a “feminização” da fome no país, segundo O Globo.
Da Redação do ICL Economia
Com informações de O Globo
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