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Por Julia Chaib

(Folhapress) — A Polícia Federal analisa dados encontrados em celulares do advogado Frederick Wassef para concluir o inquérito sobre a venda de joias pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A expectativa era que o relatório a respeito do caso ficasse pronto nesta semana, mas o desfecho deve ser adiado para a próxima por causa da análise das novas evidências.

Segundo um integrante da PF, o conteúdo encontrado em dois aparelhos do ex-advogado de Bolsonaro ajuda nas investigações.

Os celulares — quatro no total — foram apreendidos em agosto do ano passado, durante uma busca e apreensão realizada em um restaurante em São Paulo. Investigadores precisaram quebrar as senhas para acessar o teor dos aparelhos.

A operação ocorreu dias após o advogado ter confirmado que comprou, nos Estados Unidos, um relógio da marca Rolex vendido pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro naquele país.

O Rolex foi um dos itens dados de presente ao governo brasileiro pelo governo da Arábia Saudita.

Os investigadores também confiscaram aparelhos de Mauro Cid e do pai dele, o general da reserva Mauro Lourena Cid, que auxiliaram nas transações.

As apurações apontam que o ex-presidente e aliados tentaram vender os artigos de luxo nos Estados Unidos e inclusive os levaram no avião presidencial em 30 de dezembro de 2022, quando Bolsonaro deixou Brasília e seguiu para Orlando.

Para a PF, o ex-presidente utilizou a estrutura do governo federal para desviar presentes de alto valor oferecidos a ele por autoridades estrangeiras.

Após o caso ser revelado, em 2023, o TCU (Tribunal de Contas da União) determinou que o ex-presidente devolvesse os presentes que ganhou.

general Lourena Cid

General Mauro Lourena Cid. Foto: Alesp

Wassef disse que comprou Rolex

Em agosto do ano passado, Wassef afirmou que comprou o Rolex nos Estados Unidos por iniciativa própria, sem pedido de Bolsonaro, e para atender ao TCU.

“O meu objetivo quando eu comprei esse relógio era exatamente para devolver à União, ao governo federal do Brasil, à Presidência da República, e isso, inclusive, por decisão do Tribunal de Contas”, afirmou Wassef, durante uma entrevista.

Na semana passada, o diretor da PF, Andrei Rodrigues, confirmou que investigadores descobriram uma nova joia que teria sido negociada por Bolsonaro nos Estados Unidos. Segundo ele, o novo elemento robustece as apurações sobre as transações de artigos de luxo feitas por Bolsonaro e seus aliados e configura um agravamento do caso.

“A nossa diligência localizou que, além dessas joias que já sabíamos que existiam, houve negociação de outra joia que não estava no foco dessa investigação. Não sei se ela já foi vendida ou não foi. Mas houve o encontro de um novo bem vendido ou tentado ser vendido no exterior”, afirmou Andrei.

Tanto Cid como seu pai foram interrogados a respeito do novo item encontrado, mas negaram ter conhecimento do caso. Segundo investigadores, os dois prestaram oitiva em mais de uma vez e ora colaboraram, ora disseram não conhecer o assunto sobre o qual eram questionados.

A defesa de Bolsonaro afirma que o ex-presidente jamais se apropriou de qualquer bem público e que ele “voluntariamente” pediu ao TCU em abril de 2024 a entrega de joias recebidas “até final decisão sobre seu tratamento, o que de fato foi feito”.

O próprio ex-presidente disse querer esclarecer o caso “o mais rápido possível”, e que não ordenou a venda de nenhum item.

Em depoimento dado à PF, Bolsonaro afirmou ter tido conhecimento sobre as joias apreendidas na Receita 14 meses após o ocorrido. Segundo a defesa, após saber do caso, em dezembro de 2022, Bolsonaro buscou informações para evitar um suposto vexame diplomático caso os presentes fossem a leilão.

 

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