A Polícia Federal e o Ministério Público Federal afirmam que há indícios de que o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), tenha participado, no fim de 2016, de um esquema de rachadinha para a compra de um carro. Na ocasião, ele teria usado parte do salário de um funcionário fantasma da Câmara Municipal do Rio para efetuar o pagamento de parcelas do veículo. A informação é Folha de S. Paulo.
De acordo com o jornal, a suspeita consta da decisão do ministro Raul Araújo, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O magistrado autorizou a PF a cumprir, na última quarta-feira (20), mandados de busca e apreensão contra o irmão de criação do governador, Vinícius Sarciá Rocha, e outras duas pessoas.
Segundo a PF e o MPF, o empresário Marcus Vinícius Azevedo da Silva teria ajudado o atual governador a “adquirir um carro” logo após as eleições municipais de 2016. Na época, o Castro tinha acabado de ser eleito vereador pela cidade do Rio de Janeiro.
TRACKER
Durante as investigações, a PF encontrou mensagens que mostrariam Marcus Vinicius em negociações com o dono de uma revendedora para a compra de um modelo Tracker. Segundo as apurações, R$ 20 mil seriam dados de entrada e o financiamento ficaria em nove parcelas de R$ 7,5 mil.
Ainda de acordo com a PF, na semana seguinte, Marcus Vinícius enviou mensagens para um suposto operador financeiro pedindo a emissão de “9 cheques vencendo a partir de 20 de janeiro”. “Compra do carro do Cláudio, ele nos ressarce”, escreveu o empresário.
MENSAGENS
As investigações apontam que, em 24 de março de 2017, Marcus Vinicius foi cedido ao gabinete de Cláudio Castro na Câmara Municipal do Rio. Segundo a PF, conversas mantidas entre o empresário e Vinícius Sarciá Rocha mostram, “indicativo da ausência de efetiva prestação de serviços [de Marcus no gabinete] e da utilização do salário para quitação da dívida originária da aquisição do veículo”.
De acordo com a PF, em outra mensagem, Sarciá escreve a Marcus Vinícius que o “contracheque deve estar lá. Você quer que eu abra e te mande foto? Posso ver o valor e depositar só o restante?”, diz.
Em seguida, segundo as investigações, Marcus Vinícius pede que Sarciá “veja primeiro com Cláudio se o valor da Câmara não é pro Fred. Se não for mesmo, pode abater sim”, responde.
GABINETE
De acordo com a Folha de S. Paulo, a PF conseguiu indicações de que Marcus Vinícius não trabalhava efetivamente na Câmara e pedia para Sarciá para fraudar o registro de presença.
Segundo o ministro Raul Araújo, “tal comportamento, conforme apontado pela autoridade policial, é indicativo da ausência de efetiva presença no ambiente de trabalho da Câmara de Vereadores”.
GOVERNADOR
Em nota, o governo do Estado do Rio de Janeiro afirmou que “as informações não passam de acusações infundadas, velhas e requentadas, muitas delas já exaustivamente publicadas pela própria mídia. Em dezembro de 2016, data na qual teria ocorrido o suposto fato, Cláudio Castro nem tinha mandato político. Ele tomou posse como vereador apenas em 2017”.
“As medidas cautelares, executadas quatro anos depois da abertura da investigação, reforçam o que o governador Cláudio Castro vem dizendo há anos, ou seja, que não há nada contra ele, nenhuma prova, e que tudo se resume a uma delação criminosa, de um réu confesso, que vem sendo contestada judicialmente”, informou a assessoria do governo do estado.
DELAÇÃO
Marcus Vinícius Azevedo da Silva fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal em 2020. A colaboração foi acertada logo após ele ser preso na Operação Catarata, que mirou desvios em projetos sociais tocados pela Prefeitura do Rio e o governo do estado.
Na delação, Marcus Vinícius afirma que o governador Cláudio Castro recebeu propina quando era vereador (2017 e 2018) e após se tornar vice-governador de Wilson Witzel, em 2019.
Deixe um comentário