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Juliana Dal Piva

Formada pela UFSC com mestrado no CPDOC da FGV-Rio. Foi repórter especial do jornal O Globo e colunista do portal UOL. É apresentadora do podcast "A vida secreta do Jair" e autora do livro "O negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro", da editora Zahar, finalista do prêmio Jabuti de 2023.

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Cid elaborou plano de fuga de Bolsonaro para o exterior em 2021, afirma PF

PF encontrou arquivo de Power Point no computador de Mauro Cid prevendo a fuga de Bolsonaro do Brasil
26/11/2024 | 18h19

Igor Mello

O tenente-coronel Mauro Cid elaborou um plano de fuga do Brasil para o ex-presidente Jair Bolsonaro caso o golpe de Estado não desse certo, segundo a PF (Polícia Federal).

O plano foi elaborado em 2021, quando Bolsonaro tensionava a relação com o STF (Supremo Tribunal Federal), mas só foi posto em prática nos últimos dias de 2022, quando Bolsonaro abandonou a Presidência e foi para os Estados Unidos.

Bolsonaro deixou o país em 30 de dezembro de 2022, um dia antes do fim de seu mandato. Para que a viagem fosse viabilizada, Cid articulou a falsificação de certificados de vacinação contra a covid-19 para Bolsonaro e sua filha Laura Bolsonaro. Cid, sua esposa e suas três filhas também se beneficiaram do esquema.

“Apesar de não empregada no ano de 2021, o plano de fuga foi adaptado e utilizado no final do ano de 2022, quando a organização criminosa não obteve êxito na consumação do golpe de Estado. Conforme será descrito nos próximos tópicos, JAIR BOLSONARO, após não conseguirem o apoio das Forças Armadas para consumar a ruptura institucional, saiu do país, para evitar uma possível prisão e aguardar o desfecho dos atos golpistas do dia 08 de janeiro de 2023  (“festa da Selma”)”, conclui a PF.

Fuga em Power Point

A PF encontrou no computador de Mauro Cid um arquivo de Power Point detalhando o plano de fuga, elaborado com base na doutrina militar.

O arquivo foi batizado de Rafe/Lafe, siglas militares que significam, respectivamente, “rede de auxílio à fuga e evasão” e “linha de auxílio à fuga e evasão” –dois conceitos militares.

O arquivo foi criado em 22 de março de 2021, quando Bolsonaro mantinha atritos com o Judiciário, entre outros motivos, pelas ações de combate à pandemia de Covid-19.

Cid traça três cenários para justificar a fuga de Bolsonaro:

  • STF interfere no Executivo.
  • STF cassa a chapa [de Bolsonaro] para 22.
  • STF (TSE) barra a PEC aprovada pelo Congresso do voto impresso.

Meses depois, em agosto de 2021, a Câmara dos Deputados rejeitou a PEC do Voto Impresso, apesar das ameaças de caráter golpista feitas por Bolsonaro e por seus apoiadores.

Nesses três cenários, Cid passa a tratar da hipótese desobedecer determinações do STF — como de fato ameaçou fazer durante o ato de 7 de setembro de 2021, na avenida Paulista.

O ajudante de ordens então especula que Bolsonaro não teria o apoio formal do Exército nesse caso.  A partir daí, traça medidas para proteger Bolsonaro:

  • Proteção do Pr (presidente da República) no Planalto e Alvorada — SEM APOIO DO GSI.
  • Condições de ocupar Etta Estrg como forma dissuasória para mostrar apoio ao Pr.
  • ECD exfiltrar o Pr para fora do país.

Segundo os investigadores, Etta Estrg se refere a estrutura estratégica, são “instalações, serviços, bens e sistemas que, se forem interrompidos ou destruídos, provocarão sério impacto social, ambiental, econômico, político, internacional ou à segurança do Estado e da sociedade”.

Já a sigla ECD significa “em condições de” e, nesse caso, se refere a armamento para pronto emprego. Cid cogita inclusive a instalação de um cofre para manter o armamento, que seria utilizado por agentes do GSI cooptados previamente.

A PF detalha: “Dentro do contexto planejado, um dos objetivos era a ocupação de estruturas estratégicas por militares que tivessem aderidos ao intento golpista, para mostrar apoio ao então presidente JAIR BOLSONARO e com isso, possivelmente, inibir qualquer ação do Estado decretada pelo Poder Judiciário”.

A estratégia de Cid prevê também que militares cooptados no golpe se engajassem em uma rede de proteção para viabilizar a saída de Bolsonaro do Brasil.

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