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Com região sob turbulência, Mercosul se reúne buscando manter unidade

Brasil recebe líderes da América do Sul e retoma Mercosul Social depois de sete anos; fontes do governo avaliam que entrada da Bolívia no bloco pode fortalecer participação
06/12/2023 | 14h07

Por Lucas Rocha 

Sob a presidência temporária do Brasil, os países membros do Mercosul estão reunidos esta semana no Rio de Janeiro. A série de eventos tem objetivo de debater o futuro do bloco em meio a um período turbulento na relação entre as nações. O polêmico acordo com a União Europeia, a chegada de Javier Milei à Presidência da Argentina e o possível embate entre Venezuela e Guiana sobre a região de Essequibo são temas que mostram uma América do Sul em turbulência e exigem esforço dos países para manter a unidade.

Depois de sete anos, o Brasil fez um esforço para retomar a realização da Cúpula do Mercosul Social, que reúne movimentos sociais do cone sul para debater temas como fome, desemprego e direitos humanos. Fontes do governo ouvidas pela reportagem afirmam que a avaliação da equipe de Lula é de que foi um passo importante retomar esse espaço, apesar de uma série de limitações que a cúpula enfrentou. Restrições orçamentárias e a inércia acumulada no período anterior foram alguns desses desafios.

Para o governo, é importante a retomada desse espaço de participação social, apesar de não se saber se o processo continuará.

A realização da Cúpula Social é uma obrigação, mas não vinha sendo cumprida. A expectativa do governo brasileiro é que a entrada da Bolívia no bloco fortaleça a demanda por participação social e garanta a continuidade das cúpulas do Mercosul Social.

Em declaração divulgada ao final do encontro, movimentos sociais cobraram o aprofundamento da institucionalização dos processos participativos no Mercosul e criticaram diretamente o acordo com a União Europeia, que segue com entraves para a efetivação diante das críticas que enfrenta. O texto será apresentado na Cúpula de Chefes de Estado, na quinta-feira (7).

“Esta Cúpula Social se apresentou como um momento em que as organizações da sociedade civil expressaram e exigiram nossa demanda histórica de deter o Acordo UE-MERCOSUL, cuja concretização significaria o aprofundamento do modelo capitalista, extrativista, colonialista, patriarcal, racista, fortalecendo as elites mais retrógradas e violentas de nossa região, ameaçando o ambiente e a sociobiodiversidade e colocando em risco a soberania de nossos povos e territórios”, afirmam os movimentos na declaração final.

“O que em uníssono fortalecemos como prioridade para o futuro do Mercosul é uma perspectiva de integração que esteja radicalmente comprometida com o enfrentamento da erosão democrática em nossos países e sustentada numa agenda que inclua como questão central a participação social e a escuta vinculante das vozes e povos nos territórios, em sua diversidade”, diz ainda a declaração.

Em discurso feito na abertura do conselho do Mercosul, o vice-presidente Geraldo Alckmin comentou sobre o acordo com a União Europeia. Segundo ele, houve “avanços importantes nas negociações entre Mercosul e União Europeia”.

“Destaco os compromissos de ambos os lados em prol de um entendimento equilibrado no futuro próximo e a partir das bases sólidas que construímos nos últimos meses de engajamento intenso”, disse.

No domingo, após se reunir com o presidente francês Emanuel Macron, o presidente Lula fez críticas à condução dos europeus nas negociações, dizendo que “os países ricos não querem fazer um acordo na perspectiva de fazer qualquer concessão, é sempre ganhar mais”.

“Nós não somos mais colonizados, nós somos independentes, nós queremos ser tratados apenas com o respeito de países independentes que temos coisas pra vender, e as coisas que temos têm preço. O que queremos é um certo equilíbrio”, disparou. “Se não tiver acordo, paciência, não foi por falta de vontade”.

Na reunião do conselho, Alckmin exaltou os esforços do Brasil na presidência do Mercosul e disse que sob o governo Lula, “o Mercosul está crescendo e se reafirmando no cenário internacional”. O vice-presidente exaltou o acordo de livre comércio com Singapura e a entrada da Bolívia como exemplos da expansão do bloco.

Além das dificuldades do acordo com a União Europeia, o Mercosul encara desafios com a chegada de Javier Milei à presidência da Argentina e com o possível agravamento do conflito entre Venezuela e Guiana. Durante as eleições, Milei disse que sacaria o país do bloco com seu discurso de liberalização total. Depois de eleito, recuou, mas a relação não deve ser nada fácil. Já o entrave pela região de Essequibo pode abalar o clima de paz na América do Sul caso escale para um conflito de maiores proporções. A Guiana é membro associado do bloco e terá representantes na reunião de líderes, na quinta-feira. A Venezuela chegou a fazer parte do Mercosul, mas foi suspensa em 2017.

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