ICL Notícias

Por Bia Abramo

O brasileiro Habib Ghandour, que mora no Líbano desde 2008, não pensa em voltar para o Brasil, apesar dos ataques israelenses ao país terem entrado em nova fase na segunda-feira (30). Gandhour, que viu explosões a cerca de 1 km de onde mora, fez críticas ao voo de repatriação do governo brasileiro.

“Não há data prevista para resgate. E eles dizem resgate apenas. Ao chegar no Brasil não darão nenhuma assistência? E se resolver voltar depois não é da conta deles também”, afirmou, em entrevista ao ICL Notícias. “Tem gente que perdeu casa, trabalho e tudo que tem aqui. Chega no Brasil faz o quê?  Pede esmola? Tem pessoas, por exemplo, que não tem onde ficar no Brasil. Ficam na rua?”.

Embora o palco do conflito esteja distante de onde mora — no Vale de Beca, perto de Zalé, terceira maior cidade do Líbano, a 50 quilômetros da capital Beirute –, na segunda-feira (30) foram registradas explosões a cerca de 1 km de onde vive. “O povo está fugindo para cá”, conta.

Gandhour vive no Líbano desde 2008, com a esposa e uma filha de 14 anos. “Ela está na nona série e deveria ter iniciado as aulas. Por causa disso, agora todas as escolas estão fechadas. Tenho uma outra filha que casou há pouco tempo e estava em visita aqui quando começaram os ataques. Tenho também um irmão com a família dele, esposa e três filhos, também são brasileiros”.

Na região em que mora, ele diz que, por enquanto, a situação ainda está sob controle. “Até o momento eletricidade ainda tem. Água, todos compram por não ter sempre.” A preocupação, diz, é a chegada do inverno: “Aqui é uma região fria, precisa de diesel pra se aquecer”.

Gandhour explica melhor como está a situação dos brasileiros que vivem no Líbano: “Os brasileiros que vivem aqui no Líbano, a maioria trabalha e tem comércio. Quem não tem comércio, tem alguém no Brasil que manda o que necessita de dinheiro mensal ou através de pessoas que vêm do Brasil para cá. Na região em que eu vivo, por enquanto estão todos em casa. Quem está trabalhando está se mantendo, por enquanto”.

“Há muitas famílias brasileiras que vivem no sul do Líbano, que praticamente foi destruído. Essas famílias ou conseguiram viajar e voltar para o Brasil ou então conseguiram ir para outras regiões”, continua.

Israel iniciou ofensiva terrestre no Sul do Líbano em 30 de setembro (Foto: AFP)

A proximidade da guerra

“O perigo seria se começarem os ataques aqui na minha região”, diz. Quando isso acontece, afirma Gandhour, “você não consegue nem tirar sua roupa de casa, imagina então o seu comércio. Mercadoria não vira dinheiro na hora, tem que vender para se transformar em dinheiro.”

Sobre os conflitos na região, Gandhour opina: “A guerra é inevitável porque existe ocupação de territórios e porque as resoluções da ONU contra Israel nunca se põe em prática. Isso as aprovadas, nem direi nada sobre o vetos americanos…”

“Quem entrou em guerra foi um partido armado aqui pelo Irã e que levou o país todo para uma guerra. Essa é a verdade. Sem maquiagem”, continua. “A região aqui sempre foi turbulenta por causa da ocupação de Israel de territórios do Líbano, da Palestina e da Síria. São três países que tem territórios ocupados, três países vizinhos. Sempre haverá guerra enquanto não se resolver a situação dessas ocupações e, enquanto isso, o povo desses três países vai sempre lutar para reaver as terras deles”.

Gandhour diz que prefere seguir vivendo por lá, a não ser que os ataques se intensifiquem. “Se voltar o clima de paz, com certeza continuarei aqui. Agora, se sentir que haverá um perigo de morte, claro que iremos sair, porque a vida é a coisa mais cara que a gente tem”.

Repatriação: 1,2 mil brasileiros pediram resgate

Gandhour e sua família preencheram os formulários disponibilizados pela embaixada do Brasil no Líbano, para pedidos de resgate desde o dia 23 de setembro. O Brasil já recebeu cerca de 1,2 mil pedidos de repatriação de brasileiros que estão no Líbano, segundo o Itamaraty.

Perguntado o que governo deveria oferecer aos repatriados, Gandhour sugere medidas de assistência para “quem não tem para onde ir, quem não tem parentes aí no Brasil… Uma casa para morar durante um tempo até se estabilizar e arrumar um emprego, arrumar um trabalho, não ser jogado na rua.”

“Não sei também se seria possível ter ajuda financeira para quem pretende fazer algum negócio aí através de empréstimos, com juros mais baixos, para a pessoa reiniciar sua vida”, acrescenta. “Isso aí depende da economia do país, do que ele aguenta ajudar”.

 

 

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