Igor Mello
O tenente-coronel Mauro Cid elaborou um plano de fuga do Brasil para o ex-presidente Jair Bolsonaro caso o golpe de Estado não desse certo, segundo a PF (Polícia Federal).
O plano foi elaborado em 2021, quando Bolsonaro tensionava a relação com o STF (Supremo Tribunal Federal), mas só foi posto em prática nos últimos dias de 2022, quando Bolsonaro abandonou a Presidência e foi para os Estados Unidos.
Bolsonaro deixou o país em 30 de dezembro de 2022, um dia antes do fim de seu mandato. Para que a viagem fosse viabilizada, Cid articulou a falsificação de certificados de vacinação contra a covid-19 para Bolsonaro e sua filha Laura Bolsonaro. Cid, sua esposa e suas três filhas também se beneficiaram do esquema.
“Apesar de não empregada no ano de 2021, o plano de fuga foi adaptado e utilizado no final do ano de 2022, quando a organização criminosa não obteve êxito na consumação do golpe de Estado. Conforme será descrito nos próximos tópicos, JAIR BOLSONARO, após não conseguirem o apoio das Forças Armadas para consumar a ruptura institucional, saiu do país, para evitar uma possível prisão e aguardar o desfecho dos atos golpistas do dia 08 de janeiro de 2023 (“festa da Selma”)”, conclui a PF.
Fuga em Power Point
A PF encontrou no computador de Mauro Cid um arquivo de Power Point detalhando o plano de fuga, elaborado com base na doutrina militar.
O arquivo foi batizado de Rafe/Lafe, siglas militares que significam, respectivamente, “rede de auxílio à fuga e evasão” e “linha de auxílio à fuga e evasão” –dois conceitos militares.
O arquivo foi criado em 22 de março de 2021, quando Bolsonaro mantinha atritos com o Judiciário, entre outros motivos, pelas ações de combate à pandemia de Covid-19.
Cid traça três cenários para justificar a fuga de Bolsonaro:
- STF interfere no Executivo.
- STF cassa a chapa [de Bolsonaro] para 22.
- STF (TSE) barra a PEC aprovada pelo Congresso do voto impresso.
Meses depois, em agosto de 2021, a Câmara dos Deputados rejeitou a PEC do Voto Impresso, apesar das ameaças de caráter golpista feitas por Bolsonaro e por seus apoiadores.
Nesses três cenários, Cid passa a tratar da hipótese desobedecer determinações do STF — como de fato ameaçou fazer durante o ato de 7 de setembro de 2021, na avenida Paulista.
O ajudante de ordens então especula que Bolsonaro não teria o apoio formal do Exército nesse caso. A partir daí, traça medidas para proteger Bolsonaro:
- Proteção do Pr (presidente da República) no Planalto e Alvorada — SEM APOIO DO GSI.
- Condições de ocupar Etta Estrg como forma dissuasória para mostrar apoio ao Pr.
- ECD exfiltrar o Pr para fora do país.
Segundo os investigadores, Etta Estrg se refere a estrutura estratégica, são “instalações, serviços, bens e sistemas que, se forem interrompidos ou destruídos, provocarão sério impacto social, ambiental, econômico, político, internacional ou à segurança do Estado e da sociedade”.
Já a sigla ECD significa “em condições de” e, nesse caso, se refere a armamento para pronto emprego. Cid cogita inclusive a instalação de um cofre para manter o armamento, que seria utilizado por agentes do GSI cooptados previamente.
A PF detalha: “Dentro do contexto planejado, um dos objetivos era a ocupação de estruturas estratégicas por militares que tivessem aderidos ao intento golpista, para mostrar apoio ao então presidente JAIR BOLSONARO e com isso, possivelmente, inibir qualquer ação do Estado decretada pelo Poder Judiciário”.
A estratégia de Cid prevê também que militares cooptados no golpe se engajassem em uma rede de proteção para viabilizar a saída de Bolsonaro do Brasil.
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