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Juliana Dal Piva

Formada pela UFSC com mestrado no CPDOC da FGV-Rio. Foi repórter especial do jornal O Globo e colunista do portal UOL. É apresentadora do podcast "A vida secreta do Jair" e autora do livro "O negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro", da editora Zahar, finalista do prêmio Jabuti de 2023.

Caso Kathlen Romeu: governo Lula vai pressionar autoridades do Rio por punição a PMs

Jovem negra de 24 anos estava grávida de três meses quando foi baleada por policiais em favela no RJ
05/06/2024 | 20h13

Por Igor Mello

Após três anos sem avanços no Judiciário do Rio de Janeiro, o governo Lula vai cobrar das autoridades fluminenses providências para que os PMs envolvidos na morte da jovem Kathlen Romeu, grávida de 3 meses quando foi baleada, sejam punidos. O crime, ocorrido em 2021, teve repercussão internacional.

Durante encontro com a mãe de Kathlen, Jacklline Lopes, o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, se comprometeu a enviar ao Rio na semana que vem uma comitiva liderada pela ouvidora nacional dos Direitos Humanos, Luzia Paula Moraes Cantal.

A ideia da pasta é ter reuniões com o presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, o desembargador Ricardo Rodrigues Cardozo, e o procurador-geral de Justiça, Luciano Mattos.

A ministra Anielle Franco (Igualdade Racial) também irá oficiar os dois órgãos e a Polícia Militar cobrando o afastamento das ruas dos cinco policiais envolvidos no crime, além de celeridade na condução dos processos contra eles, tanto na esfera criminal, quanto administrativa.

Além de processos na Justiça, eles também são alvos de procedimentos internos na PM. Mesmo assim, ao menos três deles seguem nas ruas, segundo fontes relacionadas ao caso.

Além da mãe de Kathlen, a comitiva também contou com a presença do deputado federal Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) e de Gabriel Siqueira — amigo da jovem e diretor de Políticas Públicas da Federação das Favelas do Rio de Janeiro (Faferj).

O grupo também foi recebido pelo ministro Ricardo Lewandovski (Justiça) e esteve na Câmara dos Deputados, onde se reuniu com a presidente da Comissão de Direitos Humanos, Daiana Santos (PCdoB-RS).

“Eu me senti acolhida pelos ministérios. Pude perceber que há uma sensibilidade e comprometimento com a causa de justiça para minha filha Kathlen Romeu e seu bebê. Empatia e sensibilidade não trazem justiça, mas os ministros e autoridades se comprometeram com ações concretas para reparação, para que casos como o meu não se repitam. Os ministros entenderam a urgência e necessidade resolução do caso, servindo de precedente para preservação de vidas”, afirmou Jacklline Lopes, mãe da jovem assassinada.

Ninguém foi preso pelo assassinato de Kathlen

Passados quase três anos do assassinato, nenhum dos policiais envolvidos na morte de Kathlen Romeu foi preso ou punido. Designer de interiores, modelo e vendedora de uma famosa grife carioca, ela tinha 24 anos quando foi atingida pelos PMs enquanto caminhava ao lado da avó, por volta das 14h, em uma rua do Complexo do Lins, na zona norte do Rio. Não havia confronto no momento em que ela foi atingida.

Dois deles — os cabos Rodrigo Correia de Frias e Marcos Felipe da Silva Salviano — foram denunciados pelo MP-RJ por homicídio em julho de 2022, mas até agora não houve decisão sobre a pronúncia deles pelo Judiciário do Rio — a decisão manda os réus de crimes contra a vida para o júri popular.

Frias e Salviano também foram denunciados por fraude processual, ao lado de três outros PMs: o capitão Jeanderson Corrêa Sodré, que comandava o grupo, o 3º sargento Rafael Chaves de Oliveira e o cabo Cláudio da Silva Scanfela.

Segundo o MP, eles alteraram deliberadamente a cena do crime para simular que houve confronto com criminosos — tese que foi desmentida por laudos periciais feitos durante as investigações.

Junto com a denúncia, o MP requereu a prisão dos policiais, mas o pedido foi negado pela Justiça.

O MP acusa os cinco policiais de acrescentarem à cena do crime 12 cartuchos deflagrados de munição calibre 9 mm e um carregador de fuzil calibre 556 x 45 mm — os itens colocados por eles antes da chegada da perícia e posteriormente apresentados como falsas evidências na 26ª DP (Todos os Santos).

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