Por Josué Seixas
(Folhapress) — A casa de um dos moradores da área afetada pela mineração da Braskem em Maceió foi incendiada durante a madrugada desta terça-feira (8). Não havia pessoas no imóvel e ninguém se feriu. A residência pertence ao coordenador-geral do Movimento Unificado das Vítimas da Braskem (MUVB), Cássio de Araújo Silva, de 60 anos.
Ele afirma que recebeu uma ligação durante a madrugada informando que sua casa estava em chamas. Cássio teve de deixar o imóvel em novembro do ano passado, quando uma das minas da petroquímica ainda corria risco de colapsar — a mina 18 desabou no meio de dezembro. Ela está localizada no bairro do Pinheiro, um dos cinco afetados pela mineração da Braskem em Maceió.
Esse é considerado o maior desastre ambiental em área urbana do país. Os primeiros tremores de terra foram registrados em 2018, com afundamentos no solo e rachaduras em imóveis.
Ao menos 40 mil pessoas dos cinco bairros atingidos tiveram que ser relocadas.
Procurador do Ministério Público do Trabalho (MPT), Cássio estima um prejuízo de R$ 6 milhões, uma vez que possuía cerca de 20 mil livros ainda armazenados no local. Recentemente, a Braskem exerceu a liquidação de sentença na Justiça e um perito avaliou o imóvel para que se chegasse a um acordo, mas esse laudo ainda não foi entregue.
Até aqui, Cássio negou três propostas da petroquímica, afirmando que os valores são irrisórios para a compra de um imóvel semelhante. Com a pressão na Justiça, ele espera que se chegue a um valor razoável para seguir sua vida.
“É preciso que se entenda que eu nunca coloquei meu imóvel à venda. Não queria vendê-lo, na verdade. Uma proposta justa, eu aceito. As imposições da Braskem, não”, contou ele à reportagem.
‘Braskem tinha o dever de guardar as casas evacuadas’
Cássio afirma acreditar em incêndio criminoso. O Corpo de Bombeiros de Alagoas confirmou que se tratou de um incêndio de médias proporções, no primeiro andar da residência e que abrigava muitos materiais inflamáveis, como livros. Houve reignição nesta manhã, mas as equipes conseguiram fazer a contenção novamente.
Segundo o promotor, o suposto criminoso teria tentado entrar na casa pela garagem, que havia tido os portões reforçados recentemente, e não conseguiu. Por isso, a alternativa foi invadir a casa pelo alçapão, o que explicaria o incêndio ter acometido somente o primeiro andar.
“Existe o criminoso que vai roubar. Esse aqui, sem dúvidas, veio para incendiar. Foi encontrada uma garrafa de álcool. A Braskem tinha o dever de guardar as casas evacuadas e não garantiu essa segurança aqui”, disse.
Ao coordenador-geral do MUVB, foi recomendado não se deslocar ao primeiro andar em razão dos gases tóxicos e da fumaça.
Ele garantiu que fará um boletim de ocorrência assim que deixar o imóvel e ingressará com ação judicial para cobrar da Braskem, que não teria cumprido o dever de guarda da residência.
A casa de Cássio foi visitada pela Folha de S.Paulo em 29 de novembro de 2023, dia em que foi interditada por conta do risco de colapso da mina 18.
A Polícia Civil de Alagoas somente pode iniciar as investigações quando o boletim de ocorrência for registrado.
Por meio de nota, a Braskem afirmou que ‘os Bombeiros podem prestar informações técnicas sobre o possível motivo do incêndio’.
Segundo a petroquímica, foi disponibilizado ao proprietário do imóvel todo o suporte do Programa de Compensação Financeira e Apoio à Realocação (PCF), a exemplo de guarda-volumes para acondicionamento de todos os pertences, custos com mudança, pagamento de auxílios financeiros e diversos serviços gratuitos, como o apoio psicológico. Ele não aceitou os auxílios.
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